"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

OS PIORES LIVROS QUE FIZERAM A CABEÇA DE MUITA GENTE (VERSÃO BRASILEIRA)

Estava devendo o post a seguir há bastante tempo, como complemento ao texto OS PIORES LIVROS QUE FIZERAM A CABEÇA DE MUITA GENTE (http://gustavo-livrexpressao.blogspot.gr/2010/03/os-piores-livros-que-fizeram-cabeca-de.html). 
 
Demorei porque a lista é longa, e, diante de tantas gemas, a maior dificuldade está em selecionar as mais representativas. Nos quesitos ruindade acadêmica, parcialidade ideológica e indigência mental, o Brasil está bem suprido, ocupando certamente os primeiros lugares em qualquer ranking mundial. Eis os piores livros que mais influência exerceram no Brasil nos últimos cento e tantos anos:    
- Por Que Me Ufano de Meu País, Conde Afonso Celso (1900) - Pequeno livro fundador do ufanismo nacional (também conhecido como "chupa, mundo!" ou "síndrome-do-comigo-ninguém-pode"), ou seja, a mania megalômana do brasileiro de achar que o Brasil é o melhor país do mundo, com o melhor povo, o melhor clima, os melhores rios, o melhor hino, a bandeira mais bonita etc. etc. É a base para todo tipo de patriotada a que os brasileiros se entregam alegremente de vez em quando, embalados por uma Copa do Mundo ou pelo marketing do governo megalomaníaco de plantão, tanto de direita (o regime militar) quanto de esquerda (os governos petistas de Lula-Dilma). Ironicamente, tem epígrafe em inglês (My country, right or wrong - ou seja: "Meu país, certo ou errado", o que, como lembrou Millôr Fernandes, é o mesmo que dizer "minha mãe, sóbria ou bêbada"). O post-scriptum poderia ser a frase de Samuel Johnson: "O nacionalismo é o último refúgio do canalha".
 
 
- A Ilusão Americana, Eduardo Prado (1900) - Certidão de nascimento do antiamericanismo tupiniquim, ganhou status de obra "cult" entre os acadêmicos em parte porque foi o primeiro livro censurado pela República. Espécie de bíblia dos inimigos do "império estadunidense", quase sempre gente ressentida e movida pela inveja do "gigante do Norte", serve tanto à direita (o autor era monarquista) quanto à esquerda. Sobretudo a esta, que transformou o ódio aos EUA numa espécie de religião e num álibi para o atraso do Brasil em diversas áreas ("a culpa é dos outros" etc.). É, assim, uma espécie de precursor de As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, a bíblia do idiota latino-americano (hoje rebatizados de "bolivarianos").
 

- Brasil, Colônia de Banqueiros, Gustavo Barroso (1934) - Leitura obrigatória nas escolas militares durante muitos anos, é uma verdadeira síntese do pensamento reacionário nacionalista muito em voga no Brasil nos anos 30, indo na mesma direção do livro anterior, culpando uma "conspiração dos banqueiros internacionais" pelos problemas do país (seu subtítulo é "História dos empréstimos brasileiros de 1824 a 1934"). O autor, historiador renomado, era, além de dirigente e ideólogo da Ação Integralista Brasileira (a versão cabocla do fascismo), conhecido antissemita, chegando a traduzir do francês Os Protocolos dos Sábios de Sião, livro que não fica muito longe, em matéria de propaganda antijudaica e conspiracionista. Mais uma prova de que o nacionalismo rombudo e irracional é comum aos dois extremos ideológicos.
 
 
- O Cavaleiro da Esperança, Jorge Amado (1942) - Hagiografia do caudilho comunista escrita pelo autor de Tieta e de Gabriela na época em que militava no Partido Comunista (o velho PCB). Jorge Amado chegou a ser eleito deputado federal pelo "Partidão" em 1945. Nessa época, escrevia coisas sob encomenda, como tarefa ditada pela direção do partido, que o via como um bom relações-públicas. Somente despertaria do delírio totalitário e largaria a canoa furada do comunismo depois de 1956, com a revelação dos crimes de Stálin por Krushev. Antes, porém, escreveu essa sua contribuição à criação do culto da personalidade de Prestes, o frustrado (e extremamente incompetente) Stálin tupiniquim.
 
 
- Geografia da Fome, Josué de Castro  (1946) - Livro que não é exatamente ruim (traz algumas informações importantes sobre um tema que era até então pouco estudado), mas que merece estar na lista pelo uso que dele fizeram os esquerdistas, sobretudo o PT, que o transformou numa espécie de justificativa intelectual para programas inócuos e demagógicos como o finado "Fome Zero" (alguém lembra?) e o "Bolsa-Família", o maior programa de compra de votos do mundo. O autor, funcionário da ONU, entrou para o panteão de heróis da esquerda não tanto pelo que escreveu (poucos leram seus livros, como o clássico Geopolítica da Fome), mas por ter proporcionado um tema a ser explorado por demagogos e populistas de plantão. De qualquer modo, o assunto está um tanto quanto desatualizado: no Brasil de hoje, o maior problema dos pobres não é a fome, mas a obesidade - culpa, em parte, do agronegócio, tão demonizado pela esquerda. 
 

- O Mundo da Paz, Jorge Amado (1951) - Livro tão ruim que o próprio autor mandou retirar de sua lista de obras completas, por pura vergonha de tê-lo escrito. Seguindo a trilha do livro anterior, bem como de sua trilogia stalinista Os Subterrâneos da Liberdade (1954), o baiano comete aqui um dos elogios mais grotescos e acríticos das ditaduras comunistas do Leste Europeu, a começar pela ex-URSS e por seu então líder, o ditador Josef Stálin, que o autor enaltece como o "guia, mestre e pai", o "maior gênio da humanidade" etc. Por coisas como essa, Jorge Amado, que se desfiliaria poucos anos depois do PCB, foi galardoado com o prestigiadíssimo (para os comunistas) "Prêmio Stálin"... Sem comentários.


- O Mundo do Socialismo, Caio Prado Junior (1962) - Assim como O Mundo da Paz, trata-se de um elogio desbragado e idiota das ditaduras comunistas (sobretudo URSS e China), que o autor, um dos principais ideólogos comunistas brasileiros, via como exemplos não somente de eficiência técnica e justiça social, mas também de democracia (!!!). Explicitamente panfletário, assim como seu URSS: Um Novo Mundo (1934), chega ao ponto de transcrever trechos de resoluções de congressos do Partido Comunista da União Soviética, a fim de provar que a terra do Gulag e do KGB era o paraíso na Terra...  Um modelo de propaganda ideológica e de desonestidade intelectual que seria seguido nos anos seguintes por bajuladores de ditaduras comunistas como a de Cuba.


- A Revolução Brasileira, Caio Prado Junior (1966) - Considerada a obra mais importante do autor, comunista oriundo de tradicionalíssima família da elite paulista, até hoje é debatida nos círculos de esquerda. Causou furor em seu tempo, pois contrariava a tese então dominante no PCB, da existência de "restos feudais" no Brasil que deveriam ser varridos por uma revolução em duas etapas, "democrático-burguesa" etc., defendendo, em vez disso, que o Brasil já era capitalista. Por incrível que pareça, foi preciso um comunista escrever um livro para que a esquerda brasileira descobrisse esse fato óbvio.


- Mini-manual do Guerrilheiro Urbano, Carlos Mariguella (1969) - Como o nome indica, trata-se de um "minimanual", escrito de forma pedagógica e de afogadilho pelo ex-deputado comunista e líder terrorista sobre as melhores técnicas para matar, emboscar, sequestrar, assaltar bancos etc. Adotado por grupos terroristas internacionais como as Brigadas Vermelhas italianas e o Baader-Meinhof alemão-ocidental, virou uma espécie de obra "cult" entre os círculos radicaloides de extrema esquerda nos anos 70, mais como um símbolo do que pelos ensinamentos nele contidos, totalmente irreais (Mariguella acreditava que o guerrilheiro deveria ser um super-homem, por exemplo: deveria saber pilotar aviões, conhecer criptografia etc.). O próprio autor provou a inocuidade do texto, ao ser morto numa emboscada policial em São Paulo - uma morte previsível para quem defendia a emboscada como método de luta.   

 
- Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire (1974) - Obra que marcou gerações de professores e estudantes no Brasil, é a Bíblia dos pedagogos brasileiros. Basicamente, é um panfleto de auto-ajuda marxista embalado numa linguagem de sistema pedagógico, introduzindo conceitos como "luta de classes", "revolução" e "classe operária" na sala de aula. Seu método de alfabetização de adultos baseado em Marx foi adotado pelo sistema de educação brasileiro nas últimas cinco décadas. Não surpreende, portanto, que não se conheça, até hoje, o nome de nenhuma pessoa que foi alfabetizada por seu método revolucionário. Tampouco surpreende que o Brasil esteja em penúltimo lugar no ranking mundial de educação.  Mesmo assim, o autor foi endeusado até o limite do possível, tendo sido considerado postumamente, em 2012, o "patrono da pedagogia nacional" pelo governo petista de Dilma Rousseff. Faz sentido. 
 

- A Ilha, Fernando Morais (1976) - Reportagem que, se teve o mérito de romper o isolamento informativo sobre Cuba, vigente no Brasil desde 1964, serviu para divulgar a lenda da ilha comunista como um paraíso dos trabalhadores. O autor ficou rico escrevendo (favoralmente) sobre o comunismo, como em Olga (1985), o que lhe rendeu, além de uma gorda conta bancária, um mandato de deputado pelo PMDB de Orestes Quércia, um dos políticos mais corruptos do Brasil em todos os tempos. Atualmente, é lulista e amigo do peito de José Dirceu e companhia. 

 
- Da Guerrilha ao Socialismo: a Revolução Cubana, Florestan Fernandes (1979) - Série de apostilas transformadas em livro por um dos maiores ideólogos esquerdistas do Brasil, considerado "o pai da sociologia brasileira". Ajudou a consolidar o mito do regime castrista humanista e democrático, que prende, tortura e mata, mas o faz em nome da humanidade.

 
- Genocídio Americano: a Guerra do Paraguai, Julio José Chiavenato (1979) - Obra que pretendeu ser uma "denúncia" sobre a Guerra do Paraguai, a qual mostra como um massacre ("genocídio") em que Brasil, Argentina e Uruguai, seguindo ordens do imperialismo da Inglaterra, destruíram o Paraguai, que teria pago em sangue por ser um país supostamente próspero e independente. Tal mito, usado pela esquerda durante décadas, foi totalmente desmentido por pesquisas posteriores. Desde então, está desmoralizado como obra histórica séria. 
 
 
Igreja, carisma e poder, Leonardo Boff (1984) - Livro que, inspirado na radicalização à esquerda de parte do clero na América Latina depois do Concílio Vaticano II (1962-65), é uma das referências da autoproclamada "teologia da libertação", tentativa herética oportunista de infiltrar o marxismo na Igreja Católica que teve bastante influência nos anos 70 e 80, principalmente no campo. Leonardo Boff, um de seus principais ideólogos, foi condenado em boa hora ao silêncio obsequioso pelo Papa João Paulo II em 1985 e, vendo que não poderia transformar o Vaticano numa Comunidade Eclesial de Base (CEB), num sindicato ou numa filial do PT, desligou-se da Igreja, trocando-a por Fidel Castro. Continua assessorando os dirigentes petistas, tendo-se reinventado, desde então, como autor de livros de auto-ajuda e guru ecológico. 

 
- Brasil: Nunca Mais, Arquidiocese de São Paulo (1985) - Embora importante como registro histórico e denúncia das violações dos direitos humanos pela ditadura militar, peca por não se referir, em nenhum momento, aos crimes da esquerda armada. Serviu, assim, como uma luva para os propósitos revanchistas dos que querem reescrever a História às custas dos cofres públicos.
 

- Fidel e a Religião, Frei Betto (1985) - Monólogo em forma de entrevista do ditador mais amado da esquerda brasileira, por um dos expoentes da "teologia da libertação", um frei dominicano que se autointitula "irmão em Cristo e em Castro" (sic). Um monumento à sabujice e à devoção sem limites a tiranos assassinos.


- Convite à Filosofia, de Marilena Chauí (1994) - Livro didático que deseducou uma geração inteira de estudantes brasileiros do ensino médio. É uma espécie de bê-á-bá do pensamento marxista disfarçado de manual filosófico. A autora, verdadeira musa intelectual do PT, já chegou a dizer que, quando Lula fala, o mundo se ilumina. Em compensação, odeia a classe média.
 

- O Povo Brasileiro, Darcy Ribeiro (1995) - Último livro de Darcy Ribeiro, antropólogo que começou no PCB, foi ministro da Casa Civil de João Goulart e ficou famoso pela criação da UnB e por sua associação com o caudilho Leonel Brizola nos anos 80, quando defendia a beleza e funcionalidade das favelas, "a verdadeira habitação brasileira". Síntese das teorias populistas do "socialismo moreno" brizolista, parte da ideia de que o Brasil, devido a características raciais únicas, seria uma "nova civilização", superior a todas as outras (sobretudo aos EUA, dos quais o autor negava qualquer contribuição cultural significativa). Uma das fontes da "cultura da periferia" que hoje infesta as rádios e tevês do país. 
 
 
- Formação do Império Americano, Moniz Bandeira (2005) - Versão antiamericana da formação dos EUA, por um expoente do antiamericanismo verde-amarelo. Descreve a ascensão do Gigante do Norte como uma marcha ininterrupta de saque e guerras por um vilão da política internacional, e os demais países, como vítimas passivas do "imperialismo ianque". Basta citar que coloca no mesmo patamar o presidente Franklin Roosevelt e o ditador Adolf Hitler. Precisa dizer mais? 
 
Menções honrosas:


- Lula, o Filho do Brasil, Denise Paraná (2003) - hagiografia do ex-sindicalista e principal beneficiário do Mensalão. Uma ode ao operário filho de uma mulher que nasceu analfabeta. Virou filme, o fracasso mais caro já feito no Brasil.
 

- A Vida quer é Coragem, de Ricardo Batista Amaral (2011) - Na trilha do Chefe, o Poste também ganhou uma biografia elogiosa. Metade relato dos anos de "formação política" como militante de organizações terroristas nos "anos de chumbo" da ditadura militar, metade narrativa da campanha presidencial de 2010, tenta vender a ideia da "presidenta" ultra-preparada e competente, que doou generosamente a juventude pela luta "por um Brasil melhor" etc. O título é uma pérola de ironia involuntária.
 

- Os Últimos Soldados da Guerra Fria, Fernando Morais (2011) - Elogio da deduragem em forma de thriller político.

- Todos os de Emir Sader: Infelizmente não foi possível selecionar nenhuma obra desse autor. Qualquer livro dele merece constar de qualquer lista de piores, no Brasil ou alhures.
 
26 de setembro de 2013
in blog do contra

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