Em 1933, no auge da Grande Depressão, um quarto de toda a força de trabalho estadunidense estava desempregada. Dos que não foram para a rua da amargura, 30% aceitaram reduções em seus salários.
Aqui e agora, evidentemente, a coisa ainda não está tão ruim, mas é chocante sabermos que os desempregados, depois de se manterem na casa de 6,6 milhões no período 2012/2014, deram um salto para 9,1 milhões em 2015.
Isto levando-se em conta o nível de emprego apurado no trimestre agosto-setembro-outubro do ano passado. Os prognósticos dos economistas são de que, se em novembro-dezembro-janeiro não for alcançado o patamar altamente simbólico de 10 milhões de desempregados, pouco ficará faltando. E não existirá medida nenhuma no mundo capaz de evitar que seja atingido logo no trimestre seguinte.
Mesmo porque a saída de situação tão crítica não se dará apenas com iniciativas na área econômica. Será necessário o restabelecimento da confiança dos agentes econômicos no timoneiro da nau Brasil.
A presidente Dilma Rousseff perdeu a credibilidade ao prometer o que não pretendia entregar em 2014 e nem que a vaca tussa a recuperará em meio à recessão. Vai continuar sendo vista, pela grande maioria dos brasileiros, como a mãe da penúria atual e o primeiro obstáculo a ser removido para o País sair do fundo do poço.
E, enquanto não se desatar o nó político, os grandes capitalistas continuarão jogando na retranca, adiando investimentos e enxugando custos, pois lhes importa mais não sofrerem perdas mínimas do que muitos brasileiros estarem perdendo tudo que têm.
A pregação de Marina Silva, anti-impeachmet e pró-cassação da chapa presidencial pelo TSE, é obviamente interesseira, pois a convocação de uma nova eleição nos próximos meses pode dar-lhe a vitória que só o jogo sujo do PT evitou em 2014, ao recorrer à mais agressiva e falaciosa campanha de satanização de todas as nossas eleições presidenciais.
Mas, isto não impede de ser a melhor saída do labirinto em que nos encontramos e até um caso em que a Justiça Eleitoral escreveria certo por linhas tortas (pois o estelionato eleitoral é motivo imensamente mais grave para a anulação do resultado das urnas do que todos os alegados pelos oposicionistas). As leis brasileiras são patéticas, atêm-se ao secundário e não punem quem faz campanha prometendo exatamente o contrário do que já decidiu fazer, o que se constitui na própria negação da democracia!
Vale repetir: a campanha à moda do Goebbels da Dilma, tornando legal mas extremamente ilegítima sua reeleição, foi a principal causa do ano político catastrófico de 2015, muito mais do que os efeitos da Operação Lava-Jato. O povo não é bobo, percebeu ter sido vítima de uma vigarice eleitoral e não se conforma. Quem será insensível a ponto de negar-lhe tal direito?
E é porque o poder está suspenso no vácuo que temos de devolvê-lo à sua fonte, o povo. Dar-lhe a oportunidade de indicar uma saída, já que os poderosos se mostram impotentes para tanto: não se entendem e, com suas disputas mesquinhas e canibalescas, estão nos conduzindo para o imponderável.
Dez milhões de desempregados num país cujo povo é muito pobre (nunca deixou de sê-lo apesar da propagandaiada ufanista, está aí o IDH sofrível que não me deixa mentir), significam miséria, desespero e morte nas periferias, grotões e quebradas do mundaréu. Quem será insensível a ponto de não se comover?
Dilma significa um, um mandato a que se apega com unhas e dentes, sem jamais mostrar competência para exercê-lo nem humildade para reconhecer que cometeu erros crassos na gestão anterior e agora os está cometendo piores ainda, ao insistir em impor-nos o receituário econômico da direita apesar de ter sido eleita pela esquerda. Como ela se tornou tão insensível a ponto de não renunciar?
Dois milhões e meio de desempegados adicionais só no ano passado é um número bem maior do que um. Mexe muito mais com meus sentimentos e convicções.
É pelos 2,5 milhões (e pelos que a eles se somarão) que choro. São eles que me inspiram a pregar, por enquanto no deserto, no sentido de que a esquerda recoloque a solidariedade para com os explorados no centro de suas preocupações.
Estar ao lado dos que vivem nas favelas, cortiços e casebres é muito mais importante para revolucionários do que desfrutar das mordomias dos palácios.
E gerenciar o capitalismo para os capitalistas não nos aproxima um milímetro sequer da revolução.
E gerenciar o capitalismo para os capitalistas não nos aproxima um milímetro sequer da revolução.
27 de janeiro de 2016
Celso Lungaretti
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