"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O MINISTÉRIO DA JUSTIÇA PARECE QUE BEBE...



image


Afirmar para a juventude que “não pode beber nada” parece totalmente ineficiente. Me lembrao “Drogas, tô fora” (havia o complemento “drogas, tou fora. Fui comprar”) ou o “Esportes sim, drogas não” (hã? o que uma coisa tem a ver com a outra?) de outras épocas. Frases como “Viu aí? Bebeu, perdeu. Curta a adolescência sem beber” não significam absolutamente nada, para quem é adolescente e quer beber ou se drogar.



O Ministério da Justiça fez uma daquelas tentativas infelizes de “falar a linguagem dos jovens”. Trata-se de uma postagem da campanha virtual #BebeuPerdeu – o título/conceito já é meio sem noção, porque explora a idéia de que é impossível beber sem fazer, err, bobagem.
Acontece que a imagem (retirada após três horas de postada, com um pedido de desculpas) mostra uma moça desconsolada, olhando seu celular, enquanto duas outras riem dela. Ou seja: é forte a sugestão de que a moça cometeu alguma inconveniência, ou que cometeram com ela. Possivelmente sexual.
LINGUAGEM DOS JOVENS
Falar a linguagem dos jovens significaria, antes de mais nada, entender porque os jovens gostam de beber, e de usar drogas. E uma das respostas é, evidentemente, porque gostam de perder os parâmetros do que é um comportamento “adequado”. Para se soltar. Não é esquisito beber, ou se drogar. Do meu ponto de vista, esquisito é achar que a sociedade se comporta normalmente (?) quando está sóbria. A frase “curta a adolescência sem beber” é quase uma contradição.
Em novembro passado, a atriz Letícia Sabatella (que não é uma jovenzinha) foi fotografada bêbada, deitada no chão. Estava acompanhada de amigos e do marido. Após uma tentativa da mídia moralista de desmoralizá-la (foram usados termos de “vexame” para baixo), a boa surpresa é que tanto Sabatella quanto o público trataram com naturalidade a questão de passar do ponto da bebida de vez em quando.
Sabatella disse “me recuso a sentir vergonha”, e aconteceram manifestações de apoio nas redes sociais, como eventos para “deitar na BR com Letícia Sabatella”. A própria atriz compareceu em um dos deitaços, realizado em Brasilia. A mensagem é óbvia: estando cercada de amigos, não há muito com o que se preocupar, se passar um pouco do ponto na celebração (é só preciso evitar um coma alcoólico – e não deixar o hábito virar alcoolismo. Mas isso é uma questão de saúde, e não moral).
MULHER NÃO PODE BEBER
Já a mensagem da campanha do ministério é óbvia: mulher não pode beber. Porque, se beber, vai se arrepender. E isso é uma ameaça.
O fraco pedido de desculpas do Ministério diz: “A campanha #BebeuPerdeu é muito mais do que isso. Nós nos equivocamos com a peça. Ela tem o objetivo de conscientizar jovens até 24 anos sobre os malefícios do álcool. Atuamos em políticas públicas em conjunto com a Secretaria de Políticas para a Mulher (SPM) contra a violência doméstica, o feminicídio e outras formas de violência contra a mulher. Pedimos desculpas pelo mau entendido e, ao mesmo tempo, contamos com a colaboração de todos na campanha”. Acontece que não há mau entendido. Há, como de costume, covardia, moralismo e cegueira marqueteira.
Como disse uma amiga minha, os publicitários que fizeram a peça provavelmente bebem. Possivelmente cheiram. Em linguagem popular, a expressão “parece que bebe” se refere a quem comete erros bisonhos. O Ministério da Justiça, ele parece que bebe.

12 de fevereiro de 2015
Alex Antunes
Yahoo

Nenhum comentário:

Postar um comentário