ARTIGOS - TERRORISMO
A desvantagem vai para o lado que age de acordo com as Convenções de Genebra.
A guerra é – e sempre será - um inferno. A Lei de Conflito Armado não pretende mudar isso – mas apenas torná-la um pouco menos infernal. Há armas com cujo uso você não concorda. Em troca, o seu inimigo não usa essas armas contra você. Você trata humanamente os combatentes capturados. Você espera o mesmo quando os seus soldados são feitos prisioneiros.
É um conceito racional e esclarecido e, na guerra global do século 21, ele falhou espetacularmente. Aqueles que se chamam jihadistas se sentem vinculados apenas à sua leitura da lei islâmica – não pelas Convenções de Genebra e outras obrigações e restrições internacionais.
Algumas pessoas acham essa simples verdade difícil de entender. Lembre-se do debate de 2004 amplamente divulgado entre o então senador Biden e o então procurador-geral John Ashcroft. O primeiro, impaciente, informou ao último por que ele considerava vital que os Estados Unidos não usassem métodos coercitivos de interrogatório – tortura, em sua opinião e de outros – contra militantes da Al Qaeda.
"Há uma razão pela qual nós assinamos esses tratados: para proteger o meu filho no exército", disse ele. "É por isso que temos esses tratados. Então, quando os americanos são capturados eles não são torturados. Essa é a razão. Para o caso de alguém esquecer. Essa é a razão." Não parece ter ocorrido ao Sr. Biden que a Al Qaeda não reconhece nem os acordos internacionais nem a lógica de contenção recíproca.
Na teoria, isso cria um dilema: devem os militares ocidentais continuar a respeitar as regras que seus inimigos desprezam? Na prática, não há debate: combatentes de sociedades democráticas aspiram conduzir-se moral e honradamente – pouco importando a barbárie exibida pelos seus inimigos. Esses inimigos não estão envergonhados por esta disparidade – eles aproveitam as vantagens que obtêm.
O High Level Military Group (Grupo Militar de Alto Nível) – que inclui ex- autoridades dos EUA, Reino Unido, Índia, Austrália, França, Espanha e Colômbia - fixaram-se na tarefa de explorar "as implicações para nações democráticas da guerra contra inimigos que têm um total desrespeito pela vida e pela lei, mas que exploram ativamente a adesão de nossas próprias nações ao Estado de Direito para obter ganhos estratégicos e táticos”. O HLMG foi organizado no ano passado pelos the Friends of Israel Initiative, entre cujos membros fundadores estão o ex-presidente espanhol José Maria Aznar, o ex-primeiro-ministro australiano John Howard e o ex-presidente do Peru, Alejandro Toledo.
Este mês, o HLMG publicou um estudo que chega a conclusões perturbadoras. Em particular, as tropas que combatem as forças jihadistas "estão expostas a um perigo maior, e de fato a morrer, como resultado do cuidado tomado para lutar de acordo com nossas leis e valores".
O estudo também constatou que "adversários irregulares e terroristas" muitas vezes exibem "uma capacidade extraordinariamente bem desenvolvida para explorar a tecnologia de comunicações e a mídia, a fim de influenciar a batalha das narrativas políticas para efeito estratégico." Em outras palavras, na guerra de idéias, os jihadistas estão pagando pouco ou nenhum preço por sua bestialidade.
Um estudo separado concluído pelo HLMG em outubro passado observou especificamente o conflito de 2014 entre Israel e o Hamas, no qual encontrou talvez a mais notória "perversão do nosso atual sistema legal."
"Não importa o quão eficaz e legítima seja a conduta das Forças de Defesa de Israel (IDF)", o estudo concluiu, "há sempre uma enxurrada de alegações contra ela. Conceitos como ‘crimes contra a humanidade’, genocídio, e acusações em organismos como as Nações Unidas e no Tribunal Penal Internacional, são ampla e facilmente utilizados com a finalidade de obter vantagem política."
O HLMG constatou que essas acusações não têm mérito, que "a conduta de Israel no Conflito de Gaza em 2014 atendeu e, em alguns aspectos excedeu o mais alto padrão que estabelecemos para militares de nossas próprias nações." Enquanto isso, o Hamas "não apenas flagrantemente violou a Lei dos Conflitos Armados como uma coisa natural, como parte de seu conceito estratégico híbrido terrorista-exército, mas abusou das proteções oferecidas pela lei para tirar vantagem militar".
Entre outras coisas, o Hamas mirou em não-combatentes israelenses e usou não-combatentes palestinos como escudos humanos. "O conceito estratégico do Hamas busca ativamente a morte de seus próprios civis como um reforço vantajoso para sua estratégia que visa a erosão da legitimidade de Israel", constatou o HLMG.
O HLMG cita a "coerção de jornalistas baseados em Gaza", "motivação ideológica" e "a ausência de conhecimento e de juízo militares e legais adequados ", como fatores que contribuem para o preconceito contra Israel e a favor do Hamas, uma organização auto-proclamada jihadista comprometida abertamente com o extermínio de Israel.
Um aspecto da conduta de Israel preocupa o HLMG: O IDF vai muito além do que é exigido nos termos da Lei de Conflito Armado em seus esforços para prevenir danos colaterais e, por isto, que elas criam novas normas de guerra que outras nações ocidentais passam a emular .
Por exemplo, os israelenses muitas vezes abandonam folhetos e bombas fictícias em edifícios sendo usados pelo Hamas para fins militares, a fim de induzir os ocupantes a sair. Às vezes eles até telefonam para indivíduos para aconselhá-los a buscar segurança.
Os israelenses podem fazer isso porque Gaza é relativamente pequena e a inteligência de Israel tem se concentrado em sua população há anos. Mas se as forças aliadas decidissem, por exemplo, atacar o Estado Islâmico na sua capital de fato, Raqqa, eles não poderiam tomar precauções semelhantes.
O conflito global agora em curso é muitas vezes chamado de "não convencional". Entre as formas que indicam isto: O Ocidente decidiu lutar com meias medidas ao tentar "resolver as queixas" de seus inimigos e daqueles que poderiam estar inclinados a se juntar a eles.
Os jihadistas, pelo contrário, têm a intenção de ganhar. Eles estão preparados para fazer o que for preciso. Um experimento sem precedentes está em andamento. Do seu resultado depende o futuro do Ocidente.
17 de fevereiro de 2016
Clifford D. May é presidente da Foundation for Defense of Democracies (FDD) e colunista do Washington Times.
Tradução: William Uchoa
Clifford D. May é presidente da Foundation for Defense of Democracies (FDD) e colunista do Washington Times.
Tradução: William Uchoa
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