A Folha de São Paulo publicou em sua edição de segunda-feira que o ex-presidente Lula decidiu cancelar sua presença no ato marcado para sexta-feira, na capital paulista, que inicialmente seria de apoio à presidente Dilma Rousseff, mas que se transformou em protesto da CUT, MST e UNE contra o projeto de ajuste fiscal do governo. Politicamente, o fato é de extrema importância e reflete a divisão na base popular do Poder Executivo.
Acentua a matéria, assinada pela Sucursal de SP, que a convocação para o evento firmada principalmente pelas três entidades dá mais ênfase aos pontos contra do que a favor do governo. O ato de sexta-feira próxima – acentua Vagner Freitas, presidente da CUT, não tem nada de contraponto às manifestações do dia 15, domingo, estas contra o governo. Nem pensamos nisso, acrescenta. Se a administração quer combater as fraudes, que aprimore a fiscalização e não restrinja as pensões por morte, o abono salarial, o auxílio-desemprego, o auxilio doença. Que taxe as empresas nas quais os índices de demissão são mais altos.
CRISE ALIADA
Por discordar das críticas, destaca a FSP, Lula então avisou que não irá à concentração marcada para as 15 horas na Avenida Paulista. O documento de convocação divide-se em duas partes. Na segunda, fala na defesa da Petrobrás, mas não cita Dilma Rousseff nominalmente. Ressalta então: “Democracia pressupõe respeito às decisões do povo, em especial aos resultados eleitorais”.
Com o episódio evidenciou-se uma cisão de profundidade nas forças que se encontram ao lado da presidente da República, deixando nítidas as frações que surgiram depois das proposições de cortes de gastos colocadas pelo ministro Joaquim Levy, inclusive, no fundo da questão, afastando as correntes mais lulistas do que dilmistas das que são mais dilmistas do que lulistas.
Esta é, logicamente, a interpretação que surge dos fatos, impulsionada pelo lançamento antecipado da candidatura do ex-presidente à sucessão presidencial de 2018. Assim, cresce a queda de popularidade, sobretudo porque no domingo, dia 15, será a vez das manifestações de oposição, projetadas para 200 cidades, inclusive o Rio de Janeiro, estando no entanto prevista para a capital de São Paulo a de maior peso, igualmente na Avenida Paulista, mesmo local do ato liderado pela CUT, MST e UNE, que dessa forma rompe o silêncio no qual encontra-se congelada há vários anos.
CHOQUE DE IDEIAS
O confronto entre um ato e outro, no final da ópera, tende mais para uma convergência do que para um choque de ideias totalmente opostas. No meio de ambos os lados, situam-se aparentemente menos viáveis. A crise, portanto, tende a se agravar no movimento de redemoinho que circula em torno do Palácio do Planalto, isolando a presidente da república, exatamente no instante em que ela mais necessita de apoio e da estabilidade que está lhe faltando.
A semana que se inicia domingo será decisiva para os rumos, não só da administração publica, mas para os do próprio país. Dilma Rousseff precisa, o quanto antes, sair do castelo, e abrir o debate na planície, abrindo-o a toda a população. Só assim poderá superar as contradições que estão tolhendo seus movimentos e superar o impasse crescente que, agora, desloca-se para o PT, seu próprio partido.
11 de março de 2015
Pedro do Coutto
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