"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 12 de julho de 2014

PLANALTO PROCURA ESTRATÉGIA PARA SEPARAR ORGANIZAÇÃO DA COPA DO FIASCO EM CAMPO



 
Após a humilhante derrota do Brasil para a Alemanha, a presidente Dilma Rousseff ajustou o discurso para neutralizar o “efeito Copa” sobre a campanha da reeleição. Com medo de que o mau humor com a seleção respingue na campanha, a presidente e sua equipe tentam separar o “joio do trigo”, concentrando as energias na defesa da “administração” do Mundial.
A ordem no Palácio do Planalto é “virar a página” do que Dilma definiu como “pesadelo” e baixar o tom do mote “Copa das Copas”, com o qual o governo pretendia bater o bumbo na campanha. No lugar do ufanismo, entra agora a retórica da “volta por cima” e da capacidade de superação do brasileiro nas adversidades, além da organização “impecável” do evento.
A equipe da reeleição dá como certo que Dilma será hostilizada na final da Copa, no domingo, quando a presidente entregará a taça ao campeão, no Maracanã. Ministros e coordenadores da campanha petista acreditam que o “efeito Copa” não dure até a eleição, em outubro.
O temor, agora, é que o fim antecipado da catarse coletiva alimente novos protestos, que podem ser disseminados e atingir “tudo o que está aí”, mirando em Dilma e na alta dos preços – e consequentemente dos índices de inflação – por causa da Copa.

“Quem tentar transferir para o campo da política eleitoral uma derrota no futebol dará um tiro no pé”, disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que assistiu à derrota do Brasil em Belo Horizonte. “A politização é simplesmente ridícula”. Para Cardozo, a derrota do Brasil “não muda em nada” o caráter da Copa, nem da segurança e da organização do evento, “que estão sendo aplaudidos pelo mundo inteiro”.

O chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que na terça-feira admitiu a preocupação do governo com a possibilidade de volta das ações violentas dos black blocs, ontem disse que “o desastre com a seleção brasileira não é o desastre com a Copa”. “Precisamos cuidar para que tudo continue dando certo.”

NA REDE

A coordenação da campanha de Dilma identificou nas redes sociais “perfis falsos” de apoiadores dos candidatos Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) associando a presidente ao vexame do Brasil diante da Alemanha, para desconstruir a imagem de “gerente” que a petista tenta apresentar. Vinte e quatro horas antes do fracasso da seleção, Dilma deu estocadas nos adversários e disse, em conversa com internautas, que a Copa era uma “belezura”, para “azar dos urubus”.

“Do ponto de vista de organização, a Copa é um sucesso e isso é inegável”, afirmou o ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini. “O Brasil sofreu uma derrota absolutamente inesperada, que entristeceu todos nós, e quem quiser fazer proselitismo político com isso terá de enfrentar o julgamento do eleitor.”

Berzoini se reuniu nesta quarta com o presidente do PT, Rui Falcão, coordenador da campanha de Dilma. Mais tarde, Falcão conversou com o jornalista Franklin Martins, responsável pelo monitoramento das redes sociais. O governo e o comitê da reeleição estão atônitos com o fiasco da seleção e avaliam qual a melhor estratégia a seguir para blindar a presidente.

Uma das estratégias será apostar na agenda “positiva” dos próximos dias. Além de almoçar com chefes de Estado que estarão no Rio, no domingo, para a final da Copa, Dilma vai receber 21 presidentes na próxima semana. O comitê da reeleição quer aproveitar esses eventos para mostrar a presidente como “estadista”.

12 de julho de 2014
Vera Rosa e Tânia Monteiro
O Estado de S. Paulo

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