"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 14 de setembro de 2013

O TERRORISMO DO SER HUMANO


 

O terrorismo é um ato selvagem e desleal com o intuito de causar dor e sofrimento a uma pessoa, grupo, sociedade e população. Alguns estudos apontam que teve início no século I d.C., quando os sicários, que significa “homens de punhal”, atacavam cidadãos judeus e não judeus considerados a favor do domínio romano.

O terrorismo torna-se eficaz pelos instrumentos que utiliza para cometer seus propósitos: a surpresa, a sustentação nas crenças que fundamentam o ato e posteriormente o trauma causado. A intensidade do atentado define o grau de comprometimento do trauma e em se tratando de um gesto desumano, quanto mais sanguinário e destrutivo, maior o poder de corrosão. O trauma causado são sequelas e que vão conduzir o pensamento e os rumos de uma nação.

Ideologias totalitaristas nos quais os propósitos políticos misturam-se com crenças religiosas e motivadas por visões conspiratórias, os terroristas são grupos que se formam e utilizam a sanguinolência como modalidade de luta e reivindicação. Inúmeros são os grupos terroristas espalhados pelo mundo como o ETA, na Espanha; as FARC, na Colômbia; os Tigres Tâmeis, no Sri Lanka; o IRA, na Irlanda do Norte; a Al Qaeda no Afeganistão e grupos islâmicos fundamentalistas em diversos países africanos e asiáticos.  

O impacto do ato terrorista num primeiro instante causa perplexidade e consternação. A população fica apavorada e que dá vazão a uma histeria, ou seja, um descontrole emocional, insegurança e medo. Num segundo momento, esta sensação de medo revela uma tendência a uma reação selvagem e primitiva, mas sem sair de cena.

O medo continua, pois o sentimento alimenta a percepção, a compreensão da fragilidade e do ódio fomenta a retaliação e a reação ao sofrimento é imediato e igualmente destrutivo ao ato sofrido. O medo é tendencioso, privilegiando o sofredor, cria vitimizações e uma atmosfera de pânico.

O medo ao mesmo tempo em que deixa a pessoa em alerta pode distorcer uma verdade, confundir. Mas a reação violenta é inevitável porque é uma tentativa de suplantar a fragilidade, mas condicionada a sensação de pavor enfraquece uma racionalização.

No nazismo existia a expressão “Führerprinzip”, ou seja, o princípio de liderança, a lei do chefe. O pai eleito que protege seu rebanho, sua prole, seus filhos. A referência que utilizo para explicar este princípio pode causar incômodo, mas quero com isso, provocar o leitor a uma reflexão.

O nazismo que possuía como argumentação um movimento político foi liderado por um déspota e que regeu toda uma nação, criando uma nação sua imagem e mentalidade. A ação terrorista possui este mecanismo. Influência opiniões e controla pessoas contra um determinado grupo. Acreditam em qualquer coisa que seja apoiado no medo e passam a lutar, supostamente por um ideal.

Uma interpretação básica do Inconsciente Coletivo do psicólogo Carl Gustav Jung nos ensina que a existência humana está relacionada aos eventos do passado e que nossa psique herda as influências das imagens e experiências do passado e cria os arquétipos, fenômenos psíquicos que persistem e se moldam no nosso inconsciente. Colhemos o que plantamos, portanto, somos o reflexo de nossos pensamentos e influenciados por pessoas, grupos, comunidades, sociedades, ideologias e muitas outras camadas que antecedem o que é atual e constitui nossa realidade.

Um exemplo desta concepção foi que por causa da Inquisição, na Idade Média, que o Vaticano, décadas depois, se retratou e pediu desculpas pelas atrocidades que a igreja católica cometeu na idade média, admitindo sua culpa. Foi a ditadura no Brasil, para ficarmos com um exemplo próximo, que houve as passeatas e as revoltas contra o regime autoritarista e as discussões das “Diretas Já”. A mudança de uma política militarista pela democracia e deste movimento o direito da população ao voto. Olhar para o passado e reconhecer os erros se fazem necessário, não apenas para corrigi-los, mas o intuito é transformá-los em algo melhor.

No terrorismo as mortes de pessoas inocentes dão a tônica de uma violência desmedida e cruel.  Não existe vítima e o vilão. A intersecção dos papéis confunde e desassocia a figura do herói e do bandido. Os ditadores continuam no comando e a sensação de medo circunda o cotidiano das pessoas. A sociedade continua repetindo as lições deixadas por seus tiranos e cria novos fascistas.

A violência entre os povos que acompanha o desenvolvimento da humanidade desde seus primórdios e é a tônica de mentalidades alienadas, parece também flertar com a morbidez. Este é então o estilo de vida de pessoas que ao mesmo tempo em que conseguem se chocar com uma carnificina, está à mercê da própria falta de escrúpulos.

Muitos se comovem com a desgraça alheia, outros se deliciam e na verdade, todos agradecem por não ter sido com ele. Parece que temos muito mais dificuldades de aprender com os erros do passado porque a soberba enfraquece a verdade, haja vista a bandalheira política, em que governantes e dirigentes se posicionam como deuses e são intocáveis.

A intolerância bebe da mesma fonte das ideologias, a maioria, utópicas e sem valor. A violência do terrorismo, o derramamento de sangue, a chacina em massa de inocentes decreta a falência do humano que deixou de “ser” e existir.  
 
14 de setembro de 2013
Breno Rosostolato é psicoterapeuta e professor da Faculdade Santa Marcelina.

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