Não acredito que Lula tenha usado laranjas para comprar o sítio de Atibaia. Aos 70 anos, qual o sentido de comprar um sítio sem poder ter a escritura? E sendo de amigos ou parentes, com livre trânsito, o que mais poderia querer? É mais da natureza dele ajudar os amigos em troca de bens imateriais, como prestígio e camaradagem.
Desconfio que tenha havido o seguinte:
O filho Fábio comprou o sítio em sociedade com os sócios Jonas Suassuna e Fernando Bittar (R$ 500 mil de cada) e ficou como sócio oculto. De outra forma, o compadre de Lula, Roberto Teixeira, que sempre alocou imóveis de graça para a família, não teria se intrometido no negócio.
Com a anuência dos sócios, o filho colocou o imóvel à disposição do pai para o resto da vida. Acontece nas melhores famílias e, sobretudo, se o chefe de família for um ex-presidente da República. Se eu tivesse um sítio e se FHC ou Lula quisessem usá-lo pelo tempo que quisessem, eu até faria uma reformazinha.
Às vésperas de sair da presidência, em 2010, Lula pediu ao amigo José Carlos Bumlai — ou lhe foi oferecida — uma intermediação para dar uma “melhorada” no sítio, fazer um puxadinho, nada grandioso, como é seu estilo, para dar mais conforto a seus fins de semana.
ODEBRECHT E OAS
Como vinha fazendo informalmente desde as negociações para levantar dinheiro para o PT em 2004, Bumlai acionou a Odebrecht e a OAS, que deviam favores ao presidente ou aos governos petistas, em obras internacionais via BNDES ou na Petrobras.
Dada a intimidade com os donos das empreiteiras, dona Marisa pode ter pedido à revelia dele, versão que os advogados de defesa começam a ver com simpatia e se encaixa no histórico de estratégias do círculo de amigos do ex-presidente de lhe providenciarem um culpado.
Habituadas a fazer doações para o Instituto Lula, as empresas não teriam visto problema em ampliá-las para imóveis que o hospedassem. A distribuição de móveis e objetos pessoais do presidente entre sua residência, seu instituto e o sítio pode ter ensejado a interpretação.
Como empresas que fazem estádios, aeroportos e barragens não fazem puxadinhos, fizeram algo mais sofisticado e de patamar acima do que seria um favor imperceptível para a imprensa. Ainda por cima, outra empreiteira amiga achou de providenciar uma ostensiva antena de celular mais próxima do sítio do que do povoado que a reivindicava.
IGNORANDO A GRAVIDADE…
O ex-presidente pode ter ignorado a gravidade do favorecimento a ele ou a sócios de seu filho por empresas beneficiadas pelo seu governo porque, entre outras coisas:
Considerou ter passado à condição de cidadão comum, depois de deixado a presidência, a quem não cabem os limites impostos a servidores públicos para presentes.
É de sua natureza relevar relações perigosas entre interessados no governo e seus amigos e parentes. Aconteceu quando um de seus filhos recebeu alto investimento da Oi/Telemar em sua empresa de fundo de quintal e quando o outro recebeu patrocínio de lobista interessado em medidas provisórias para a indústria automobilística.
Nunca separou muito bem público e privado ou pareceu entender a dimensão do risco de misturá-los. No início de seu governo, permitiu que a mulher cavasse um canteiro no formato da estrela do PT nos jardins tombados pelo patrimônio histórico em torno do Alvorada.
Sempre achou relativa a obrigação de cumprir leis. Em mais de um vez, devidamente documentado, ele disse que: “se for olhar lei, a gente não faz nada”.
Jamais imaginou que poderia ser delatado por amigos num futuro em que houvesse delação premiada, sancionada, ainda por cima, pela mulher que deixou na sua cadeira.
JAMAIS NA “ZELITE”…
Por que, então, não pagou a reforma? Porque, como eu já disse aqui em relação ao triplex do Guarujá, não quer passar para a classe trabalhadora a imagem de que passou para o lado de lá, da elite que sempre combateu.
De qualquer forma, assim como é difícil para ele e seus assessores explicarem a benevolência das empreiteiras em seu favor ou dos sócios de seu filho, aos quais elas nada deviam, é igualmente complicado para os promotores incriminá-lo.
Como ele não é dono, nem do sítio e nem do triplex, fica difícil acusá-lo.
Lembra o caso famoso do americano O. J. Simpson, inocentado depois de um júri midiático apesar de todos os indícios de que havia matado a esposa. Não se achou, como no caso de Lula, a arma do crime.
(artigo enviado pelo comentarista Wilson Baptista Jr.)
(artigo enviado pelo comentarista Wilson Baptista Jr.)
19 de fevereiro de 2016
Ramiro Batista
Estado de Minas
Nenhum comentário:
Postar um comentário