A crise da imprensa escrita é colossal e dramática. Os jornais economizam no que podem, fecham sucursais, demitem correspondentes, e evitam viagens de repórteres e fotógrafos e passam a trabalhar com colaboradores eventuais. Até o poderoso O Globo, do grupo controlado pelos bilionários irmãos Marinho, entrou nessa onda contracionista. Mas se deu ao contratar os serviços da repórter Aura Mazda, que está dando um show em Natal, na cobertura da rebelião na penitenciária de Alcaçuz. Foi ela quem revelou que o governo do Rio Grande do Norte teve de se curvar diante da facção paulista PCC (Primeiro Comando da Capital) e pedir permissão aos criminosos para que a tropa de choque na PM pudesse entrar na prisão, vejam a que ponto chegamos.
A reportagem não conseguiu confirmar se houve negociação com outras facções. Os policiais militares reralmente entraram, mas essa iniciativa não teve maior significado, porque a penitenciária continuou sobre controle das duas facções que estão em guerra em âmbito nacional – o PCC e o CV (Comando Vermelho).
AGENTES COMPRADOS – Outra importante revelação de Aura Mazda foi de que o “setor de inteligência” do governo estadual identificou que agentes penitenciários teriam sido “comprados” para abandonar o portão de aço que separa membros das duas facções rivais ao anoitecer, pouco depois do horário de visita dos presos. “As mulheres foram orientadas a levar mais comida para os maridos”, afirma um investigador, na condição do anonimato. Armas e outros objetos teriam sido jogados para dentro do presídio.
Em Alcaçuz, desde 2015, o presídio não tem grades nas celas. Os presos passam os dias soltos pelos pavilhões e pátios. Nessas condições, para fazer uma rebelião basta subornar alguns agentes penitenciários, e estamos conversados.
O motim foi encomendado por chefes da facção de São Paulo. Eles teriam agido por vingança, depois da matança no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), no Amazonas, comandada pela facção regional Família do Norte (FDN). Em Alcaçuz, cerca de 700 presos do bando local são filiados ao Sindicato do RN, grupo aliado à FDN.
SISTEMA JAPONÊS – No sistema carcerário criado no Japão para desmontar a sanguinária máfia Yakuza, que dominava o crime organizado e tinha forte influência na política, o principal fator é o controle dos agentes penitenciários, que trabalham com máscaras de cirurgia para encobrir os rostos e não serem identificados pelos presos, que não podem lhes dirigir a palavra ou sequer olhar para ele. Quando a regra é cumprida, o preso vai imediatamente para a solitária.
Aqui no Brasil, as facções só dominam os presídios devido à esculhambação reinante, como ocorre em Alcaçuz, onde desde 2015 as celas privatizadas não têm grandes e os presos vivem soltos nos pavilhões, na maior promiscuidade com os agentes penitenciários. Enquanto não se resolver esse problema, nada mudará. Por óbvio, as prisões não são centros de recreio, os detentos devem ser submetidos a normas rígidas, com visitas severamente controladas, para que não entrem armas, celulares e drogas. É o mínimo que se pode esperar das autoridades, mas nem isso fazem.
EXEMPLO VEM DE CIMA – O fato concreto é que no Brasil a esculhambação reina dentro e fora das prisões. Criminosos perigosíssimos são presos e voltam à liberdade, como aconteceu esta semana com o degenerado que sequestrou, estuprou e matou da menina Thifany, aqui no Rio de Janeiro.
para tentar retomar — ainda esta semana — o controle da penitenciária estadual de Alcaçuz, na Grande Natal. O presídio, o maior do estado, foi palco da matança de pelo menos 26 detentos no fim de semana. Segundo informações obtidas pelo Globo, uma delegada da Polícia Civil e um oficial da Polícia Militar foram designados para conversar com criminosos. O objetivo da negociação é evitar novo confronto com o Sindicato do RN, bando local rival da facção paulista.
E o exemplo vem de cima, lá de Brasília, onde temos um governo recheado de corruptos, com ministros respondendo a processos e com bens bloqueados, como Eliseu Padilha (Casa Civil) e Blairo Maggi (Agricultura), e o presidente da República acha que isso é normal – sempre em nome da governabilidade, claro, mas na verdade essa prática merece outras denominações.
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PS – Na cidade de Natal, doze ônibus e um carro do governo estadual foram incendiados nos últimos dias. As autoridades “desconfiam” que se trata de algo ligado à rebelião no presídio. Desse jeito, vão acabar descobrindo a pólvora de novo. (C.N.)
21 de janeiro de 2017
Carlos Newton
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