Assustados com o avanço das investigações da Operação Lava Jato, que prendeu José Dirceu segunda-feira, integrantes do governo temem que uma nova leva de delações agrave a já deteriorada situação política do PT e do Planalto.
Assessores do governo e dirigentes petistas admitiram à Folha que a segunda prisão de Dirceu – que já cumpria pena por ter sido condenado no mensalão – abala a legenda pelo peso histórico dele no partido. Mas o que preocupa, de fato, é o efeito ”pós-Dirceu”, com novas revelações envolvendo o mundo petista em delação de Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras.
Duque, que está preso, foi apadrinhado por Dirceu na Petrobras e é acusado de usar a diretoria para realizar operações financeiras junto ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Ambos estão detidos em decorrência das investigações da Lava Jato.
EXIGÊNCIAS
Advogados que atuam na operação relataram que um acordo prevendo a colaboração do ex-diretor só avançou após ele aceitar entregar aos investigadores provas sobre sua relação com o ex-tesoureiro do PT e pagamentos de propina no exterior.
Além de Duque, interlocutores do Planalto falam em uma ”trinca de delações” que pode agravar o quadro do governo. Eles não descartam uma colaboração de Marcelo Odebrecht, preso em Curitiba, e do próprio ex-ministro da Casa Civil e seu entorno em troca de benefício judicial.
Petistas acreditam que são grandes as chances de o irmão de Dirceu Luiz Eduardo de Oliveira e Silva e do assessor do petista, Bob Marques –ambos presos nesta segunda-feira, firmarem acordo de delação. Diante do cenário, avaliam, não há perspectiva a médio prazo de reabilitação da imagem do partido.
PANELAÇO
Nesta quinta-feira, vai ao ar o programa do segundo semestre do PT na TV. O mote da peça é a defesa do governo e do partido, e marca a volta da presidente Dilma em rede nacional de rádio e TV após os panelaços durante a sua fala em 8 de março.
O PT dá como certa a reedição dos protestos durante o programa desta quinta. A participação de Dilma está mantida, dizem assessores. O Planalto também espera uma adesão maior às manifestações contra o governo Dilma marcados para o dia 16 de agosto em todo o país.
O governo, porem, fará um esforço para tentar manter o grau de estabilidade na economia e blindar a presidente para que os desdobramentos das investigações não contaminem ainda mais a agenda do governo. O ministro da Defesa, Jaques Wagner, afirmou que a prisão do ex-ministro não foi debatida na reunião de coordenação política desta segunda.
04 de agosto de 2015
Andréia Sadi, Natuza Nery e Marina Dias
Folha
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