"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

BATE-BOLA PRESIDENCIAL

Depois de organizar um jantar, no início do mês, para um grupo de jornalistas mulheres, a presidente Dilma Rousseff (PT) recebeu no Palácio do Alvorada, na noite de quinta-feira, profissionais de imprensa da área esportiva.

Os encontros não decorrem de um surto comunicativo de uma presidente refratária a entrevistas, mas da tentativa de recuperar ao menos parte do prestígio que o governo perdeu nos últimos 12 meses.

A despeito do intuito publicitário que possa ter, o recente "bate-bola" destaca-se pelo interesse que Dilma mostrou pela reforma das estruturas e da gestão do esporte. Nisso a mandatária diferencia-se de seu padrinho político --o ex-presidente Lula, sempre pródigo nas metáforas futebolísticas, abraçou o atraso nesse campo.

Maior detentor de títulos em Mundiais e formador de jogadores talentosos, o Brasil está longe da excelência na organização esportiva. Nos clubes e nas federações triunfa o amadorismo, a politicagem e o desrespeito ao torcedor.

Embora algum progresso tenha se verificado nos últimos anos, a situação deixa muito a desejar. Inúmeros times do país vivem em estado quase falimentar, com dívidas descontroladas.

Estudo recente da empresa de auditoria BDO mostrou que os ganhos dos quatro grandes do futebol paulista, o mais rico do Brasil, aumentaram 90% nos últimos cinco anos. No mesmo período, contudo, o endividamento cresceu 126%.

Em valores absolutos, Corinthians, Santos, Palmeiras e São Paulo arrecadaram R$ 1 bilhão, em 2013, contra R$ 551 milhões, em 2009, mas as dívidas saltaram de R$ 465 milhões para R$ 1 bilhão.

A presidente Dilma demonstrou simpatia pela formação de uma liga de clubes independente da CBF, a exemplo do modelo europeu. Declarou-se também favorável a punições esportivas caso os clubes não cumpram seus compromissos tributários --um enésimo programa de recuperação de dívidas com a União tramita no Congresso.

A mandatária revelou-se, ainda, interessada em conhecer os representantes do Bom Senso F.C., associação que defende causas dos atletas e propõe a racionalização do calendário futebolístico.

São sinais auspiciosos, num momento em que se abre uma oportunidade de modernização do esporte. Com todos os problemas que envolvem os preparativos para a Copa, o futebol brasileiro herdará estádios atualizados e experimentará, no torneio, um nível de organização inédito no país.

 
19 de maio de 2014
Editorial Folha de SP

Nenhum comentário:

Postar um comentário