PT perde fôlego eleitoral enquanto cresce envolvimento do partido na Lava-Jato. À medida em que vai sendo revelado pela Operação Lava-Jato o esquema de financiamento do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores, com a prisão de dois dos ministros da Fazenda de raiz do petismo, Guido Mantega e Antonio Palocci — Joaquim Levy foi um equivocado estranho no ninho que, para sua própria felicidade, não passará de um pé de página na História desse período —, vai chegando também ao limite mais baixo a sua capacidade de atuação eleitoral, o que vem sendo explicitado pelas pesquisas de opinião para as eleições municipais, cujo primeiro turno se realiza no próximo domingo.
No Rio, a candidata do PCdoB, Jandira Feghali, que tinha a aspiração de ser o voto útil da esquerda, parece ter tomado uma decisão equivocada ao chamar para seu palanque a ex-presidente Dilma e, subsidiariamente, o ex-presidente Lula. Sua ascensão foi subitamente estancada com esse movimento, dando passagem a uma possível união de centro-direita em torno do candidato oficial, Pedro Paulo.
A ligeira subida deste também revela um provável erro de estratégia de sua campanha, que tirou de cena o prefeito Eduardo Paes, por conta de algumas gafes e polêmicas provocadas por declarações infelizes, mas não levou em conta que sua administração tem uma avaliação de bom e ótimo que pode compensar as deficiências do candidato oficial, ainda vulnerável à acusação de ter surrado sua exmulher mesmo depois de absolvido pelo Supremo Tribunal Federal.
Em São Paulo, o petismo atinge até mesmo quem fugiu dele, como a ex-prefeita Marta Suplicy, que teve uma queda constatada nessa recente pesquisa do Ibope, quando parecia que superaria Celso Russomanno para disputar o segundo turno contra João Doria, o candidato tucano do governador Geraldo Alckmin. O prefeito petista Fernando Haddad, que recebeu o suposto reforço do ex-presidente Lula nos últimos dias de campanha, não demonstra fôlego para ir ao segundo turno.
Em comum nos dois principais estados do país há o fato de que candidatos da Igreja Universal estão bem colocados para a disputa do segundo turno, o que representa um perigoso e indesejável envolvimento de uma seita religiosa com um projeto de poder político.
Justamente porque seu projeto político de poder permanente está sendo desvendado pela Operação Lava- Jato, o PT se defronta com uma previsível debacle nessas eleições municipais.
A prisão de Antonio Palocci tem uma gravidade política muito maior que a de Guido Mantega, na semana passada. Mas as duas, em sequência, denotam que o esquema de financiamento político para a permanência no poder tinha um método, a ponto de Palocci ter sucedido a Celso Daniel, que seria o homem forte da candidatura Lula em 2002 não tivesse sido assassinado, e Mantega sucedeu a Palocci na continuação da montagem do esquema de financiamento político.
Não é à toa, portanto, que o caso Celso Daniel voltou à tona durante a Operação Lava-Jato, já que está ligado a um empréstimo fraudulento do Banco Schahin para o pagamento de uma chantagem a que Lula e outros dirigentes do partido estavam sendo submetidos.
A família de Celso Daniel afirma que o ex-prefeito de Santo André foi morto porque descobriu o que depois ficou claro nas investigações do petrolão: o esquema de corrupção montado para viabilizar a chegada ao governo central, desde quando o PT alcançou o poder em alguns municípios, estava sendo desvirtuado para o enriquecimento de alguns “companheiros”.
Por essa teoria, Celso Daniel considerava que a causa final justificava os desvios, mas não aceitava o enriquecimento pessoal, que acabou sendo revelado em relação aos dirigentes petistas originais, como José Dirceu e o próprio Palocci, que foi prefeito de Ribeirão Preto.
O envolvimento no esquema de corrupção de três tesoureiros do partido e mais dois ministros da Fazenda e dois chefes da Casa Civil mostra bem como a escala de liderança do PT passava pelos mesmos postos, sem nenhuma improvisação.
Tanto que a ex-presidente Dilma assumiu o comando, e a sucessão de Lula, ao chegar à Casa Civil e à presidência do Conselho de Administração da Petrobras, fonte de investigações sobre desvios de dinheiro que atingem igualmente Palocci e Mantega e se aproximam de Dilma.
28 de setembro de 2016
Merval Pereira, O Globo
No Rio, a candidata do PCdoB, Jandira Feghali, que tinha a aspiração de ser o voto útil da esquerda, parece ter tomado uma decisão equivocada ao chamar para seu palanque a ex-presidente Dilma e, subsidiariamente, o ex-presidente Lula. Sua ascensão foi subitamente estancada com esse movimento, dando passagem a uma possível união de centro-direita em torno do candidato oficial, Pedro Paulo.
A ligeira subida deste também revela um provável erro de estratégia de sua campanha, que tirou de cena o prefeito Eduardo Paes, por conta de algumas gafes e polêmicas provocadas por declarações infelizes, mas não levou em conta que sua administração tem uma avaliação de bom e ótimo que pode compensar as deficiências do candidato oficial, ainda vulnerável à acusação de ter surrado sua exmulher mesmo depois de absolvido pelo Supremo Tribunal Federal.
Em São Paulo, o petismo atinge até mesmo quem fugiu dele, como a ex-prefeita Marta Suplicy, que teve uma queda constatada nessa recente pesquisa do Ibope, quando parecia que superaria Celso Russomanno para disputar o segundo turno contra João Doria, o candidato tucano do governador Geraldo Alckmin. O prefeito petista Fernando Haddad, que recebeu o suposto reforço do ex-presidente Lula nos últimos dias de campanha, não demonstra fôlego para ir ao segundo turno.
Em comum nos dois principais estados do país há o fato de que candidatos da Igreja Universal estão bem colocados para a disputa do segundo turno, o que representa um perigoso e indesejável envolvimento de uma seita religiosa com um projeto de poder político.
Justamente porque seu projeto político de poder permanente está sendo desvendado pela Operação Lava- Jato, o PT se defronta com uma previsível debacle nessas eleições municipais.
A prisão de Antonio Palocci tem uma gravidade política muito maior que a de Guido Mantega, na semana passada. Mas as duas, em sequência, denotam que o esquema de financiamento político para a permanência no poder tinha um método, a ponto de Palocci ter sucedido a Celso Daniel, que seria o homem forte da candidatura Lula em 2002 não tivesse sido assassinado, e Mantega sucedeu a Palocci na continuação da montagem do esquema de financiamento político.
Não é à toa, portanto, que o caso Celso Daniel voltou à tona durante a Operação Lava-Jato, já que está ligado a um empréstimo fraudulento do Banco Schahin para o pagamento de uma chantagem a que Lula e outros dirigentes do partido estavam sendo submetidos.
A família de Celso Daniel afirma que o ex-prefeito de Santo André foi morto porque descobriu o que depois ficou claro nas investigações do petrolão: o esquema de corrupção montado para viabilizar a chegada ao governo central, desde quando o PT alcançou o poder em alguns municípios, estava sendo desvirtuado para o enriquecimento de alguns “companheiros”.
Por essa teoria, Celso Daniel considerava que a causa final justificava os desvios, mas não aceitava o enriquecimento pessoal, que acabou sendo revelado em relação aos dirigentes petistas originais, como José Dirceu e o próprio Palocci, que foi prefeito de Ribeirão Preto.
O envolvimento no esquema de corrupção de três tesoureiros do partido e mais dois ministros da Fazenda e dois chefes da Casa Civil mostra bem como a escala de liderança do PT passava pelos mesmos postos, sem nenhuma improvisação.
Tanto que a ex-presidente Dilma assumiu o comando, e a sucessão de Lula, ao chegar à Casa Civil e à presidência do Conselho de Administração da Petrobras, fonte de investigações sobre desvios de dinheiro que atingem igualmente Palocci e Mantega e se aproximam de Dilma.
28 de setembro de 2016
Merval Pereira, O Globo
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