A decisão da agência de classificação de risco Fitch de cortar a nota do Brasil não teve o impacto devastador do anúncio feito pela Standard & Poor’s (S&P), que retirou o selo de bom pagador do país, mas mostrou um quadro desolador da economia brasileira. O que se vê nas justificativas da Fitch para o rebaixamento é uma nação à deriva. Não há nenhum sinal de melhora à vista. Se algo pode acontecer, é para pior.
O Brasil de Dilma Rousseff está quebrado. A opção da presidente de seguir o modelo econômico defendido pelo PT, que foi derrotado várias vezes antes de Lula assumir a defesa da estabilidade, promoveu um estrago tão grande, que, para juntar o cacos, levará anos. O mais assustador é que não há nenhum projeto efetivo para tirar o país do atoleiro, apenas promessas inconsistentes, como a de estabilizar a dívida pública, que caminha firmemente para os 70% do Produto Interno Bruto (PIB).
A falta de capacidade do governo de retomar o controle da situação é explícita. Em vez de organizar a base política para aprovar projetos importantes no Congresso a fim de dar uma direção, ainda que mínima, aos agentes econômicos, o Palácio do Planalto se atropela em negociações vergonhosas com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, para livrá-lo da cassação e impedir o impeachment de Dilma.
FORA DA REALIDADE
O descompromisso com a economia real é tamanho, que parte do governo preferiu comemorar a reação dos mercados diante do rebaixamento do país pela Fitch do que mostrar preocupação e medidas concretas para o resgate da confiança. Esse grupo atribuiu a queda do dólar e a alta da bolsa a um sinal de que os investidores já não dão tanta importância às manifestações das agências de risco. Trata-se de uma visão equivocada.
Na verdade, os mercados estão precificando o possível afastamento de Dilma. Para algumas casas bancárias, são de 80% as chances de o governo da petista ser interrompido. Além disso, a situação do Brasil é tão ruim que, neste momento, os investidores estão preferindo se apegar a fatores externos para guiar os negócios. O dólar e a bolsa de valores estão oscilando de acordo com os sinais emitidos pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, de que a alta de juros na maior economia do planeta ficará para 2016. Isso mostra, porém, uma vulnerabilidade maior do país. Se algo de ruim acontecer lá fora, o impacto por aqui será brutal.
TAPA-BURACOS
A conta do descaso do governo só aumenta. O Tesouro Nacional, responsável por administrar a dívida do país, está sendo obrigado a pagar juros cada vez maiores para se financiar no mercado. A cada leilão semanal de títulos, as taxas batem recorde. Com isso, a situação fiscal só piora, pois é necessário mais dinheiro para honrar os compromissos com os credores. Como não há recursos suficientes, o Tesouro é obrigado a emitir mais papéis, empurrando o total de débitos para níveis alarmantes. A Fitch prevê que a dívida bruta chegue aos 70% do PIB no fim de 2016. Os analistas projetam 80% até 2018.
Sem um ajuste fiscal consistente, não há como interromper essa trajetória explosiva. Os arremedos propostos pelos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, dão apenas um alívio de curto prazo. Mas nem mesmo esses tapa-buracos saíram do papel. Quase 80% deles dependem de aprovação do Congresso, que não tem outra pauta que não seja o impeachment de Dilma.
21 de outubro de 2015
Vicente Nunes
Correio Braziliense
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