O Banco Central deixou claro em sua Ata, para desespero do Palácio do Planalto, que dará pelo menos mais um aumento na taxa básica de juros (Selic) em junho — a dúvida é se a alta será de 0,25 ou de 0,50 ponto percentual. É importante ressaltar, porém, que o atual arrocho não pode ser visto como decorrente da tradicional política monetária, que visa corrigir excessos de uma economia forte, na qual as pressões inflacionárias são muito comuns. O BC está elevando os juros com um único objetivo: reconstruir sua credibilidade.
Quem se dá ao trabalho de acompanhar os movimentos da política monetária tem a exata noção do quanto o BC errou nos últimos quatro anos. Em vez de cumprir à risca a missão que lhe foi definida por lei — manter a inflação próxima do centro da meta, de 4,5%, custe o que custar —, deixou-se seduzir pelos interesses políticos da presidente Dilma Rousseff.
A intervenção do Planalto no Comitê de Política Monetária (Copom) foi tão forte, que, mesmo com a inflação pressionando o orçamento das famílias, a equipe presidida por Alexandre Tombini derrubou a Selic para o nível mais baixo da história, de 7,25% ao ano, em outubro de 2012. Naquele período, Dilma estava em guerra contra os juros altos. Em um discurso do Dia do Trabalho daquele ano, disse que não sossegaria enquanto o país não passasse a conviver com taxas mais civilizadas.
DERRUBANDO A SELIC
Para não decepcionar a chefe, Tombini e seus subordinados seguiram, sem qualquer questionamento, a determinação de derrubar a Selic. Com a popularidade em alta e convencida de que o país deveria adotar uma nova matriz econômica — que se mostrou um desastre —, Dilma estava irredutível. Para ela, os alertas sobre os perigos da inflação eram bobagens. E não seria nada temeroso ter um pouco mais de carestia para estimular o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Seis meses depois de entregar o troféu político que Dilma tanto desejava (os menores juros da história) o BC teve de mudar de direção. Ou elevava a Selic, ou incentivaria o descontrole inflacionário. Pressionado pelos mercados, o Copom levou a taxa básica para até 11% ao ano, em abril de 2014. Mas, já com a campanha eleitoral nas ruas e as pesquisas mostrando chances de vitória de Dilma no primeiro turno, o BC pisou no freio.
No entendimento do Planalto, não ficariam bem para o discurso da reeleição novos aumentos dos juros. E assim foi feito, a despeito de a inflação estar persistentemente próxima ou acima do teto da meta, de 6,5% .
DEPOIS DA ELEIÇÃO…
A Selic só teve nova elevação na reunião do Copom realizada três dias depois de as urnas sacramentarem a reeleição de Dilma. Os juros subiram para 11,25% e, após sucessivas altas, chegaram a 13,25%, o maior nível desde dezembro de 2008.
A politização do BC está custando caro ao país. Com a economia em recessão e o desemprego chegando a 7,9%, como mostrou a Pnad Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), era para o Copom estar cortando juros e não elevando a Selic. O arrocho monetário só vai jogar a atividade para o buraco. As famílias se recusam a tomar crédito para consumir. As empresas fogem de empréstimos e seguram os investimentos de que o Brasil tanto precisa para crescer. Este é o quadro.
11 de maio de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário