Hoje, com a prisão de José Dirceu, encerra-se um ciclo do processo político brasileiro. A geração revolucionária da esquerda brasileira, que confrontou a ditadura militar, vê um dos seus principais líderes novamente atrás das grades, porém sem poder erguer o braço com o punho fechado, em sinal de resistência política.
O gesto cínico dos tempos do mensalão já não lhe cai bem. Não há quem possa com um mínimo de seriedade sustentar o viés político da sua prisão.
A desgraça pessoal da história de Dirceu não é o sinal da decrepitude de uma biografia apenas; trata-se do fim de uma visão hegemônica e autoritária do fazer política, apropriando-se do Estado brasileiro e usando-o a serviço de um grupo que desejava se eternizar no poder, não porque houvesse um projeto de país, porém simplesmente porque o poder era uma razão suficiente e única do agir político.
José Dirceu é o símbolo do pragmatismo oportunista: com a retórica de esquerda, as suas práticas eram típicas da... esquerda.
O aparelhamento do Estado, a destruição lenta e gradual dos mecanismos democráticos, a contaminação das instituições, a formação de uma quadrilha disposta a tudo para a conservação em suas mãos do poder político e econômico.
Se bem analisarmos os desdobramentos da Operação Lava-jato, o caminho aponta para Palocci como um dos próximos prováveis alvos.
A ser assim, os dois homens fortes do primeiro governo Lula estarão na cadeia. Acima deles, só o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. E começa a se formar aquela inelutável sensação que a prisão de Lula já não é um cenário impossível, fora da realidade que começa a se desenhar de um modo caudaloso.
Tirando o messianismo de membros do Ministério Público Federal envolvidos com as investigações da Operação Lava-Jato, o perigoso voluntarismo em nome de boas intenções que o inferno do fascismo está cheio, o fato é que o ocaso do lulopetismo vem por meio dos ventos que sopram em Curitiba e congelam a alma do mundo político nacional.
03 de agosto de 2015
Adriano Soares da Costa
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