"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

SOBRE GOLPES E "GOLPES"


Sou a favor dos militares serem o mal menor diante de um mal maior, mas ainda mais a favor de uma sociedade amadurecida que não precise de revolucionários, sejam eles marxistas ou positivistas.

O 11 de setembro é sempre lembrado como o dia do ataque contra as torres gêmeas do WTC, mas também pela esquerda como o dia em que o "heroico" Salvador Allende foi defenestrado definitivamente do poder pelas tropas do "maligno" general Augusto Pinochet. Vou aproveitar o assunto para recordar não apenas um fato histórico importante, mas também para ilustrar um pouco da maneira como pessoalmente vejo toda essa coisa de intervenções militares e tutti quantti. Espero assim colaborar para que os meus leitores compreendam um pouco das nuances sobre a questão. Tal tem sido esta a tônica por trás das minhas "ironias" em relação aos intervencionistas que tem aborrecido a tanta gente, e não uma repulsa gratuita a militares; nem mesmo aos nossos amigos que tem amigos que conhecem um picolezeiro que tem amigos que usam farda. Minha luta é contra os principados e potestades, e não contra os "desejos da carne" que parecem mover apaixonadamente os intervencionistas.
Pinochet fez o correto naquele dia? Fez. E fez nada mais que a sua obrigação. Salvador Allende foi expulso do poder pelo Congresso por fazer exatamente muito do que o PT está fazendo no Brasil hoje: infestar o país de terroristas cubanos, arruinar a economia, reformar a educação em moldes marxistas, condecorar bandidos, fazer o caos no campo, etc. Retirado do poder pelos deputados chilenos, a triste figura de Salvador Allende se entrincheirou no Palácio de La Moneda da mesma maneira como os militantes da CUT prometem que farão se Dilma for tirada do poder. Pinochet cumpriu o seu dever como militar e tomou as providências que achou que fossem necessárias (naquele tempo militares não eram apenas usados para distribuir cestas básicas para indígenas ou ocupar favelas; serviam para a guerra). O Palácio de La Moneda foi crivado de balas, bombardeado, e o cacete; enquanto Allende resistia armado até os dentes junto a militantes do MIR e agentes designados pelo cubano Fidel Castro. "Ah, ele arriscou a população civil!" Mas, ora, queriam que Pinochet atacasse com armas de geolocalização e marines precisos como o do exército americano? Aquilo virou uma praça de guerra: suja e inglória como ela sempre foi.
Mesmo após morto Salvador Allende (há quem defenda que o próprio Fidel mandou matá-lo para que não revelasse segredos de Estado cubanos se fosse capturado), a guerra suja e inglória continuou: grupos terroristas a granel pelo campo, narcotraficantes usando o Chile como fábrica para a nascente indústria de cocaína, terrorismo urbano, subversão, etc. "Mas, Luiz, Pinochet matou muitos inocentes?" Ora, como não? Era uma guerra. "Depois Pinochet perseguiu opositores e instaurou uma ditadura". Sim, aí está o motivo pelo qual eu odeio comunistas. É graças a comunistas e outros revolucionários que volta e meia precisamos de militares. E é muito ingênuo um povo dar a prerrogativa do controle para homens armados sem tentá-los a abusar do poder, sejam eles militares ou não. O poder corrompe, mas o poder absoluto tem potencial para corromper absolutamente. Em suma: pra evitar um golpe Pinochet deu um contra-golpe que inevitavelmente colocou o país sob ameaça de outro golpe. Tal como os militares brasileiros se viram tentados a fazer no Brasil, com diferenças substanciais em vários aspectos: Pinochet abriu o Chile ao livre mercado, os militares brasileiros reforçaram o estatismo; Pinochet privatizou a educação, os militares brasileiros alimentaram o Ministério da Educação com verba que serviram pra socialistas doutrinarem gerações inteiras; Pinochet estimulou e abriu espaço para conservadores e liberais, os militares brasileiros destruíram a UDN e censuraram conservadores como Nelson Rodrigues; Pinochet matou milhares e milhares, os militares brasileiros fizeram a contra-revolução menos incruenta da história das contra-revoluções em dados comparativos que nem a esquerda tem a cara de pau de contestar.
"Afinal, Luiz, você é contra ou favor dos militares?" Sou a favor deles cumprirem o seu dever institucional, mas sempre desconfiado de homens armados respaldados por 'cheerleaders' fanáticas no poder; sejam eles comunistas ou militares, sejam eles acompanhados de militantes socialistas ou militantes intervencionistas. Sou a favor dos militares serem o mal menor diante de um mal maior, mas ainda mais a favor de uma sociedade amadurecida que não precise de revolucionários, sejam eles marxistas ou positivistas. Sou a favor de militares servindo como "os nossos canalhas", mas não a ponto do poder os tentar a se comportarem como "novos canalhas". Nem é preciso dizer o que acho de militares bolivarianos, a junção das duas coisas que mais abomino: comunistas militarizados e militarizados comunistas. E não é de hoje que há socialistas infiltrados nas Forças Armadas; sempre existiram e provavelmente sempre existirão. Portanto, toda desconfiança é pouca. Prudência e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
Tal tem sido a tônica da minha ironia a intervencionistas, como tem sido a minha a socialistas: não tentem o autoritarismo de ninguém, sejam militares ou comunistas, ou a pior junção dos dois em sua forma bolivarianista. E o primeiro passo para tentar qualquer um ao abuso autoritário é imunizá-lo a críticas ou ironias sob o manto da mistificação. É quando a seriedade dos bigodes passa a ser levada muito a sério que se levantam os regimes de exceção, tanto a esquerda quanto a direita. É quando ninguém mais acredita no Estado de Direito e nem na liberdade de expressão que são dados golpes e "golpes". Se chegar a ser necessário tomar medidas extremas contra extremistas que ao menos não tentemos os nossos extremistas a serem também eles, a seu modo, extremistas. E muito menos façam isso sem saber direito com que militares estamos lidando hoje em dia. Na dúvida é melhor não precisar mais de 'golpes' e golpes, nem de revoluções e 'revoluções'.
23 de setembro de 2015
Luiz Fernando Vaz é ator 

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