O delegado Eduardo Mauat da Silva, que integra a força-tarefa da Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal, afirmou nesta sexta-feira (17) que a conduta do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, “é um procedimento não-usual”. Ele foi questionado se seria estranho o pedido de Janot ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que fosse suspensa a tomada de depoimentos de políticos, que seriam feitos pelos policiais federais.
Para o delegado, é preciso que Janot explique aos policiais as razões de suspender os depoimentos. O Ministério Público Federal (MPF) alegou que há um “realinhamento nas estratégias” da investigação. Para a instituição, cabe exclusivamente a Janot definir como será feito o trabalho.
Mauat alega que já havia um entendimento entre a Polícia Federal e o MPF sobre a condução das investigações. “Em tese, essa investigação era para ser uma investigação célere e era esse o entendimento, e o trabalho da Polícia Federal caminhava nesse sentido”, diz.
Na entrevista, o delegado foi questionado sobre informações publicadas no jornal “Folha de S. Paulo” de que Janot teria “tolhido” a investigação da PF e sobre suposto contingenciamento de verbas que atinge policiais.
Doutor, queria que o senhor expusesse essa situação em que há diárias atrasadas, tem gente pagando do próprio bolso a estadia. O senhor poderia explicar como que é essa situação?
Em relação à Operação Lava Jato, existe um superintendente que fala pela operação. eu estou falando na condição de diretor da Associação dos Delegados, já expusemos que existem diárias atrasadas. Esperamos que seja resolvido para que não haja prejuízo.
Qual o contingente de pessoas que são de fora daqui que estão trabalhando e qual seria o tamanho desse atraso?
Em torno de dois meses. Nós devemos ter de 15 a 20 pessoas nesta situação.
Que diárias são essas, doutor?
As diárias são uma verba extra que o policial ganha pra se manter quando está fora da sua lotação. Então, essa diária é destinada ao pagamento de moradia, vestuário, transporte, etc. No momento que isso é atrasado, isso prejudica bastante a vida. a diária do policial federal hoje é em torno de R$ 200 a R$ 230. Os policiais têm que tirar dinheiro do próprio bolso pra se manter e mesmo usando o cartão de crédito, em trinta dias, é uma situação complicada. Não tivemos prejuízo concreto na operação até o momento. Esperamos que isso não ocorra.
Imagina-se que isso possa ser, de alguma maneira, para prejudicar?
Não imaginamos que isso tem sido feito de maneira deliberada. É uma contingência que atinge todos os servidores federais.
O senhor deu outras entrevistas hoje, isso repercutiu de alguma forma, dizendo que a Procuradoria teria o objetivo de tolher as investigações, é isso mesmo? O senhor declarou realmente isso?
A posição do doutor Janot, tenho certeza que ele irá prestar esclarecimentos na hora apropriada, o Ministério Público é uma instituição republicana, independente, mas não esta imune ao controle da sociedade. Então, como é uma investigação de bastante repercussão, envolve toda a nação, as pessoas se manifestam, expõem suas posições publicamente a respeito disso, esperando que o país mude. O doutor Janot, servidor público que é, deverá prestar esclarecimentos de maneira apropriada e tenho certeza que ele fará isso.
Como é que o senhor avalia a posição do doutor Janot?
Não poderia avaliar pessoalmente a opinião dele. Ele deve ter uma razão jurídica, técnica para suspender, foram no mínimo seis oitivas suspensas a pedido dele. Ele deve explicar pq fez isso. Em tese, essa investigação era para ser uma investigação célere, era esse o entendimento e o trabalho da Polícia Federal caminhava nesse sentido.
O senhor chegou a questionar a questão da vinculação política do cargo dele, o senhor mantém essa posição?
O doutor Janot foi indicado para o cargo de procurador-geral pelo governo, mas isso não quer dizer que ele esteja comprometido, porque são várias autoridades publicas que também são indicadas e também têm o compromisso de agir em nome do Estado, de maneira republicana e não pra defender interesses do governo, não acredito que ele esteja fazendo isso.
Mesmo tendo petistas ou desligados do partido, que já foram petistas em investigação?
Como eu digo, acredito que o doutor Janot esteja atuando de maneira republicana e espero que ele preste os esclarecimentos necessários para que não haja nenhuma mácula em torno da atuação do MPF.
Não há nenhuma disputa entre PF e MPF?
Da nossa parte não. Da parte da Polícia Federal, estamos fazendo nosso trabalho. E no momento em que uma atuação do Ministério Público acaba interferindo de uma maneira ou de outra nós gostaríamos de saber porquê.
É um tipo de atitude que é estranha, o senhor está acostumado a participar desses processos?
Não diria estranho, é um um procedimento não-usual. Há intimações que já haviam sido expedidas pela Polícia Federal e as audiencias foram canceladas.
Com relação às diárias, há alguma resposta?
A questão do contingenciamento não é uma questão inédita no serviço público federal. Já aconteceu outras vezes e está atingindo outros órgaos que não a Polícia Federal. A Associação Nacional dos Delegados está atenta e aguardando para que isso não prejudique de maneira concreta a Operação Lava Jato.
10 de maio de 2015
Deu no G1
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