Na tentativa de relativizar a gravidade do rombo nas contas do governo, o ministro Edinho Silva (Comunicação), espécie de porta-voz da presidente Dilma Rousseff, saiu-se com uma comparação ilusória. “O Canadá vivenciou seis anos consecutivos de deficit orçamentário e nem por isso se levantou a hipótese de a economia canadense estar em frangalhos, estar em insolvência”, disse, na semana passada.
O ministro se referia ao que se chama de deficit primário das contas públicas, ou seja, o saldo entre receitas e despesas dos governos, sem considerar os gastos com os juros das dívidas interna e externa.
Por esse critério, o desempenho do Brasil, mesmo com deficit em 2014 e mais resultados no vermelho projetados para este e o próximo ano, parece mesmo melhor que o do Canadá:
GASTOS PÚBLICOS
Após a crise econômica global que eclodiu em 2008, os governos brasileiro e canadense aceleraram os gastos públicos para combater o risco de recessão.
Afetado mais diretamente pela turbulência, o Canadá foi mais drástico, inicialmente, na aplicação da estratégia: seu deficit primário chegou à casa dos 4% do PIB em 2010.
No entanto, o deficit primário não é o indicador mais relevante da saúde orçamentária do governo -apenas se tornou muito utilizado no Brasil para avaliar quanto o governo consegue poupar para o pagamento de sua dívida.
Quando se consideram os gastos com os juros da dívida pública, obtém-se o saldo total das contas públicas, ou, no jargão técnico, o resultado nominal.
Com esse cálculo, percebe-se como a piora dos resultados do Brasil é muito mais aguda que a verificada no Canadá:
No Brasil, a inflação e os juros são bem mais elevados que no Canadá e na quase totalidade do mundo desenvolvido.
Desde o primeiro mandato de Dilma, a presidente e seus auxiliares ignoram particularidades como essa ao comparar a situação do Brasil com as dos países europeus e norte-americanos.
Nota: O período de seis anos mencionado por Edinho Silva vai de 2009 a 2014. Na metodologia do FMI, fonte dos dados para os quadros desta postagem, o Canadá também teve deficit em 2008.
21 de outubro de 2015
Deu na Folha
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