A negociação entre o Palácio do Planalto e a base parlamentar na Câmara dos Deputados que possibilitou a aprovação da Medida Provisória 665, a que trata do seguro-desemprego, revela a reportagem de Júnia Gama, Isabel Braga e Simone Iglésias, O Globo, edição do dia 8, articulada pelo vice Michel Temer, envolveu a promessa de nomeação de setenta indicados por políticos que vendem seus votos por cargos na administração pública. Um escândalo de enorme proporção.
A conexão, completamente imoral, revestiu-se ainda por cima de um ultimato: nomeações publicadas dentro de 48 horas no Diário Oficial. Caso contrário, os vendedores vencedores retiram-se do balcão e votam contra a Medida Provisória 664, a que corta as pensões por morte em 50%. Como é possível que homens como Michel Temer e Joaquim Levy sejam protagonistas em tal cenário? Mas esta é outra questão.
Abandonando o plano moral e ingressando-se na área política, a promessa assumida em nome da presidente Dilma Rousseff, na prática, é impossível de cumprir. Afinal de contas, cabe a ela, e não a Michel Temer, a assinatura dos setenta atos sem levar em conta sequer a habilitação ou qualificação profissional dos titulares dos postos a serem preenchidos. Além disso, em grande parte tais atos, no fundo gerados nas sombras, implica em dezenas de exonerações, pois destina-se a substituições nem sempre legítimas.
E AS DEMISSÕES?
Quer dizer: são nomeações condicionadas a demissões. Se a presidente da República fosse cumprir a obrigação assumida, teria se rebaixado ao extremo, não só junto ao próprio Congresso nacional, porém sobretudo junto à opinião pública do país. Seria – ou será – um escândalo de enorme proporção. Dilma Rousseff se enfraqueceria ainda mais. O elevador do Planalto desceria ao subsolo da faixa de decisão. Ela não mandaria mais nada, subjugada pelas circunstâncias que se armaram a seu redor. Será que ela não percebe isso?
Onde está sua assessoria, que se mostra incapaz de assessorá-la? É uma questão de sensibilidade. Marketing é outra coisa muito diferente. Nem cabe nesse plano de decisão. Dilma Rousseff necessita ser alertada, pelo menos, para o caráter antipopular das ações que pratica no governo. Essa troca de votos por cargos, seu emparedamento no Planalto, a rejeição acentuada até pelo presidente da CUT, Wagner Freitas, conforme revelou Luciana Granjeia, também no Globo de sexta-feira.
ISOLAMENTO
A presidente da República está se isolando cada vez mais de todos e de tudo, submetendo-se a pressões ilegítimas as quais transportam fortes cargas de interesses de várias fontes e tipos.
Pois é exatamente isso o que está contido nas setenta nomeações colocadas à sua frente na mesa de despachos. Deve recuar enquanto é tempo, sobretudo porque se a promessa já é por si impossível quanto mais a tentativa de cumpri-la? O que foi prometido e comprometido já representa um desabamento, uma perda de espaço no executivo, uma vez que o poder não se divide e tampouco pode ser compartilhado. A divisão foi caracterizada pela convocação de Michel Temer. O compartilhamento implica na divisão palaciana de suas atribuições.
A presidente Dilma Rousseff não está conseguindo perceber o reflexo de seus recuos sucessivos. O principal deles leva ao desequilíbrio no exercício do poder. Ela perdeu a opinião pública, está perdendo a batalha da comunicação, está dividindo o PT, está se afastando da esfera sindical. Qualquer dia, quando se der conta, poderá estar perdendo o próprio poder de decisão. O poder político exige ação ofensiva. A defensiva, a história torna-se sempre a véspera da derrota. Não acredito seja esse seu desejo, sua vontade, seu objetivo. Nem dela nem do país.
10 de maio de 2015
Pedro do Coutto
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