Depois de o ex-presidente Lula, armado de notável irresponsabilidade, ter proclamado que o inaceitável episódio das ofensas dirigidas a Dilma Rousseff no jogo da abertura da Copa do Mundo foi obra da elite, seu braço-direito e companheiro de longa data, ministro Gilberto Carvalho, manifestou opinião divergente. “Lá no Itaquerão não tinha só elite branca, não! (…) Tinha muito moleque gritando palavrão dentro do metrô que não tinha a ver com elite branca.” Divergência só aparente. O denominador comum revela a estratégia. “A coisa desceu! Tá? (…) esse cacete diário de que não enfrentamos a corrupção, que aparelhamos o Estado, que somos um bando de aventureiros que veio aqui para se locupletar, essa história pegou! Na classe média, na elite da classe média e vai gotejando, vai descendo! (...) Essa eleição agora vai ser a mais difícil de todas.”
Não foi uma autocrítica, nem um reconhecimento claro dos equívocos. Foi a tática da vitimização e, ao mesmo tempo, a busca de um bode expiatório. A culpa é da “mídia conservadora e hegemônica”.
Trata-se, desesperadamente, de construir uma narrativa que sirva para desviar a atenção dos problemas concretos. Da economia que range. Da inflação que se percebe em cada nova compra. Da falta de saúde que grita nos corredores dos hospitais públicos. Da péssima educação que gera frustração enfurecida nos jovens. Da corrupção que se torna patente em cada novo capítulo da novela da Petrobras.
Lula manifesta crescente irritação com o trabalho da imprensa independente. Seus sucessivos e reiterados ataques à mídia, balanceados com declarações formais de adesão à democracia, não conseguem mais esconder a verdadeira face dos que, mesmo legitimados pela força do processo eleitoral, querem tudo, menos democracia.
Para Lula, um político que deve muito à liberdade de imprensa e de expressão, imprensa boa é a que fala bem. Jornalismo que apura e opina com isenção incomoda e deve ser extirpado. Preocupa, e muito, o entusiasmo de Lula, da presidente Dilma e de seu partido com modelos políticos capitaneados por caudilhos. Cuba e Venezuela, ditaduras cruéis e antediluvianas, são o modelo concreto da utopia petista.
A fórmula Lulinha e Dilminha paz e amor acabou. Agora, com o Estado aparelhado, o Congresso ameaçado pelo decreto de Dilma que inaugura a governança via conselhos, obviamente controlados pelo governo, e a imprensa fustigada, o lulismo mostra sua verdadeira cara: o rosto do caudilhismo.
O jornalismo não deve cair na armadilha da radicalização, mas fomentar a discussão das políticas públicas. Vamos romper a embalagem do marketing político e da propaganda avassaladora. Vamos contrastar o discurso oficial com a realidade concreta.
Os protestos crescentes, alguns francamente impróprios e deselegantes, enviam recados muito claros: o povo flagra a mentira no emagrecimento do seu poder de compra, nas filas do SUS, na frustração de uma educação que não forma gente preparada para a vida. A sociedade está perfilando a verdadeira e correta agenda eleitoral.
07 de julho de 2014
Carlos Alberto Di Franco, diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciência Sociais – IICS e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra,
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