"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 22 de dezembro de 2013

DIFICULDADES DE TODOS OS LADOS

 
 


Declarou o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que a condenação  de alguns parlamentares rompeu longa tradição, mas que  não acredita venham as punições  mudar o comportamento de políticos envolvidos com corrupção.  Não tem ilusões a respeito.

Há que unir os dois extremos do raciocínio, e quem pode fazer é precisamente Barbosa, vigiando para  o Poder  que preside continuar  a  cumprir  suas obrigações, julgando e condenando os culpados. Mas só isso basta?
Porque apesar da dura e bela performance do Supremo no caso  do mensalão,  nas diversas instâncias do Judiciário dormem processos em profusão contra políticos corruptos.  Uma verdadeira revolução seria fazer com que juízes, desembargadores e ministros, no país inteiro, também participassem  da quebra da longa tradição que mantém a impunidade como regalia da classe política.

Não que apenas eles, os políticos corruptos, mereçam estar atrás das grades. Outras categorias encontram-se na mesma situação, como os empresários e empreiteiros corruptos. Há gente honesta, entre eles, mas sobrariam poucos se passada a peneira em suas atividades.
Dos banqueiros, nem há que falar, bem como,  no reverso da medalha, existem juízes e  funcionários públicos envolvidos em toda sorte de crimes. As recentes denúncias contra  empresas estrangeiras e altos gestores da coisa pública em São Paulo indicam a importância de se aproveitar a oportunidade ou de reconhecer que tudo continuará como está, ou estava,  antes da condenação dos mensaleiros.

Dizia o saudoso Adaucto Lúcio Cardoso que a reforma mais necessária para o Brasil, desde tempos imemoriais, precisaria ser do Judiciário. Advogado militante, antes e depois de tornar-se deputado, ele não cedeu sequer ao movimento militar que havia apoiado. Resistiu até que tropa armada invadisse a Câmara que presidia, pois não aceitara a cassação de alguns deputados.
Depois, convidado para ministro do Supremo, demorou pouco em renunciar  ao lugar para não compactuar com a implantação  da censura a livros, além dos jornais e meios eletrônicos.

Nada mais certo do que começar  depurando  o Judiciário, mas como? Os juízes de primeira instância submetem-se a concursos severos, mas para o preenchimento dos tribunais estaduais e federais, até o mais altos, a  forma de aferir o alto saber jurídico e a probidade dos indicados começa  e termina nos políticos, governadores ou presidentes da República, de um lado, Senado e Assembléias Legislativas, de outro.   Aqui mora o perigo, mas soluções existiriam?

Fazer concurso para ministro do Supremo e de  altos tribunais seria ridículo, pois quem os aprovaria ou reprovaria? Os políticos? Determinar mandatos fixos poderia punir excepcionais julgadores e abrir as portas para outros nem tanto.  Promover  eleições para juiz seria correr o risco de assistir corruptos  eleitos, como tantos políticos vem sendo,  para  usufruir da corrupção.

Quem quiser que opine, mas se o presidente Joaquim Barbosa se dispõe a anunciar novos tempos, que  tal transferir a ele a responsabilidade das soluções? Só que tem um problema: não poderia ser no exercício de suas atuais funções. Precisaria comandar outro Poder. Para o qual necessitaria  submeter-se às mesmas limitações contra as quais alerta e até se insurge. Nó difícil de desatar…

22 de dezembro de 2013
Carlos Chagas

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