A espalhafatosa operação do Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para evitar atos de terrorismo na Olimpíada é altamente polêmica e controversa. Os dez suspeitos presos nesta quinta-feira são claramente amadores, com baixa capacidade de organização e execução. Lembrando o genial filósofo Aristóteles, que há 2,3 mil anos já ensinava que “o bom senso é elemento central da conduta ética, uma capacidade virtuosa de achar o meio-termo e distinguir a ação correta”, pode-se dizer que, no caso do terrorismo tropical, o bom senso indicava que a estratégia mais apropriada seria simplesmente monitorar os suspeitos 24 horas por dia.
Com esse cuidado, seria evitada a concretização de atentados e seus frustrados autores poderiam ser presos em flagrante, tudo isso sem causar pânico nem marcar presença na escandalosa mídia internacional, que está esvaziando o grande evento.
Na verdade, o que a mídia tem passado para o resto do mundo é que a Olimpíada no Rio de Janeiro representa um risco crescente em termos de saúde, organização e segurança, esta é a indesmentível realidade.
TUDO VAI MAL – Primeiro, surgiram as ameças de zika, dengue, chicungunha e gripe H1N1. Depois, o atraso nas obras, a queda da ciclovia. Para agravar a crise, o incompetente governador em exercício Francisco Dornelles baixou o decreto da “calamidade pública”, provocando a devolução de 50 mil ingressos já comprados para os jogos. E para culminar, o prefeito Eduardo Paes passou a dar seguidas entrevistas dizendo que não há segurança na cidade e a Olimpíada é uma “oportunidade perdida”.
Em tradução simultânea, pode-se dizer que o Rio de Janeiro nem precisa de inimigos, porque seus próprios governantes se encarregam de destruir a imagem da cidade. E o fazem com um impressionante empenho.
UMA VOZ SENSATA – Na chamada undécima hora, enfim apareceu um político de gabarito para defender a cidade, embora seja tarde demais, o mal já está feito. Em discurso a militares que irão compor as forças de segurança durante a Olimpíada no Rio de Janeiro, na sexta-feira, o ministro da Defesa Raul Jungmann criticou a “paranóia exacerbada pré-Olimpíada”. Voltou a afirmar que não há qualquer “ameaça consistente” de ação durante os Jogos, destacando que as Forças Armadas terão 22 mil militares no Rio durante evento, além dos efetivos da Polícia Militar, da Polícia Civil e da Guarda Municipal.
Ressalve-se que Jungmann é um homem honrado, que está há décadas na política, já foi ministro duas vezes e não enriqueceu ilicitamente. Pelo contrário, sua declaração de renda revela que não tem casa própria, paga aluguel e seu único bem é um automóvel. Justamente por isso, merece ser ouvido com especial atenção.
RISCO MAL CALCULADO – Ao lançar essa operação escalafobética, as forças de segurança, sob o comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) , partiram do princípio de que essa iniciativa desestimulará quaisquer outros atos de terrorismo. Pode ser até que isso ocorra, mas é preciso raciocinar que se trata de fanáticos religiosos que não ligam para a vida. Pelo contrário, os islamistas têm prazer em morrer pela guerra santa, para encontrar a felicidade eterna. E se multiplicam como coelhos, quando se prende um deles, logo aparecem outros para substituí-lo.
Nesse quadro real, promover operações hollywoodianas para prendê-los com base na lei antiterrorismo, mas sem flagrante delito da tentativa de atentado (ou seja, por mero crime de opinião), não somente dificulta a acusação pelo Ministério Público, como também pode despertar, ainda mais, a ira dos mais fanáticos. É aí que mora o perigo.
23 de julho de 2016
Carlos Newton
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