Reportagem de Carla Araújo e Ricardo Brito, publicada com destaque na edição de O Estado de São Paulo de segunda-feira, revela que líderes da oposição na Câmara dos Deputados se dispõem a tentar vincular a onda de desgaste que está atingindo o ex-presidente Lula, pelos episódios relativos ao tríplex de Guarujá e ao sítio de Atibaia, para reaquecer o debate em torno do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Se lideranças do PSDB, DEM e PPS escolherem tal rumo, terão cometido um erro político enorme.
E não só um erro político, mas um enorme equívoco legal. Seria retroceder séculos no tempo e buscar estender a culpa que possa existir além do responsável por tê-la feito surgir. A pena além da pessoa. Não tem cabimento. Tal investida absurda, no fundo, interessa à própria presidente, que assim mais facilmente encontrará motivo para afastar-se de seu antecessor, encontrando finalmente seu caminho e mais espaço para se distanciar de aliados incômodos.
Aliás, falsos aliados. A vida, inclusive, está cheia de amigos de fachada, que, no final da ópera, querem apenas se aproveitar das pontes que tentam construir entre o que desejam e os outros podem lhes proporcionar.
AVERSÃO MÚTUA
O fato, como focalizou com nitidez Ruy Castro, na coluna de 15 na Folha de São Paulo, nem Dilma Rousseff gosta do PT, tampouco o Partido dos Trabalhadores gosta de Dilma. Perfeita a síntese que separa assaltantes da Petrobrás da presidente da República. Individualmente honesta, mas muitas vezes obrigada a se omitir. Um de seus erros está exatamente nesse espaço tático. Com exceções que marcaram atos singulares de demissão que se viu obrigada, pelos fatos, a praticar.
Mas voltando, não à tática, mas à estratégia da oposição, tentar unir o uso ou a propriedade dos imóveis de lazer e prazer ao impedimento vai um abismo. A frase é antiga, porém resiste ao tempo. No Direito Penal, culpa não se transfere.
Esta evidente constatação reforçará ainda mais os argumentos do Palácio do Planalto e, na ocasião atual, impedirá qualquer ação nos bastidores, por mais fraca que seja, do vice Michel Temer no sentido de substituir a titular.
PIOR MOMENTO
A oposição não poderia ter escolhido pior momento para reativar um propósito já superado por uma cadeia de fatos. O principal deles a defesa conjunta da presidente e do vice contra a ação do PSDB no TSE pata anular o pleito de 2014. O segundo turno, no caso, pois se o autor da ação, Aécio Neves, aceitou participar do duelo final, é porque tácita e diretamente aceitou o resultado do primeiro confronto.
Ora, se Dilma e Temer encontram-se unidos na defesa do mandato que pertence a ambos, não poderá apresentar o menor sentido que, logo após, o vice volte a articular a substituição da presidente por ele próprio. O impedimento, assim, fica, por si mesmo, absolutamente impedido. De acordo com Ruy Castro, se Dilma não gosta do PT e o PT não gosta dela, Lula deve estar de alguma forma envolvido na contradição. Contradição da qual a presidente se livrará à medida em que, por hipótese, seu grande eleitor vier a se complicar ainda mais, seja em frente ao mar paulista, seja na serra de Atibaia.
Quanto mais Luis Inácio da Silva se complicar, mais liberta estará Dilma de compromissos nas campanhas vitoriosas de 2010 e 2014, tisnadas pelos bandos de assaltantes que invadiram a Petrobrás e até usaram o Planalto como base de lançamento e de ataque aos cofres públicos. Para a oposição não interessa o impeachment. Muito menos usar Guarujá e Atibaia para tentar achar um novo caminho. O novo caminho volta-se para as urnas de 2018. Eduardo Cunha poderia ser presidente da República por três meses?
17 de fevereiro de 2016
Pedro do Coutto
Nenhum comentário:
Postar um comentário