A presidente Dilma Rousseff recuou mais uma vez não comparecendo às comemorações pela passagem do Dia da Vitória no Monumento dedicado aos mortos da FEB, no Aterro do Flamengo – RJ. O motivo, novamente, foi o temor de manifestações populares contrárias à sua presença. Foi um erro, uma vez que a ausência acentua falta de confiança no sucesso do esforço que tem que desenvolver para recuperar o espaço perdido na opinião pública. Mas não é esta a questão essencial.
A questão essencial é que 8 de maio representa uma importância histórica enorme para o Brasil. Ela esqueceu este aspecto, ou foi mal informada a respeito. O Dia da Vitória eterniza também a derrota do nazi-fascismo, da Alemanha de Hitler e da Itália de Mussolini. O Japão render-se-ia meses depois em agosto, da luta do Pacífico, derrotado pelos Estados Unidos.
A importância histórica para o Brasil é fortemente realçada pelo fato de nosso país ter sido o único da América do Sul a declarar, no final de agosto de 42, guerra a Alemanha, a Itália e ao Japão. Da América Latina quase também ocorreu o mesmo, pois o México declarou guerra ao eixo duas semanas antes de maio de 45. Além disso, o Brasil teve 21 navios mercantes covardemente afundados por submarinos alemães e foi também o país que forneceu aos Estados Unidos as bases aéreas de Natal e Recife, importantes para o combate aliado no Atlântico Norte. O presidente Franklin Roosevelt, inclusive veio a Natal, em 1943 encontrar-se com o presidente Vargas na capital do Rio Grande do Norte.
Não bastassem esses fatos, o Brasil foi palco, no Palácio Tiradentes, da reunião Panamericana de janeiro de 42, articulada e convocada pelo Chanceler Oswaldo Aranha no sentido de estabelecer um posicionamento comum contra a politica alucinada de Hitler. Aranha aproveitou a oportunidade para ressaltar a posição brasileira, embora não tenha sido seguido pelos demais países do Continente, os quais se mantiveram neutros em relação ao conflito que se generalizava na Europa e a partir de dezembro de 41, com o episódio de Pearl Harbor estendia-se aos Estados Unidos.
A FEB E A FAB
Para acrescentar a importância da participação brasileira, deve-se lembrar a presença no teatro da guerra dos integrantes da FEB e também da FAB. Mais de 400 soldados, sargentos e oficiais na Força Expedicionária Brasileira deixaram suas vidas nos campos da Itália. A participação brasileira nas tomadas das posições nazistas em Monte Castelo e Montese foram páginas heroicas registradas na história da guerra e acentuadas pelo General Mac Clark, comandante em chefe dos aliados na região.
Quando cito Monte Castelo e Montese como posições alemães é porque as forças italianas praticamente já haviam desaparecido de cena e o país fora ocupado pelos nazistas. A Itália assim sofreu duas ocupações: as de nossas forças comuns e das forças do nazismo. Mas isso hoje pertence ao passado.
Dilma Rousseff foi mal informada pela sua assessoria dos exemplos históricos que nesta página estou relatando e relembrando. Por isso, para o Brasil, 8 de maio de 45 não é uma data qualquer. Pelo contrário: ela marca a nossa importância no plano externo. E, no plano interno, ela significa o desencadeamento de um processo que levou ao fim a ditadura de Getúlio Vargas iniciada em novembro de 37, com o Estado Novo, e terminaria com sua deposição a 29 de outubro de 45, a convocação de eleições no dia 2 de dezembro e a posse dos eleitos a 31 de janeiro de 1946, entre os quais o próprio Getúlio Vargas mais votado em vários estados, preferindo o mandato de senador pelo Rio Grande do Sul. Naquele tempo não havia a obrigação de domicílio eleitoral e o candidato podia ser eleito simultaneamente por vários estados. Foi o caso de Vargas.
CONSTITUINTE DE 46
Esse processo marca a redemocratização brasileira baseada na Constituinte de 46. Esta Carta Magna estendeu-se até 1964 com a deposição do presidente João Goulart. O processo democrático foi interrompido por 21 anos, como a história moderna registra e uma nova Constituição a de 88 assinala.
Foi pena, portanto, que Dilma Rousseff não aproveitasse a soma de todos esses acontecimentos para se pronunciar vigorosamente nas comemorações do dia 8 de maio no Rio de Janeiro onde estão sepultados os heróis do assado. Ao transferir para Brasília a comemoração para recinto fechado no Palácio do Planalto, perdeu uma oportunidade de registrar e marcar sua presença num dos mais belos capítulos da história do Brasil. Mais do que um erro foi uma pena a sua desinformação.
11 de maio de 2015
Pedro do Coutto
Nenhum comentário:
Postar um comentário