"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 18 de março de 2015

A CORRUPÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA REFORMA POLÍTICA


















A atividade política, no Brasil, sempre funcionou na base do “jeitinho” e da “negociação”. Mesmo quando interrompido o processo democrático, com a instalação de ditaduras – o que ocorreu algumas vezes em nossa história – a política sempre foi feita por meio da troca de favores entre membros dos Três Poderes, e, principalmente, de membros do Executivo e do Legislativo, já que, sem aprovação – mesmo que aparente – do Congresso, ninguém consegue administrar este país nem mudar a lei a seu favor, como foi feito com a aprovação da reeleição para prefeitos, governadores e Presidentes da República, obtida pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Toda estrutura coletiva, seja ela uma jaula de zoológico ou no Parlamento da Grã-Bretanha, funciona na base da negociação. Fora disso, só existe o recurso à violência, ou à bala, que coloca qualquer machão, por mais alto, feio e forte seja, na mesma posição de vulnerabilidade de qualquer outro ser humano.
COMO DIMINUIR A CORRUPÇÃO
Já que a negociação é inerente à natureza humana, e que ela é sempre melhor do que a força, o que é preciso fazer para diminuir a corrupção, que não acabará nem com golpe nem por decreto ?
Mudar o que for possível, para que, no processo de negociação, haja maior transparência, menos espaço para corruptos e corruptores, e um pouco mais de interesse pelo bem comum do que pelo de grupos e corporações, como ocorre hoje no Congresso.
O caminho para isso não é o impeachment, nem golpe, mas uma Reforma Política, que mude as coisas de fato e o faça permanentemente, e não apenas até as próximas eleições, quando, certamente, partidos e candidatos procurarão empresas para financiar suas campanhas, e espertalhões da índole de um Paulo Roberto Costa, de um Pedro Barusco, de um Alberto Youssef, meterão a mão em fortunas, não para fazer “política” mas em benefício próprio, e as mandarão para bancos como o HSBC e paraísos fiscais.
O que é preciso saber é se essa Reforma Política será efetivamente feita, já que é fundamental e inadiável, ou se a Nação continuará suspensa, com toda a sua atenção atrelada a um processo criminal, que é o julgamento dos bandidos identificados até agora, no Caso Petrobras, que, em sua maioria, sairão dessa impunes, para gastar o dinheiro, que, quase certamente, colocaram fora do alcance da lei, da compra de bens e de contas bancárias.
PASSAR O PAÍS A LIMPO
Pessoas falam e agem, e saíram às ruas no domingo também por causa disso, como se o Brasil tivesse sido descoberto ontem e o caso de corrupção da Petrobras, não fosse mais um de uma longa série.
Se a intenção é passar o país a limpo e punir de forma exemplar toda essa bandalheira, era preciso obedecer à fila e à ordem de chegada, e ao menos reabrir, mesmo que fosse simultaneamente, casos como o do Banestado – que envolveu cerca de 60 bilhões – do Mensalão Mineiro, do Trensalão de São Paulo, para que estes, que nunca mereceram a mesma atenção da nossa justiça nem da sociedade, fossem investigados e punidos, ao mesmo tempo que o da Petrobras, em nome da verdade e da isonomia, na grande faxina moral que se pretende estar fazendo agora.
Ora, em um país livre e democrático – no qual, estranhamente, o governo está sendo acusado de promover uma ditadura – qualquer um tem o direito de ir às ruas para protestar contra o que quiser, mesmo que o esteja fazendo por falta de informação, por estar sendo descaradamente enganado e manipulado, ou por pensar e agir mais com o ódio e com o fígado do que com a razão e a cabeça.
INCIDENTES PERIGOSOS
Esse tipo de circunstância facilita, infelizmente, a possibilidade de ocorrência dos mais variados – e perigosos – incidentes, e o seu aproveitamento por quem gostaria, dentro e fora do país, de ver o circo pegar fogo.
No frustrado golpe contra o Presidente Chavez, eleito no ano 2000, dois anos depois, franco-atiradores de grupos contrários a ele, infiltrados nas manifestações, atiraram contra opositores e puseram a culpa em seus seguidores – tentando jogar o país contra o governo.
E a mesma coisa ocorreu no ano passado, na queda do governo Yanukovitch, na Ucrânia, quando franco-atiradores neonazistas dispararam suas armas contra a multidão Praça Maidan, em Kiev, e depois colocaram a culpa em tropas do governo, como afirmou o ministro das relações exteriores da Estônia, Urmas Paet, à Chefe de Assuntos Estrangeiros da União Europeia, Chaterine Ashton.
O ANTICOMUNISMO
Para os que estão indo às ruas por achar que vivem sob uma ditadura comunista, é sempre bom lembrar que em nome do anticomunismo, se instalaram – de Hitler a Pinochet – alguns dos mais terríveis e brutais regimes da História. E que nos discursos e livros do líder nazista podem ser encontradas, sobre o comunismo as mesmas teses, e as mesmas acusações falsas e esfarrapadas que se encontram hoje, disseminadas, na internet brasileira.
Há muitos anos, deixamos de nos filiar a organizações políticas, até por termos consciência de que não há melhor partido que o da Pátria, o da Democracia e o da Liberdade.
O rápido fortalecimento da extrema direita no Brasil – apesar dos alertas que têm sido feitos, nos últimos três ou quatro anos, por muitos observadores – só beneficia a um grupo: à própria extrema direita, cada vez mais descontrolada, radical e divorciada da realidade.
Na longa travessia, pelo tempo e espaço, que nos coube fazer até agora, entre tudo o que aprendemos nas mais variadas circunstâncias políticas e históricas, aqui e fora do país, está uma lição que reverbera, de Weimar a Auschwitz, profunda como um corte: com a extrema-direita não se brinca, não se alivia, não se tergiversa, não se compactua.
Quem não perceber isso – esteja na situação ou na oposição – ou está sendo ingênuo, ou irresponsável, ou mal intencionado.

18 de março de 2015
Mauro Santayana, Jornal do Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário