"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O LIVRO BRANCO DA QUEDA DE ALLENDE





O livro documenta toda a prática revolucionária ocorrida no Chile, sob o Governo de Salvador Allende (1970-1973), que preparava um autogolpe para implantar o socialismo no país, já que havia conquistado apenas 36,5% dos votos e não detinha controle sobre o Congresso, a Justiça e as Forças Armadas.
Documenta a estreita ligação de Allende com o regime de Fidel Castro, as escolas de guerrilhas no país (há uma foto em que Allende faz treinamento de tiro com uma metralhadora .30 em sua residência oficial de “El Cañaveral” – um centro de guerrilha -, escudado por um “conselheiro” cubano).
Documenta a política de “expropriação” de fazendas e indústrias (no final do Governo Allende, 80% da economia do país estava nas mãos do Estado).
Documenta a ligação de Allende com a UP (Unidade Popular), o MIR (Movimiento de Izquierda Revolucionaria), o MAPU (Movimento de Ação Popular Unitária), o Partido Comunista e o Partido Socialista, libertando, logo que assumiu a Presidência, os líderes do MIR: Luciano Cruz, Miguel Enriquez, Edgardo Enriquez, Bautista Van Schouwen, Humberto Sotomayor, Sergio Zorrilla, Joel Marambio e Andrés Pascal Allende (sobrinho do presidente Allende, filho de sua irmã e Deputada Socialista, Laura Allende), que haviam sido presos por atos de violência e delitos comuns (principalmente roubos a bancos), cometidos no Governo anterior.
Documenta que os responsáveis pelas escolas de guerrilhas de Guayacán (Santiago) e Chaihuín (Valdivia), presos no Governo anterior, foram soltos, e que um dos guerrilheiros, Adrián Vasquez, ocupou de imediato a Vice-Presidência do INDAP (Instituto de Desarrollo Agropecuario) e outro, Rolando Calderón, chegou a ser Ministro da Agricultura de Allende em 1972 e ocupou importantes cargos em seu Partido e na CUT (Central Única dos Trabajadores).
Documenta que uma das filhas de um sobrinho de Allende, líder do MIR, casou-se com graduado membro da embaixada cubana, Luís Fernandez de Ona, que era responsável pelo Escritório de Havana para a coordenação da expedição de Che Guevara à Bolívia.
Documenta que no período de 1º Nov 1970 a 5 Abr 1972, 1.767 fazendas foram “expropriadas” por bandos armados do MIR.
Documenta que as principais minas de cobre estavam sob o controle do Partido Comunista (Mina de Chuquicamata, na Província de Antofagasta – maior mina de cobre a céu aberto do mundo -, e a Mina El Teniente, na Província de O’Higgins – a maior mina de cobre subterrânea do mundo.

Documenta que após o contragolpe de Pinochet foram encontradas vultosas somas de dinheiro com Ministros de Allende, e que entre 1970 e 1973 o Chile se tornou o principal fornecedor de cocaína da América do Sul.
Documenta que antes do contragolpe de 1973, aproximadamente 100 pessoas perderam a vida durante o Governo Allende em seu nada pacífico “caminho chileno para o socialismo”.
Documenta que no início do Governo Allende 1 dólar equivalia a 20 escudos e que em Ago 1973 (um mês antes de sua deposição), 1 dólar equivalia a 2.500 escudos – uma inflação de mais ou menos 12.000% no período; em 1972, a economia chilena estava em ruínas, dos 3.000 produtos domésticos básicos, mais de 2.500 não estavam disponíveis; em janeiro de 1973 começou um racionamento e as filas eram tão grandes que impediam o povo a ir ao trabalho; em 7 Set 1973 (4 dias antes do contragolpe militar), Allende anunciou publicamente que havia farinha de trigo somente para mais 3 dias.
Documenta o ingresso de estrangeiros extremistas no país, em número calculado entre 10.000 e 15.000, muitos dos quais ocuparam cargos em empresas estatais, outros engajaram-se em diversos tipos de atividades revolucionárias, sob a proteção do Serviço de Investigação estatal; muitos destes foram mortos em ações de roubos ou se mataram com seus próprios explosivos; entre estes, havia asilados ou refugiados vindos do Brasil, Uruguai, Argentina, Peru, São Domingos, Nicarágua, Honduras etc.; “estudantes” ou “técnicos” vindos de empresas estatizadas da URSS, Tchecoslováquia, Alemanha Oriental; e “diplomatas” cubanos e norte-coreanos.
Documenta o contrabando de armamento, adquirido em “viagens internacionais” do Presidente Allende, principalmente com a ajuda da empresa aérea estatal “Lan-Chile”, sem fiscalização da aduana no retorno ao país.
Documenta os “comandos comunales”, agrupamentos territoriais de organismos revolucionários, e os “cordones industriales”, redes de trabalhadores de indústrias usurpadas ou estatizadas por Allende, também com base territorial para a violência política.
Documenta que em agosto de 1973, 1 mês antes do contragolpe, Fidel Castro mandou ao Chile 2 de seus maiores “especialistas” em organização de violência política: o 1º Ministro-Substituto, Carlos Rafael Rodriguez, e o Chefe da temida polícia secreta, Manuel Piñero, o “Barbarroxa”, com a seguinte carta: 
Havana, 29 de julho de 1973
Querido Salvador
Com o pretexto de discutir contigo questões referentes à reunião de países não-alinhados, Carlos e Piñero realizam uma viagem para aí. O objetivo real é informar-se contigo sobre a situação e oferecer-te, como sempre, nossa disposição de cooperar frente às dificuldades e perigos que obstaculizam e ameaçam o processo. A estada deles será muito breve, porquanto têm aqui muitas obrigações pendentes e, não sem sacrificar seus trabalhos, decidimos que fizessem a viagem.
Vejo que estão, agora, na delicada questão do diálogo com a D. C. (Democracia Cristã) em meio aos graves acontecimentos, como o brutal assassinato de seu ajudante-de-ordens naval e a nova greve dos donos de caminhões. Imagino a grande tensão existente devido a isso e teus desejos de ganhar tempo, melhorar a correlação de forças para o caso de que comece a luta e, se possível, achar um caminho que permita seguir adiante o processo revolucionário sem guerra civil, junto com salvar tua responsabilidade histórica por aquilo que possa ocorrer.
Estes são propósitos louváveis.
Mas, no caso da oposição, cujas reais intenções não estamos em condições de avaliar daqui, empenhar-se em uma política pérfida e irresponsável exigindo um preço impossível de pagar pela Unidade Popular e a Revolução, o qual é, inclusive, bastante provável, não esqueças, por um segundo, da formidável força da classe trabalhadora chilena e do forte respaldo que te ofereceram em todos os momentos difíceis; ela pode, a teu chamado, ante a Revolução em perigo, paralisar os golpistas, manter a adesão dos vacilantes, impôr suas condições e decidir de uma vez, se for preciso, o destino do Chile. O inimigo deve saber de que dispões do necessário para entrar em ação. Sua força e sua combatividade podem inclinar a balança na Capital a teu favor, inclusive, quando outras circunstâncias sejam desfavoráveis.
Tua decisão de defender o processo com firmeza e com honra, mesmo com o preço da própria vida, que todos te sabem capaz de cumprir, arrastarão a teu lado todas as forças capazes de combater e todos os homens e mulheres dignos do Chile. Teu valor, tua serenidade e tua audácia nesta hora histórica de tua pátria e, sobretudo, teu comando firme, decidido e heroicamente exercido, constituem a chave da situação.
Faz Carlos e Manuel saberem em que podem cooperar teus leais amigos cubanos.
Te reitero o carinho e a ilimitada confiança de nosso povo.
Fraternalmente,
Fidel Castro
Documenta o “Plano Z” para a tomada do Poder, onde constavam 3 hipóteses de ação revolucionária (Z-A: início do autogolpe para impor a ditadura do proletariado; Z-B: morte de Allende em atentado; e Z-C: invasão externa com tolerância ou cumplicidade das Forças Armadas); o emprego de forças populares, princípios básicos para desencadear o Plano: assassinato do Alto Comando das unidades das Forças Armadas (no dia da Independência do país, haveria um banquete oferecido ao Alto Comando, ocasião em que os chefes militares seriam assassinados pelo GAP – a guarda pretoriana de Allende); controle das Unidades militares com auxílio de oficiais esquerdistas infiltrados, controle das estações de telecomunicações, de rodovias, ferrovias e aeronaves com destino aos aeroportos de Santiago, Valparaíso, Concepción e Antofagasta; ocupação e defesa de centros estratégicos, além da busca, prisão e aniquilamento de todos os focos de resistência.
Documenta que Cuba foi o principal fornecedor de armamento a Allende; que o “presente” de Fidel Castro encontrado no apartamento do Diretor do Serviço de Investigação, Eduardo “Coco” Paredes, superava 1 tonelada de armamento sofisticado e munição; além do contrabando, o arsenal era aumentado com roubo de armamento do Exército e outras fontes, e guardados em local oficial “seguro”, como as residências oficiais do Presidente ou distribuídas a grupos paramilitares.
Documenta a enorme quantidade de armamento apreendida na residência oficial de “El Cañaveral” e no Palácio de “La Moneda”, a saber: 147 fuzis semi-automáticos, 10 carabinas semi-automáticas, 10 carabinas Mauser, 1 carabina Winchester, 54 pistolas automáticas, 13 rifles, 28 pistolas semi-automáticas, 11 revólveres, 2 pistolas para disparo de bombas de gás lacrimogêneo, 3 metralhadoras, 9 lançadores de foguetes (modelo soviético), 2 canhões sem recuo, 1 morteiro, 58 baionetas para fuzis, 58 granadas de mão, 625 bombas caseiras, 832 bombas com alto poder explosivo, 68 lança-granadas, 236 minas antitanque, 432 bombas de gás lacrimogêneo, 12 lança-gás paralisante (tipo spray), 25.000 detonadores elétricos, 1.500 detonadores a mecha, 22.000 metros de estopim, 3.600 m de cordão detonante, 625 kg de cloreto de potássio, 50 caixas de dinamite, 250 kg de TNT, 750 coquetéis molotov, 230 litros de éter sulfúrico (elemento incendiário), mais de 80.000 carregadores de todos os tipos, e outros tipos de equipamentos.
Sitiado no palácio La Moneda, Allende concordou em sair com as filhas, porém elas saíram primeiro, após o que Allende suicidou-se com um tiro debaixo do queixo com uma metralhadora presenteada por seu amigo Fidel Castro; tal fato foi presenciado por seu médico particular, Patricio Guijon Klein.

Sem o apoio da massa de trabalhadores, paramilitares estrangeiros e extremistas organizaram sua própria revolta contra o novo governo militar; depois de alguns meses, 1.261 pessoas haviam perdido a vida (sendo 82 membros das Forças Armadas); apesar do apoio cubano – confirmado por Fidel Castro mais tarde em um comício-show –, a esquerda foi severamente derrotada, já que não teve apoio popular.

Dado que 2.279 pessoas (incluindo 254 vítimas do terrorismo de esquerda) devam ter sido mortas em todo o período de 17 anos de regime militar, a metade dessas mortes ocorreram na curta guerra civil após a queda de Allende, não na subseqüente “repressão”. 
Leiam o livro de Robin Harris, “A Tale of two Chileans: Pinochet and Allende”, que discorre sobre o conteúdo do “Libro Blanco”, e vejam no google FPMR, GAP, MIR e UP.
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Dados extraídos do “Libro Blanco del Cambio de Gobierno en Chile”, de 11 de setembro de 1973, impresso e editado por Editorial Lord Cochrane, S.A., Santiago, Chile. 

06 de novembro de 2015
Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

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