"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

POSSIBILIDADE DE RECESSÃO EM 2021

Começamos a nos aproximar de um novo ano e estudos realizados por instituições ligadas ao mercado financeiro sinalizam a possibilidade de o Brasil novamente vir a enfrentar grandes desafios. A expectativa do governo e dos analistas atualmente é que a recuperação da economia brasileira será semelhante a uma curva em “V”, aquela em que a retomada seria rápida e a queda que tivemos em nosso PIB (Produto Interno Bruto) neste ano seria compensada no decorrer de 2021.

Um cenário perfeito para o governo, empresários e investidores, mas não podemos desprezar que, antes disso, possamos encarar outro período recessivo com uma dimensão semelhante à de 2014/2017 no próximo ano. Existem alguns fatores alinhados em uma combinação negativa de forças que poderá penalizar o nosso crescimento econômico.

O mercado de trabalho encontra-se literalmente enfraquecido e já estamos diante de um abismo fiscal que não suporta mais gastos públicos. Portanto, corremos um sério risco, com o crescimento imediato que tivemos da poupança durante a pandemia, de não ser possível convertê-la inteiramente em consumo após o termino do distanciamento social.

O aumento do consumo estimulado pelo crédito poderá vir a ser refreado, caso haja uma piora da carteira de ativos problemáticos dos bancos, especialmente no crédito de pessoas físicas, causado pelo crescimento da inadimplência. A percepção de risco fiscal vem aumentando significativamente, apresentando um quadro extremamente preocupante na elevação da relação dívida/PIB, podendo alcançar 100% ao final do ano, sendo este um patamar inadmissível para um país emergente.

Com isso, está sendo empurrado o nível das condições financeiras da economia para uma situação eminentemente contracionista e, se esse movimento continuar insistindo, fatalmente o desempenho econômico será dificultado. Aliás, antes da pandemia, o Brasil já enfrentava desafios com condições fiscais desfavoráveis e elevado nível de incerteza que impediram uma retomada mais robusta através do aumento dos investimentos.

Jamais se pode desconhecer o mérito do auxílio emergencial que visou abrandar o impacto econômico gerado pela Covid-19, embora o programa tenha criado um ônus perigoso para o governo; agora, as alternativas que restam não são das melhores. Do ponto de vista fiscal, torna-se prudente não alongá-las, respeitando integralmente o “teto do gasto” e, ainda mais, sob pena de arremessar o Brasil numa gravíssima crise de dívida pública.

O aumento no consumo, que poderia estimular a economia, já começa a revelar uma ameaça de que poderá perder o fôlego adiante, com o desemprego nos dias de hoje em nível recorde e, também, pela escassez da margem existente para elevar o endividamento das famílias via concessão de crédito.

A união destas forças impressiona e, a meu ver, trazem riscos baixistas, aparecendo ainda pouco no radar do mercado financeiro para o próximo ano. Elas estão relacionadas com o crescimento da nossa atividade econômica, podendo se aproximar de zero ou mesmo se mostrar levemente no campo negativo, caso sejam mantidas as condições restritivas observadas aqui, até meados do segundo semestre de 2021.


27 de outubro de 2020
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador). 

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