Espero que o leitor me desculpe por voltar com frequência às questões relacionadas ao governo federal e, inevitavelmente, com a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT.
Isso é, porém, inevitável, uma vez que o país vive um momento crítico, que se agrava a cada dia, enquanto os principais responsáveis pela crise insistem em se fazer de vítimas. Vítimas de uma conspiração inexistente, inventada por eles.
Essa é uma atitude preocupante, já que o que está em jogo é a situação econômica e também social do país, cujo agravamento é indisfarçável e cujas consequências podem se tornar mais graves, se os responsáveis pelo governo do país insistirem em fingir que ela não existe.
Ou, pior, que é mera conspiração de adversários políticos –ou seja, a imprensa e a Justiça.
Na verdade, o que o governo pretende ocultar é que tanto os escândalos envolvendo a Petrobras quanto o desequilíbrio que afeta a economia são consequências dos erros cometidos pelas gestões petistas e, principalmente, pela arrogância da presidente da República.
Muito antes de assumir a chefia do governo, quando era ministra de Minas e Energia, opunha-se à linha econômica adotada por Antonio Palocci, que seguia programa do governo Fernando Henrique Cardoso.
Ela insistia na linha populista, que terminou sendo adotada por Lula e ampliada por ela ao se tornar presidente. A redução dos preços dos combustíveis –que criou um rombo financeiro na Petrobras– obriga-a a aumentá-los agora, quando a situação econômica o exige, mas para descontentamento geral.
Não é por acaso que os caminhoneiros paralisaram o país, levando ao aumento dos preços dos alimentos, sem falar nas outras consequências.
Ninguém diria que o governo do Partido dos Trabalhadores seria posto contra a parede pelos próprios trabalhadores.
Os caminhoneiros exigiam a redução do preço do diesel, coisa que o governo não pode fazer, a menos que decida agravar ainda mais a situação da Petrobras.
O que se vê, portanto, é que a redução demagógica do preço dos combustíveis –aliada a outras medidas igualmente populistas, às custas dos impostos que vinham sendo aumentados progressivamente– teria que dar o resultado que deu.
Como já haviam afirmado os entendidos no assunto, a política econômica fundada no consumismo dá sempre em desastre.
Mas foi graças a isso que Lula e sua turma se mantiveram no poder durante todo este tempo.
Só que a hora do desastre chegou e, junto com ela, os escândalos do Petrolão, que não param de crescer, com novas revelações e novas propostas de delações premiadas. Já imaginou o que os executivos da Camargo Corrêa vão revelar?
Por tudo isso, torna-se impossível prever o que vem por aí. Quando os advogados das empreiteiras buscam o ministro da Justiça para que ele intervenha na Lava Jato, contrariando a lei, é que eles mesmos já não sabem o que fazer.
Pior: a surpreendente atitude de Renan Calheiros (PMDB-AL), devolvendo ao Planalto a medida provisória do ajuste fiscal, deixa evidente a fraqueza política do governo.
Diante de tamanha encrenca, nem o espertalhão do Lula sabe o que fazer. Tanto é verdade, que teve a coragem de, mais uma vez, inventar uma manifestação em defesa da Petrobras. Logo ele que nomeou e manteve nos cargos principais da empresa quem a saqueou?
Isso, de certo modo, me faz lembrar o presidente da Venezuela, o farsante Maduro, que diz se comunicar com o falecido Hugo Chávez com a ajuda de um passarinho.
Como Lula, ele sabe que afirmações como essas não podem ser levadas a sério, a não ser por débeis mentais. Lula não chega a esse nível de surrealismo, mas abusa da inteligência alheia quando promove atos públicos em defesa da empresa que ele e sua gente saquearam.
Talvez seja por isso que, vendo que quase ninguém ainda acredita em tais lorotas, outro dia perdeu a cabeça e, para tentar intimidar os adversários, ameaçou pôr nas ruas o "exército de Stédile".
Creio que ninguém sabia que esse já um tanto esquecido líder dos sem-terra possui um exército. Vai ver que é o famoso exército de Brancaleone.
11 de março de 2015
Ferreira Gullar, Folha de SP
Isso é, porém, inevitável, uma vez que o país vive um momento crítico, que se agrava a cada dia, enquanto os principais responsáveis pela crise insistem em se fazer de vítimas. Vítimas de uma conspiração inexistente, inventada por eles.
Essa é uma atitude preocupante, já que o que está em jogo é a situação econômica e também social do país, cujo agravamento é indisfarçável e cujas consequências podem se tornar mais graves, se os responsáveis pelo governo do país insistirem em fingir que ela não existe.
Ou, pior, que é mera conspiração de adversários políticos –ou seja, a imprensa e a Justiça.
Na verdade, o que o governo pretende ocultar é que tanto os escândalos envolvendo a Petrobras quanto o desequilíbrio que afeta a economia são consequências dos erros cometidos pelas gestões petistas e, principalmente, pela arrogância da presidente da República.
Muito antes de assumir a chefia do governo, quando era ministra de Minas e Energia, opunha-se à linha econômica adotada por Antonio Palocci, que seguia programa do governo Fernando Henrique Cardoso.
Ela insistia na linha populista, que terminou sendo adotada por Lula e ampliada por ela ao se tornar presidente. A redução dos preços dos combustíveis –que criou um rombo financeiro na Petrobras– obriga-a a aumentá-los agora, quando a situação econômica o exige, mas para descontentamento geral.
Não é por acaso que os caminhoneiros paralisaram o país, levando ao aumento dos preços dos alimentos, sem falar nas outras consequências.
Ninguém diria que o governo do Partido dos Trabalhadores seria posto contra a parede pelos próprios trabalhadores.
Os caminhoneiros exigiam a redução do preço do diesel, coisa que o governo não pode fazer, a menos que decida agravar ainda mais a situação da Petrobras.
O que se vê, portanto, é que a redução demagógica do preço dos combustíveis –aliada a outras medidas igualmente populistas, às custas dos impostos que vinham sendo aumentados progressivamente– teria que dar o resultado que deu.
Como já haviam afirmado os entendidos no assunto, a política econômica fundada no consumismo dá sempre em desastre.
Mas foi graças a isso que Lula e sua turma se mantiveram no poder durante todo este tempo.
Só que a hora do desastre chegou e, junto com ela, os escândalos do Petrolão, que não param de crescer, com novas revelações e novas propostas de delações premiadas. Já imaginou o que os executivos da Camargo Corrêa vão revelar?
Por tudo isso, torna-se impossível prever o que vem por aí. Quando os advogados das empreiteiras buscam o ministro da Justiça para que ele intervenha na Lava Jato, contrariando a lei, é que eles mesmos já não sabem o que fazer.
Pior: a surpreendente atitude de Renan Calheiros (PMDB-AL), devolvendo ao Planalto a medida provisória do ajuste fiscal, deixa evidente a fraqueza política do governo.
Diante de tamanha encrenca, nem o espertalhão do Lula sabe o que fazer. Tanto é verdade, que teve a coragem de, mais uma vez, inventar uma manifestação em defesa da Petrobras. Logo ele que nomeou e manteve nos cargos principais da empresa quem a saqueou?
Isso, de certo modo, me faz lembrar o presidente da Venezuela, o farsante Maduro, que diz se comunicar com o falecido Hugo Chávez com a ajuda de um passarinho.
Como Lula, ele sabe que afirmações como essas não podem ser levadas a sério, a não ser por débeis mentais. Lula não chega a esse nível de surrealismo, mas abusa da inteligência alheia quando promove atos públicos em defesa da empresa que ele e sua gente saquearam.
Talvez seja por isso que, vendo que quase ninguém ainda acredita em tais lorotas, outro dia perdeu a cabeça e, para tentar intimidar os adversários, ameaçou pôr nas ruas o "exército de Stédile".
Creio que ninguém sabia que esse já um tanto esquecido líder dos sem-terra possui um exército. Vai ver que é o famoso exército de Brancaleone.
11 de março de 2015
Ferreira Gullar, Folha de SP
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