"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

HADDAD NÃO FEZ O CURSO "MASSINHA I" DO PETISTA MORALISTA?

Ou: Kassab chama Haddad para a briga, prefeito foge, e os petistas graúdos se calam


Lembram-se disto?

"Meu garoto!!!" Maluf faz carinho na cabeça de Haddad, como um tio afaga um sobrinho. Lula observa (foto: Epitácio pessoa/Agência Estado)
Meu garoto!!!” Maluf faz carinho na cabeça de Haddad, como um tio afaga um sobrinho. O moralizador era ali abençoado. Lula observa (foto: Epitácio pessoa/Agência Estado)
 
Desde mais ou menos as 3 da madrugada de ontem, está no ar um pesado contra-ataque do ex-prefeito Gilberto Kassab, presidente do PSD, a Fernando Haddad (PT), prefeito de São Paulo. Contestando uma entrevista concedida por seu sucessor, Kassab afirmou que descalabro mesmo é a atual gestão. Foi além: Prefeitura quebrada, deixou claro, quem encontrou foram os eleitos de 2004 — José Serra como prefeito, ele como vice. Kassab se referia, é claro!, à petista Marta Suplicy, hoje ministra da Cultura. Nota: Haddad foi subsecretário de Finanças e Desenvolvimento Econômico da gestão petista entre 2001 e 2003. A ele se atribui a ideia de criar a taxa do lixo, que rendeu à então prefeita o apelido de “Martaxa”.
 
Haddad, como se diz em Dois Córregos, enfiou a viola no saco e sumiu. Não apareceu um só petista em seu socorro ou para dar um chega pra lá no ex-prefeito, nada! O que se ouviu foi só um pesado silêncio. Convidada a falar a respeito no Peru, a presidente Dilma deu de ombros. O único que ensaiou algum muxoxo foi Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, ao afirmar que o PT não tem medo de investigar a corrupção. Vocês conhecem as valentias dos companheiros. No mais, ninguém disse nada.
 
Não só isso. Dei uma olhadinha nas redes sociais. Os petralhas também se recolheram. Como a gente sabe, a Al Qaeda Eletrônica — inclusive os sites e blogs financiados por estatais e por gestões petistas — obedecem a comandos. Se é para atacar, a quadrilha avança unida; se é para recuar, idem. E eles ficaram quietinhos. Ninguém disse uma palavra. Por que não?
 
A bancada do PSD na Câmara só é menor do que a do PT e a do PMDB. Dilma quer o tempo de seu fiel aliado — e isso, no que diz respeito à presidente e a Lula, Kassab é. Tem pouco mais de um minuto do tempo de TV, o que é bastante coisa. Sua entrevista, como disse aqui, estabeleceu uma linha vermelha e serviu de aviso aos petistas: “É bom não passar ou caio fora!”. E eles não passaram. Ademais, as falcatruas dos fiscais também caem no colo de secretários do atual prefeito.
 
Massinha I

Haddad se comporta como se tivesse faltado ao nível “Massinha I” do curso “A Moralidade do Petista Exemplar”. É lá que se aprende, nos primeiros passos, que nem toda denúncia de corrupção interessa. Se ela atinge o PT ou um aliado, é coisa má; se pega um adversário, aí já vale como juízo de condenação. No caso em questão, justiça se faça, não há indícios de que o ex-prefeito estivesse envolvido na falcatrua — e, como escrevi aqui, parece difícil que esteja. Falando em tese, se um prefeito quer ser desonesto, em São Paulo ou em Xiririca do Mato Dentro, há caminhos mais seguros do que se meter nesse tipo de lambança. Haddad resolveu ser o Supercoxinha da Moralidade e não viu quem estava na frente — ou atrás. Tenta, desesperadamente, reverter a queda de popularidade. Até agora, tudo inútil.
 
Assim, Kassab faturou esse “round”. Falou um “Cospe aqui se for homem”, e Haddad teve de saltar de banda, fazer de conta que não era com ele, ainda que contra a vontade. Está insatisfeito com a decisão do PT de não comprar briga, mas não tem o que fazer. Nessas coisas, os petistas são profissionais. Lideranças não ficam se bicando ou se arranhando por causa de metáforas, a exemplo do que fazem tucanos.
 
As prioridades do PT são a eleição de Dilma Rousseff e a campanha de Alexandre Padilha em São Paulo. Kassab é considerado uma importante linha auxiliar nos dois propósitos. Caso se candidate mesmo ao governo do Estado, conta-se com ele para levar a disputa para o segundo turno, quando, então, os petistas esperam o seu apoio, já que dificilmente alguém lhes toma o segundo lugar. E não será Fernando Haddad a atrapalhar.
 
Nove entre 10 petistas consideram o prefeito um vaidoso trapalhão — e isso inclui o próprio Lula. Busca-se agora uma forma de mantê-lo mais ou menos sob controle. Por enquanto, ele fugiu da briga com Kassab, que já avisou que o seu embate nada tem a ver com o PT nacional. Não mesmo! Desde, é claro, que o PT nacional não o hostilize — o que significa não sair em socorro do atual prefeito. Ah, sim: Haddad se esqueceu de um dos atos inaugurais de sua campanha? Aconteceu nos jardins da casa de Paulo Maluf, não é? Era a aula de encerramento do nível “Massinha I”.
 
12 de novembro de 2013
Reinaldo Azevedo

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