"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 14 de maio de 2017

O FIM DA NOVA REPÚBLICA



Entre os múltiplos espantos da Era PT, nenhum supera a circunstância anômala de, ao longo de treze anos, não ter havido uma oposição, nem de fato, nem de fachada. O PT reinou, absoluto.

Mesmo no período do regime militar, com todas as limitações ao livre exercício da política (não havia pluripartidarismo e os mandatos podiam ser cassados pelo Executivo), vicejou uma oposição aguerrida, centrada no extinto MDB.

E foi essa oposição que acabou por conquistar a sociedade civil, minar a credibilidade do regime militar e, por fim, derrubá-lo, sem enfrentamento. 
Surgiu então o que se convencionou chamar de Nova República, que, como se veria, não era nem nova, nem muito menos republicana - e sai de cena agora, com a remoção do PT.

Os militares voltaram para a caserna e os políticos, numa expressiva amostragem, para a cadeia. Mas esse não é o ponto. O essencial é entender por que se estabeleceu o vazio oposicionista.

A Lava Jato vem esclarecendo, gradualmente. A roubalheira promovida pelo PT não excluiu a dos adversários. De certa forma, a ocultou, pela desproporção entre ambas. 
A escala petista extrapolou a convencional, dos milhões. Ultrapassou até a dos bilhões. O TCU examina, presentemente, contratos irregulares do BNDES que somam a singela quantia de R$ 1, 3 trilhão. Nada menos.

Ontem, a Polícia Federal, em operação denominada Bullish, revelou que uma fração dessa dinheirama – R$ 8 bilhões – atendeu a um único frigorífico, o Grupo J & F, dono da marca Friboi.

Mas o que são R$ 8 bilhões diante de R$ 1,3 trilhão, que, além de atender empresários amigos, como os da Friboi, providenciaram obras de infraestrutura em países bolivarianos e ditaduras africanas? Entre outras, porto e malha aeroportuária em Cuba, metrô em Caracas, porto no Uruguai, estradas na Bolívia etc.

O Brasil, não tendo problemas de infraestrutura, empenhou-se generosamente em resolver os dos vizinhos. Não todos, claro: só os com assento no Foro de São Paulo. A auxiliá-lo, o braço laborioso das empreiteiras patriotas: Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez etc.

A oposição não foi esquecida, como revelou a delação da Odebrecht; ficou com as migalhas do banquete. Mas roubo é roubo. Se alguém rouba um Mercedes-Benz e outro um Fiat Uno, ambos são ladrões e estão inclusos no mesmo artigo do Código Penal.

Pois bem: a oposição optou pelo Fiat Uno, e agora começa a aparecer sua frota de calhambeques, que mostra que pelo menos não ficou a pé. Isso explica a pouca ênfase dos tucanos no curso do impeachment (efetuado por imposição das megamanifestações de rua) e a insistência em sustentar a honestidade da ex-presidente Dilma Roussef, desmentida nas delações da Odebrecht – e confirmada pelos marqueteiros João Santana e Mônica Moura.

A delação dos marqueteiros, tornada pública na quinta-feira, um dia após o depoimento de Lula ao juiz Sérgio Moro, confirma o termo “organização criminosa”, cunhado pelo ministro Celso de Mello, do STF, ao tempo do Mensalão, para definir o PT e seus aliados.

A questão é: quem não era aliado? É claro que há exceções, mas no plano individual. Há, sim, gente honesta no Congresso, mas impotente para se sobrepor aos tentáculos da sofisticada organização criminosa, carinhosamente apelidada de Orcrim.

O que, pois, hoje, está em jogo é a busca desesperada de uma “saída política” que reduza ao mínimo o universo de sentenciados. Anistia-se o pessoal do Fiat Uno (caixa dois e delitos menores), pune-se uma parcela dos ladrões de Mercedes-Benz (admite-se a esta altura o próprio Lula, o Chefe) e poupa-se a organização. A Orcrim.

Há empenho quanto a isso nos três Poderes, o que explica os recentes atritos entre ministros do STF – e destes com procuradores do Ministério Público. 
O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na segunda turma do STF, foi voto vencido na soltura de José Dirceu. 
E, para evitar novo revés, decidiu remeter o pedido de habeas corpus de Antonio Palocci ao plenário da Corte.

Palocci, diante do panorama com que a semana se encerrou – fechamento do Instituto Lula, depoimento desastroso do ex-presidente a Sérgio Moro, delação de Mônica Moura e João Santana e Operação Bullish -, decidiu reativar sua delação premiada.


A Lava Jato sai fortalecida de uma semana que se iniciou na sequência do revés representado pela soltura de José Dirceu. Vem aí o strip-tease do sistema financeiro, diante do qual tudo o que se viu até aqui é apenas aperitivo para o banquete que se descortina.


1'4 de maio de 2017
VEJA

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