"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

A CRISE EUROPÉIA DOS "REFUGIADOS" E A NECESSIDADE DE UMA DIREITA FORTE E VERDADEIRA


Uma direita que acerta no campo econômico mas erra em todo o resto está invariavelmente fadada ao fracasso e não merece nenhum apoio.


pegida
Manifestantes em marcha organizada pelo PEGIDA (Europeus Patriotas Contra a Islamização do Ocidente)
recebem jatos de água da polícia
.

O público brasileiro, carente de qualquer direita organizada, costuma enamorar-se com toda sorte de pretensos direitistas: centro-direitistas, social-democratas, democratas cristãos, liberais e até mesmo meros anticomunistas. Contudo, a crise “imigratória” da Europa tem ajudado a revelar as fraquezas desses ditos políticos “de direita”. Foram as políticas de Angela Merkel, da União Democrata-Cristã (CDU), de centro-direita, que arreganharam as fronteiras da Alemanha para talvez um punhado de refugiados genuínos, mas outros milhares de jihadistas, simpatizantes do ISIS, interessados unicamente em duas coisas: os benefícios do estado de bem-estar social europeu e a implementação de uma governança islâmica sobre o ocidente (concretizando as profecias próprias do islã e de seus teóricos, como Guénon e Qutb). Isso tudo não, sem antes, espetáculos de molestação pública de mulheres e arrastões, como vimos na virada de ano em Colônia (na própria Alemanha).
Mesmo depois do ocorrido em Colônia, e de tantos outros por toda a Europa, os políticos da dita direita não mudam sua postura. Seguem atinados à agenda politicamente correta, multicultural e anti-ocidental a que, invariavelmente, pertencem (na Suécia isso é fato estabelecido há bons tempos). Quanto à mídia, o quadro é o mesmo ou ainda pior (a BBC só relatou o ocorrido de Colônia pelo menos dois dias depois e diversos outros órgãos substituíram a expressão “refugiados muçulmanos” por “imigrantes do Norte da África” – como a Deutsche Welle, por exemplo). A prefeita de Colônia sugeriu, como solução para o problema a criação de um código de conduta para as mulheres. Um imã salafista da cidade afirmou que as mulheres foram estupradas porque elas estavam “seminuas e usando perfume”. Exatamente como no lamentável caso da Charlie Hebdo, onde o sangue dos cartunistas ainda estava quente quando políticos e analistas sociais já estavam preocupados com as eventuais “reações (sic) islamofóbicas” que os ataques gerariam. O ministro alemão da Justiça, pouco preocupado em investigar o caso, teme as reações “xenofóbicas” da “extrema-direita”. No parlamento britânico discute-se a possibilidade de impedir a entrada de Donald Trump na terra da rainha enquanto a pregação radical em escolas, universidades e mesquitas segue livre.
A polícia alemã, que pouco fez (ou estava autorizada a fazer) nos arrastões em Colônia, agiu e age de maneira ostensiva nas manifestações do grupo Pegida, que propõe restrições à imigração: Tommy Robinson, outra voz potente contra a imigração muçulmana para o Reino Unido e criador do “Pegida britânico” foi, recentemente (mais exatamente, dois dias depois de criar a organização), preso (enquanto o clérigo radical que propõe a implementação da sharia na Grã-Bretanha e nos EUA e ameaçou a ativista Pamela Geller ao vivo, Anjem Choudary, continua solto).
É nesse contexto que surge um pequeno, porém importante livro, escrito pelo sueco Daniel Friberg chamado “A verdadeira direita” (a ser publicado pela editora Simonsen, em tradução minha, com campanha decrowdfunding em andamento). Friberg é figura central e basilar para a existência de uma nova direita real na Suécia, sendo que sem Daniel ela provavelmente não existiria, conforme atesta seu amigo, sócio e prefaciador do livro, John Morgan. Considerando o laboratório de causas progressistas que é a Suécia, podemos certamente depreender o elevado mérito de Friberg não apenas por fazer manter algum pensamento de direita no país nórdico, mas bem como por fazer existir um pensamento de direita coeso, forte e ativo.
Três importantes e urgentes lições, tanto para direitistas europeus quanto brasileiros, podem ser deslindadas a partir do livro de Friberg (que tem por subtítulo, pertinentemente, “um manual para a oposição de verdade”): 1) uma direita forte não apenas é possível como é necessária, 2) a já moribunda e falsa direita pode e deve ser definitivamente rechaçada e 3) o caminho para a vitória da direita é pela via de uma batalha no terreno da “metapolítica”.
A Europa, ao menos, já teve uma direita forte, o que leva os teóricos da Nova Direita a se reportarem a políticos, pensadores e situações do passado que representaram bem a corrente de pensamento, ao passo que nós, brasileiros, não podemos ir tão longe*. Estamos, geralmente, acostumados a uma oposição insossa ao esquerdismo tão tipicamente latino, um anticomunismo de manual por parte dos sociais-democratas ou, nos servindo de um exemplo extraído da realidade atual para ilustrar o sentimento, um tímido antipetismo “democrático”; uma direita frágil, acuada, envergonhada e usuária dos cacoetes linguísticos da esquerda (e que, por isso, invariavelmente, pensa como ela).
Friberg mostra em seu livro como essa direita, já moribunda na Europa, pois não atende aos anseios das pessoas (segundo Friberg, por exemplo, embora os políticos “de direita” sejam partidários das políticas imigratórias malucas que têm levado à destruição da antiga cultura sueca e aos episódios ocorridos em Colônia, uma fatia considerável do povo sueco é favorável a políticas imigratórias restritivas, carecendo apenas de uma representação política que faça jus à sua vontade) deve ser absolutamente rechaçada e extirpada da vida política séria para que os problemas mais urgentes da realidade política atual sejam superados; tanto essa direita fraca quanto a esquerda são culpadas pelos problemas que assolam o continente europeu no momento.
Em determinada altura do livro, Friberg dá, literalmente, dicas práticas de como lidar com esquerdistas militantes hostis, como reagir a um jornalista militante de esquerda que bate à sua porta etc.; e a lição é bastante simples, a direita pode e deve ser forte, o que inclui uma militância ativa e ostensiva: Friberg é criador do empreendimento “Motpol”, que, além de assessorar vítimas de assédio ideológico esquerdista (algo extremamente comum na Suécia), é uma força crescente na imprensa, na área editorial, como think-tank e cresceu vertiginosamente em diversas outras atividades ao longo de sua década de existência completada em 2015.
E ainda mais importante, Freiberg é enfático em afirmar que para a direita vencer a guerra, o campo de batalha é a cultura ou, conforme Friberg chama, a “metapolítica”. Não se trata de meramente ganhar eleições, ocupar parlamentos, enfim, vencer a “política de rua”, é mister que as instituições produtoras de cultura sejam retiradas da alçada do esquerdismo radical. Escolas, universidades, imprensa, editoras etc. devem voltar a servir os interesses genuínos das pessoas e não à agenda do progressismo frankfurtiano e da estratégia gramscista. No livro, Friberg oferece todo o passo-a-passo de como essa ofensiva cultural de direita deve ser empreendida para que obtenha sucesso.
Os episódios que chamei a atenção no início do artigo mostram como o diagnóstico de Friberg é preciso: a esquerda preparou o terreno cultural para (entre outras coisas, evidentemente) a aceitação de políticas de imigração em massa, por exemplo, acusando todos que discordam dela de “fascista”, “racista” ou “nazista” e a dita direita, covarde, acuada e cúmplice, sorveu tudo que veio desse caldo politicamente correto que escorreu das universidades sob a alcunha de “multiculturalismo” e de “politicamente correto”, autorizando legal e moralmente a coisa toda. Uma direita que acerta no campo econômico (vale novamente o exemplo alemão, a mesma Merkel que abriu as fronteiras para qualquer um é o principal bastião da ortodoxia e da austeridade econômica) mas erra em todo o resto está invariavelmente fadada ao fracasso e não merece nenhum apoio consistente.

* Para ser justo, Friberg cita no livro a figura de Plinio Correa de Oliveira (1908-1995) como um importante representante das ideias contra-revolucionárias.
06 de fevereiro de 2016
André Assi Barreto é mestre em Filosofia, professor, tradutor e assessor editorial.
www.andreassibarreto.org

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