O propósito do título destas linhas é lembrar que, na realidade, não existe, a não ser como mera homenagem, e mesmo assim passível de ser subtraída a qualquer instante, o título de “ex-presidente”. Lula, hoje, é um cidadão comum.
Tenho sido desafiado, frequentemente, em primeiro lugar, a (ainda) acreditar em meu país e, depois, a dizer o que penso da possibilidade de ser decretada a prisão de Lula na operação Lava Jato. A primeira resposta é positiva. Claro que acredito em meu país! Pelo tempo já vivido, disponho de sobejas provas para pensar assim. Isso, porém, não assegura, pelo menos a mim, uma longa vida, posto que já a vivo. Ela me leva a acreditar em um futuro melhor, não para mim, insisto, mas para meus filhos e, sobretudo, meus netos. E é óbvio que incluo aqui os milhões de jovens que querem dar a este país um rumo seguro.
Quanto à segunda, nego-me a entrar numa questão que divide os brasileiros. Considero que Lula, embora (ele) possa pensar assim (“Neste país, não tem uma viva alma mais honesta do que eu”...), nunca esteve, não está, nem nunca estará acima de qualquer suspeita.
Lula, portanto, não está sendo, agora, injustiçado, como muitos dizem – sobretudo no governo Dilma –, nem, por enquanto, existe denúncia formal contra ele. Ele, simplesmente, vai se tornando o alvo principal das investigações na Lava Jato e há (embora possa haver, também, motivos políticos) indícios claros de que o ex-presidente meteu os pés pelas mãos. Pode até não vir a ser preso (qualquer outro brasileiro, na situação dele, já estaria em cana), nem mesmo ser processado por algum crime, mas, politicamente, ele se destruiu – o que não quer dizer que esteja morto para sempre. Lula é um animal político.
O que mais impressiona é que o ex-presidente, além de inteligente, é esperto, e só chegou onde chegou porque, até a operação Lava Jato, soube ser mais do que esperto ao driblar situações constrangedoras, como, por exemplo, as dificuldades que encontrou no mensalão. Daqui pra frente, se bobear, a esperteza – como se diz cá nestas Gerais – finalmente acabará e, sem compaixão, engolirá o dono.
Lula, às vezes, parece que tem parte com o demônio. Considera-se, noutras vezes, de verdade, um enviado de Deus. Excluídos os sobas que o cercam, políticos, ministros ou não, por ele fala apenas uma entidade – o (seu) Instituto Lula, que se transformou numa fábrica de dinheiro. Ele mesmo fica silente e nada diz a respeito da última reunião do conselho político de seu partido, que, embora pressionado por petistas que ainda acreditam nos principais fundamentos do PT, deixou de abordar as denúncias contra seu maior, único e principal líder.
Não vou entrar noutras acusações contra Lula, que já estão entregues ao Poder Judiciário. Todavia, quanto ao sítio em Atibaia e ao apartamento no Guarujá (que bom gosto!), não se pode deixar de dizer que nenhum brasileiro que tenha ocupado o cargo de presidente da República poderia aceitar o que, claramente, o ex-presidente aceitou. Dono, de direito ou de fato desses imóveis, o que aconteceu é, para ele, extremamente comprometedor. A titularidade de direito de ambos os imóveis, que só se faz por meio do registro, fácil de ser provada, e é o que um dos sócios do sítio quer fazer agora, nada esclarecerá a respeito das denúncias repletas de indícios retumbantes.
Um dia, a verdade virá à tona e com toda sua força. Não seria muito melhor que Lula a aceitasse logo?
19 de fevereiro de 2016
Acílio Lara Resende
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