O comentarista Luis Hipolito Borges reclamou na Tribuna da Internet que não se discute economia, apenas política rasteira. Sugeriu que se abrisse aqui um debate mais amplo sobre temas econômicos. Ao mesmo tempo, no Estadão, o cientista político Lucas Ambrózio fez idêntica proposta, ao escrever um importante artigo sobre o Plano Plurianual do governo Dilma Rousseff para o período 2016/2019, recentemente sancionado e que passou em branco, sem qualquer discussão a respeito.
Como se sabe, o Plano Plurianual estabelece o planejamento orçamentário, elegendo as prioridades administrativas que se pretende concretizar. No caso do atual governo, trata-se de uma obra de ficção, sabe-se que não há programa algum, não existe planejamento, prioridades, vive-se uma realidade virtual, alimentada a factóides e manobras de marketing.
Não espanta que nos últimos dez anos o marqueteiro João Santana tenha recebido do PT a invejável quantia de R$ 160 milhões – uma média de R$ 16 milhões por ano, nada mal. Na verdade, sai até barato, porque é Santana quem ganha as eleições e sustenta o governo. Sempre que ele se afasta, a República estremece.
NÃO HÁ PLANO DE GOVERNO
Voltando à vida real, não existe plano de governo desde o início da chamada Nova República. Os militares tinham esta estranha mania de planejar, estabelecer prioridades, como ocorreu no governo de Juscelino Kubitschek. No Brasil, o último plano de que se tem notícia foi feito pelo então ministro Reis Veloso no governo Figueiredo, mas ficou no papel.
Quando a democracia foi restabelecida, o presidente eleito Tancredo Neves até que tinha um esboço de programa. Vivíamos uma crise econômica e a primeira orientação ao Ministério era sintomática – “É proibido gastar”. Mas dr. Tancredo nem tomou posse, e o vice Sarney se equilibrou no poder durante cinco anos, nunca se interessou em planejar o governo.
O mesmo fenômeno ocorreu com os governos de Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. O melhor deles, sem a menor dúvida, foi o de Itamar, que colocou a economia em ordem, mas também não tinha programa.
FHC seguiu na mesma linha, ficou oito anos no poder (os tucanos sonhavam com 20 anos…) e o país cresceu por si mesmo, sem planejamento.
LULA TEVE LESSA E DARC
Quando Lula assumiu em 2003, deu uma tremenda sorte – convidou para assumir o BNDES o maior economista do PMDB, o professor Carlos Lessa, que na época era reitor da UFRJ. Lessa chamou para ser vice-presidente do banco um funcionário de carreira, o estrategista Darc Costa, que durante mais de dez anos dirigira o Centro de Estudos da Escola Superior de Guerra, uma função de oficial-general, que pela primeira vez fora ocupada por um civil.
Os dois se espantaram ao perceber que o PT, que tanto buscara o poder, jamais se interessara em traçar um programa de governo. Passaram então a agir para suprir esta lacuna, e uma das principais medida foi colocar na praça o Cartão BNDES, que fez a festa das micros e pequenas empresas, com crédito aberto e juros de apenas 1% ao mês.
Ao mesmo tempo, Lessa e Darc reergueram a indústria naval, abriram financiamentos a outros importantes setores, como tecnologia de inovação, fármacos e agroindústria. Aumentaram também o financiamento a exportações e incentivaram a criação de indústrias que produzissem produtos que costumávamos importar. Simultaneamente, privilegiaram linhas de crédito para indústrias de base e ampliaram os empréstimos a empreendimentos comerciais.
CRESCIMENTO DE 7,5%
Lessa e Darc saíram do governo no final de 2004, pouco depois de Lula ter lhes pedido que apresentassem um programa de governo completo, que chegaram a esboçar, mas não entregaram. Mesmo assim, o trabalho deles deu grandes frutos ao país e Lula conseguiu entregar o cargo à sua sucessora com um prodigioso crescimento de 7,5% do PIB em 2010. Mas a essa altura o BNDES já tinha sido totalmente desvirtuado pela gestão de Luciano Coutinho, que manipulou o maior banco de desenvolvimento do Ocidente para transformá-lo num braço político do Planalto.
O resultado todos sabem. A economia do país está derretendo. Em 2015, houve fechamento de 1,54 milhão de postos de trabalho. Deste total, cerca de 600 mil vagas foram extintas no mês de dezembro, é um número absurdo, inaceitável. E ninguém faz nada, ninguém diz nada, os sindicatos e as centrais se comportam como se estivessem no melhor dos mundos, está tudo dominado, como se diz hoje em dia.
A presidente Dilma Rousseff é ignorante de pai, mãe e vizinhança, não tem, nunca teve e jamais terá programa de governo. Seu ministério demonstra uma incompetência constrangedora. O único plano que existe, ao qual se entregam com dedicação exclusiva, é simplesmente se eternizarem no poder. O país, o povo, o interesse público – nada disso lhes interessa.
Portanto, ninguém deve se espantar diante da inexistência de debate econômico neste país, enquanto la nave va, fellinianamente desgovernada.
27 de janeiro de 2016
Carlos Newton
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