"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

LOUCURAS PODEM RENDER VOTOS


As iniciativas que Maduro adota parecem um grande disparate, mas podem lhe dar um triunfo eleitoral


A sabedoria convencional ensina que são puro disparate os atos com que o presidente venezuelano Nicolás Maduro conduz o que chama de "guerra econômica" contra os capitalistas malvados.

Afinal, "proibir a inflação", como o jornal espanhol "El País" tratou as primeiras medidas da "guerra", é uma tarefa fadada ao fracasso, como sabemos os brasileiros que acompanhamos os congelamentos da superinflação.

Mas é possível que a sabedoria popular destoe da convencional e contemple os dislates do presidente com número suficiente de votos para que o chavismo, agora encarnado em Maduro, consiga uma vitoria crucial nas eleições municipais de domingo.

Henrique Capriles, o líder oposicionista, tratou, desde o início da campanha, de caracterizar um pleito em tese secundário como um plebiscito sobre a gestão Maduro.

No domingo, Capriles considerou "a votação de 8 de dezembro como o freio que tem cada venezuelano para parar essa situação de destruição a que nos submete o governo".


Consciente de que corre o risco de perder o "plebiscito", Maduro prefere descaracterizá-lo, ao afirmar: "Temos presidente até 2019, governadores até 2016 e Assembleia Nacional [Parlamento] até 2015", disse, também no domingo.

É uma maneira de circunscrever o voto às prefeituras (de 335 municípios), "desnacionalizando-o".

Fácil de entender: se o governo perder na soma de votos, "a oposição estará fortalecida e em boa posição para tentar convocar um referendo revogatório dentro de dois anos", analisam David Smilder e Hugo Pérez Hernaiz, especialistas em Venezuela do Washington Office on Latin America.

Mais: "Maduro ficaria seriamente enfraquecido como sucessor de Chávez e provavelmente seria desafiado por outros líderes do chavismo".

Até outubro, as pesquisas indicavam que a "oposição tinha uma oportunidade de ouro para ganhar com diferença moderada, devido à queda de popularidade do presidente", como escreveu ontem para "El Universal" Luis Vicente León, diretor do Datanalisis, o mais respeitado instituto de pesquisas da Venezuela.


Depois de iniciada a "guerra econômica", León subiu no muro:

"Os acontecimentos recentes, em que Maduro endurece o jogo, sua intensa utilização de cadeias nacionais [de TV], sua passagem da retórica à ação, a identificação e as represálias contra os culpados', com o que desvia a atenção de sua própria responsabilidade por políticas econômicas desacertadas, (...), a apresentação midiática de provas' de atos inadequados que sabemos que existem, poderiam jogar a seu favor em termos de popularidade, embora continue sendo incerta a capacidade dessas ações para preencher o vazio que a crise havia criado em sua relação com as massas".

No Brasil de 1986, a pirotecnia econômica deu certo eleitoralmente, a ponto de, pela primeira vez na história, um partido (o PMDB) ter feito a maioria absoluta do Parlamento e eleito todos os governadores, menos um. Depois, é verdade, veio o desabamento --mas Maduro, por enquanto, só precisa do primeiro momento. A conferir.

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