"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 14 de maio de 2017

UM ANO DE TEMER

Em seu 1.º discurso, ele prometia buscar confiança. Desde então, coleciona sucessos e fracassos

Como o grito Eureka!, que o cientista grego Arquimedes bradou ao descobrir a solução para um complexo dilema do rei Hierão, o presidente Michel Temer simbolizou na palavra confiança a descoberta de um novo caminho que tirasse o Brasil do caos deixado por Dilma Rousseff.

Há um ano, em seu primeiro discurso como presidente da República, ainda interino, Temer enfatizou e repetiu três vezes: “Confiança, confiança, confiança”. Prometia buscá-la e, desde então, vem colecionando sucessos e fracassos. Conquistada com falhas e lacunas, a confiança foi fundamental para derrubar a inflação. E isso não é pouco, é condição indispensável para controlar a explosiva dívida pública, reduzir os juros e retomar o crescimento econômico, entre inúmeros outros efeitos positivos para a saúde da economia. Porém a enorme falta de ética e a desconfiança em relação à classe política, sobretudo no partido do presidente, empurram o Brasil para sucessivas crises (oito ministros demitidos por corrupção) e robustecem um clima de instabilidade política que atrapalha e adia a implementação de ações voltadas para acelerar o investimento, o crescimento da economia e a geração de empregos.

Por paradoxal que seja, é justamente neste ambiente de instabilidade política, com parlamentares da base aliada desacreditados e acusados de corrupção pelos delatores da Operação Lava Jato, que Michel Temer vem conseguindo algum êxito na relação com o Congresso Nacional e a classe política.

Aprovou no Legislativo a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do Teto dos Gastos, deu um bom empurrão na reforma trabalhista e é provável que a difícil reforma da Previdência seja votada e aprovada na Câmara dos Deputados no início de junho. Nesse campo, tudo indica que, em um ano de governo, Temer vai conseguir o que Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma não conseguiram ao longo de seus mandatos. E isso tudo com a popularidade do presidente no chão.

A confiança clamada por Temer era consequência do enorme descrédito em Dilma Rousseff e da profusão de erros e fracassos a que ela submeteu o País com a desastrada “nova matriz econômica”. Mas durou pouco o clima de otimismo que sucedeu. O mérito do novo presidente ao escolher sua qualificada e respeitada equipe econômica não se repetiu na escolha dos ministros da área política. Até agora, a confiança na gestão econômica foi pouco abalada, e o fato de a inflação ter desabado de 10% para 4,08% em apenas um ano ajudou muito, mas o País dá, ainda, sinais inseguros de saída da recessão.

O programa de privatização poderia estar mais avançado, no entanto ocorreram ações concretas: a licitação dos aeroportos de Fortaleza, Porto Alegre, Salvador e Florianópolis; três novos leilões de petróleo (dois deles na área do pré-sal) previstos para acontecer em setembro e em outubro; parcerias público-privadas com Estados nas áreas de saneamento e distribuição de gás a caminho; e leilões de linhas de transmissão no setor elétrico são algumas iniciativas. Porém, com o Estado aplicando apenas 2% em investimentos, é urgente e necessário planejar uma política estratégica focada em atrair capitais privados para toda a infraestrutura. São iniciativas que dão fôlego ao desenvolvimento, geram riqueza e ajudam a reverter o desolador quadro de 14,2 milhões de desempregados existentes hoje no Brasil.

Por ter tido o cuidado de nomear Pedro Parente, um gestor com experiência técnica e currículo respeitados, Temer obteve importante e positiva resposta na estratégica Petrobrás. Massacrada ética e financeiramente pelos dois governos petistas, há dois trimestres seguidos a estatal já contabiliza lucro, murchou o inchaço de pessoal e tem reduzido seu elevado endividamento. A Eletrobrás não conseguiu ainda sair do prejuízo, mas o governo prepara o desmonte da desastrada política de tarifas de Dilma, que quase levou essa estatal à falência e o setor elétrico à completa desordem.


14 de maio de 2017
Suely Caldas.Estadão

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