Precisamos contratar, urgentemente, uma Ronda Rosey para arrasar, na base da pancada forte e certeira, com a estrutura cartorial, cartelizada e corrupta do modelo estatal de Bruzundanga. A lourona norte-americana só precisou de apenas 34 segundos para aplicar um nocaute na brasileira Bethe Correia, na tão esperada e promovida luta do UFC 190, na Arena da Barra, no Rio de Janeiro. Foi a 12a vitória da Ronda no delicado MMA. Por isso, deveríamos convocá-la para nos ajudar na 13a batalha...
Em linguagem figurada, o soco da Ronda pareceu um golpe mortal da velha guerrilheira Dilma contra a gestão pública brasileira... Por outro lado, coitada, a Dilma parece bem pior que a brava Bethe na lona. Dilma apanha muito, todo dia, mas, como a marketagem do João Santana proclamou, ela é "Coração Valente". Dilma já era - novamente em situação mais crítica que a Bethe. O problema é que, no caso, o nocauteado é o povo brasileiro. O desgoverno do crime nos mata, com juros, multas, roubalheira e muita mentira.
Ao final da luta, já tinha gente na petelândia tirando onda que a Ronda Rousey seria a única com poderes naturais e sobrenaturais para derrubar o guerreiro do povo brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Pode ser que a mesma regra valha para outros políticos tupiniquins tão (ou até mais) poderosos que o $talinácio - que sempre foi craque em derrubar, para dentro, o conteúdo de uns copos bem cheios... Afinal, cada povo tem o gladiador que merece - e que as cervejarias transnacionais podem patrocinar... Claro, sem ajuda financeira dos empreiteiros - muito derrubados no octógono da Lava Jato e da 13a Vara Federal em Curitiba, onde o sorriso de Sérgio Moro, o Homem de Gelo, lembra, não sei por que, o da Ronda, depois da vitória...
Saindo dos entretantos, vamos aos fatos objetivos que dizem respeito à grande luta imaginária do povo brasileiro contra a corrupção. Novamente, é preciso deixar claro que o problema é estrutural. Um Estado corrupto, historicamente construído para roubar recursos do cidadão, só pode ter produzido uma sociedade com alta leniência com a roubalheira. Romper o ciclo cultural da sacanagem não é tarefa para um mero soco no estilo da Ronda.
Neste sistema estatal feito para (você) roubar, empreiteiros, banqueiros e políticos corruptos fazem a festa. No caso dos eleitos por nós, não recebem vantagens irregulares diretamente. Usam laranjas ou assessores com intermediários. Em geral, a grana vai para doações de campanhas, caridosamente feitas por empreiteiros e banqueiros. Tudo feito de forma "legalizada", já que as centenas de milhares de leis em vigor no Brasil conseguem emprestar ares de "legalidade" formal a toda e qualquer safadeza profissional.
Assim funciona o (des) governo do crime institucionalizado. A corrupção, defeito estrutural e cultural, opera nos três poderes. Atinge o máximo da sem-vergonhice quando se manifesta no judiciário - que deveria ser imune para aplicar a tão sonhada Justiça no Direito. A falha da estrutura é tão gritante que, mesmo quando se pensa em fazer Justiça, as leis, normas e regras, junto com nossa subcultura autoritária, dão margens a que se cometam grandes e imperdoáveis abusos. Tragicômico é que o mesmo sistema que alterna leniência e impunidade quando lida com os "poderosos" age de forma implacável contra "ladrões de galinha".
No Brasil, o cidadão comum que é alvo da máquina de julgar corre alto risco de desmoralização imediata, sem chances de recuperação da imagem. Já quem tem aliança com o poder político-oligárquico-hegemônico sempre encontra um jeitinho de se safar. Basta contratar advogados a peso de ouro que, no final, consegue ser condenado a uma "prisão domiciliar" (com ou sem tornozeleira, tecnologia eletrônica nem sempre disponível).
Em tese, não se pode condenar ninguém por suposição. Ainda em tese, são necessárias provas e documentos objetivos. O problema é que, em Bruzundanga, o negócio não funciona bem assim. Por isso, vale a pena uns segundos de reflexão com a polêmica lançada ontem no Facebook pelo cidadão Emílio Bocha Perez, um argentino ariano e corinthiano que gosta de causar:
"Amigos, o sr Luis Inácio Lula da silva é a pessoa mais honesta deste País, junto com Sra Dilma. Até hoje não tem nada que possa incriminá-los. Por isso, digo vcs: a manifestação do dia 16 de agosto vai ser uma homenagens às figuras mais honestas deste País. Dos políticos investigados nada foi provado. Eles estão sendo difamados, execrados. Eles negam tudo veementemente. Agora, os empreiteiros, esses sim, estão pagando pela corrupção criada por eles (os políticos)? Repito: nada se fala na MÍDIA sobre Lula ou Dilma. Quero expressar aki meu apoio as pessoa mais honestas deste Pais. Sem provas, sendo citadas e difamadas... Não temos nada! Só posts mentirosos".
Aparentemente, o argentino que torce pelo mesmo time do Lula não deixa de ter lá sua razão irônica. No Brasil, muitos costumam ser investigados. Porém, poucos são denunciados. E, muitos menos acabam condenados pelos crimes que efetivamente cometeram. Aqui, a impunidade é ampla e geral. Só não é tão irrestrita porque, historicamente, sempre são escolhidos bodes expiatórios para servir de bois de piranha. Na hora do pega-pra-capar como agora, inexistem justos ou pecadores.
Vide a mais recente manobra contra-ofensiva do presidente da Câmara. Eduardo Cunha (PMDB-RJ) anunciou ontem, via Twitter, que determinará à Procuradoria Parlamentar da Casa que acione a advogada Beatriz Catta Preta na Justiça: “A sua acusação atinge a CPI como um todo e a Câmara como um todo, devendo ela esclarecer ou ser responsabilizada por isso. Determinarei a Procuradoria Parlamentar da Câmara que ingresse com a interpelação judicial semana que vem, independente da CPI”.
Catta Preta anunciou que abandonou a advocacia, em entrevista ao Jornal Nacional da TV Globo, após ter recebido “ameaças veladas” da CPI. Ela tomou a decisão depois de ser convocada pela comissão e um de seus clientes, o lobista Júlio Camargo, ter alterado seu depoimento em delação premiada passando a acusar Cunha de receber propina de US$ 5 milhões. O presidente da Câmara nega e afirma que Camargo foi pressionado pelo Ministério Público Federal a mudar o depoimento e acusá-lo.
Em resumo, no Brasil das injustiças, provas objetivas de crimes nem sempre se transformam em denúncias, julgamentos e condenações. Os assassinatos de reputação acontecem com a ajuda nem sempre responsável da mídia e dos discursos da politicagem. Evidentemente, o Ministério Público (a quem cabe defender a cidadania) e o judiciário acabam como vilões mais visíveis da história de impunidades e injustiças. Mas a causa estrutural do problema resulta do conluio, leniência e permissividade entre o Estado e a Sociedade.
Para mudar tal cultura, será preciso muito mais que um socão da poderosa Ronda Rosey em nossa consciência.
03 de agosto de 2015
Jorge Serrão
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