"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

QUEM TEM MEDO DE JOAQUIM BARBOSA?


Embora seja improvável a candidatura do presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, à presidência da República, nem por isso o desconforto deixou de existir nos gabinetes do Palácio do Planalto.
Barbosa falou demais quando desprezou o sistema partidário brasileiro, chamando-o de “partidos de mentirinha”. Pior: o ministro não abriu exceção. Colocou todas as siglas no mesmo saco.
A rigor, Barbosa não está errado, pois ideologia e ações programáticas passam ao largo dos 39 partidos existentes. E a melhor maneira para saber se existe diferença entre os partidos basta coloca-los no poder.
 
No Brasil nenhum partido surgiu da sociedade civil, todos, mesmo o PT, foram criados dentro da estrutura do Estado. Lula deu início ao PT a partir das organizações sindicais e de intelectuais de esquerda instalados nos laboratórios das universidades públicas. Formaram o bolo da “esquerda caviar” artistas e frações  da classe média deslumbrada.
 
À época era – como dizer? – chiquérrimo ser petista nos bares da orla sul do Rio de Janeiro e ou  dos Jardins de São Paulo. Hoje não mais, a classe média acha de extremo mau gosto ser petista, principalmente depois que estourou a bandalheira do mensalão.
 
O Lula barbudo cultuado na década dos 80 por essa gente de bons hábitos se transformou no semianalfabeto, metido em ternos caros, que está se achando. Lula perdeu o glamour do guevarismo de botequim e passou a ser o alter ego da turma do bolsa-família, da classe média de baixa renda e de empresários bajuladores e espertos.
O Lulinha paz e amor de antes é hoje, para a turma do andar de cima, aquele homenzinho vulgar nas palavras, no comportamento e na escolha das “rosemarys”.
 
As pesquisas endossam a tese de que depois desses doze anos o lulo-petismo perdeu o prazo de validade e que já se percebe fadiga de material.
Os bem-nascidos viraram a cara para o petismo, mas não sabem para onde ir.
As opções colocadas no cenário para o pleito deste ano ainda não emplacaram.
 
É nesse vácuo que aparece a figura de Joaquim Barbosa, “o justiceiro” que colocou gente poderosa na cadeia, desde políticos estrelados e corruptos a banqueiros vigaristas.
O povão adorou: a cadeia agora é para todos. A classe média bem-nascida encontrou o seu herói do dia: o implacável.
 
Nas mídias surgem os defensores da candidatura de Barbosa à presidência. Os exaltados, com certa acidez e uma ponta de preconceito proclamam: “elegemos um analfabeto, depois uma mulher e agora chegou a vez de um negro”. Como se a cor e o gênero de um governante fossem critérios válidos para ser um estadista.
 
O medo da candidatura de Barbosa deve-se principalmente porque o ministro dialoga diretamente com as ruas, sem necessidade de passar pela intermediação de um partido político. Forçando a mão, alguns analistas políticos trazem para o debate o fenômeno Jânio Quadros dos anos 60 para enquadrar a candidatura de Joaquim Barbosa como um outsider da política nacional.
 
Bobagem. Com um sistema de presidencialismo de coalizão, a eleição de um presidente descompromissado com partidos políticos pode levar o país a um processo sem volta de ingovernabilidade. Melhor um Congresso podre do que Congresso nenhum.
 
Portanto, cabem a Aécio Neves e Eduardo Campos conseguir que os 61% dos que não aprovam o governo de Dilma Rousseff se encantem com suas candidaturas. Existe no imaginário popular uma possibilidade mudancista.
Resta saber se a oposição está qualificada para assumir esse compromisso.
 
Do jeito que está, dizem os brasileiros que pensam, não dá para continuar: inflação, juros na altura, o setor produtivo patinando, uma carga tributária obscena, as contas públicas sem controle, o mercado nervoso, uma política externa de canteiro de obra, violência nas ruas e no campo, desrespeito ao Estado de direito, insegurança jurídica, grupelhos de vândalos se apossando das ruas, um governo medíocre e predatório, um legislativo vendido, um judiciário aparelhado e uma presidente completamente despreparada para o cargo que não consegue juntar três palavras com algum sentido.
 
Esse é o quadro do Brasil de hoje que, se mantido, pode ainda piorar. Chegamos ao fundo do poço. É o horror.
 
24 de fevereiro de 2014
Nilson Borges Filho é mestre, doutor e pós-doutor em Direito

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