"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

MENOS TERROR, MAIS AUTOCRÍTICA

           

 
É legítimo a campanha e a militância da presidente Dilma Rousseff apontarem falhas e contradições da candidata Marina Silva (PSB), hoje uma ameaça real à reeleição da petista. Faz parte do jogo. Atacar e desconstruir o adversário é uma estratégia válida. E Marina, é verdade, tem calcanhares de aquiles.
Suas posições em relação a questões importantes, como a homofobia, a mistura da religião com a política, por exemplo, são contraditórias para quem prega uma nova política. O eleitor tem de saber, de forma mais clara, os pensamentos da candidata.
 
A campanha do PT, no entanto, adotou contra Marina outra tática: a da difamação a qualquer custo. E essa escolha, além de eticamente questionável, tem um risco, o de expor a imensa vidraça, cheia de arremedos e negociatas, para se manter no poder, na qual se transformou o governo petista nos últimos 12 anos.
 
Nesta semana, por exemplo, o programa de Dilma na TV comparou Marina Silva ao ex-presidente Fernando Collor. Curiosamente, o hoje senador do PTB é considerado um aliado estratégico do PT, em Alagoas, e já recebeu da presidente o título de “parceiro”. Inclusive, na disputa pelo Senado por lá, Collor é apoiado por Dilma, e Heloísa Helena, por Marina. Então, fica a dúvida, ao se comparar Marina com Collor, o PT está criticando ou elogiando a candidata do PSB?
 
HOMOSSEXUAIS

Nessa mesma linha, petistas caíram de pau – e com toda a razão – após o recuo de Marina Silva em relação a direitos dos homossexuais. Ela mudou o texto do seu programa um dia após apresentá-lo, pressionada por setores da igreja evangélica. E foi merecidamente criticada, dando mostras de uma postura conservadora e de um vínculo intelectual ligado à religião.
 
A postura de Marina foi suficiente para a retomada contra ela de uma campanha da qual o próprio Lula já foi vítima, em 2002, e o partido condenou: a da disseminação de um clima de pânico, com muita gente dizendo ter “medo” se a ex-senadora for eleita.
 
Mas essa mesma turma se mostrou pouco assustada quando o governo da presidente Dilma, acuada pela ameaça de boicote da bancada evangélica em propostas do governo federal no Congresso, engavetou o programa Escola sem Homofobia. Se Marina se atrela ao conservadorismo religioso por convicções pessoais, Dilma se agarra a ele por oportunismo eleitoreiro.
 
Da mesma forma, pega mal criticar a candidata apoiada por um grande banco, quando se adotou uma política econômica muito benevolente com o setor bancário nos últimos anos. Marina Silva não é santa e um tanto quanto obscura. Mas ela ganha força quando eleitores do PT, assim como gosta de fazer Dilma, fecham os olhos para os imensos problemas do país e vão ao ataque de forma insana.

(transcrito de O Tempo)

08 de setembro de 2014
Murilo Rocha

Nenhum comentário:

Postar um comentário