"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

POR QUE, EM SEU PRÓPRIO PAÍS, O BRASILEIRO É CONSIDERADO LADRÃO?

Essa (quase) incrível operação Lava Jato, que ainda nos proporcionará inúmeras outras surpresas, me fez recordar história sobre notável designer alemão, casado com uma modelo brasileira. Criador, na televisão, de logotipos e vinhetas realmente geniais, sempre que podia, manifestava a enorme e sincera admiração que nutria pelo nosso país, especialmente pelo seu povo. Todavia, apesar dessa admiração (que tem razões de sobra), ao mesmo tempo em que nos elogiava, inquiria intrigado: “Mas por que motivo o brasileiro gosta sempre de algum ‘por fora’?”, referindo-se, sem o saber, ao “pixuleco”, novo nome da propina.

A propósito, na semana passada, três sobrinhos-netos (um rapaz, de 26 anos, e duas mocinhas, de 20 e 19), que nasceram e vivem na Holanda, depois das férias de mais de um mês em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, seguiram de ônibus-leito para a capital paulista, onde embarcaram para Amsterdã.

Na rodoviária, antes do embarque, em conversa franca, em minha companhia, com o motorista do ônibus – um homem de 55 anos de idade, mais ou menos –, a mais nova, depois de lhe dizer que reside na Holanda, ouviu dele, gratuitamente, o seguinte: “Você, então, nasceu na Holanda? É verdade? Pois eu sou uma mistura de várias raças: meu pai nasceu na Alemanha, e minha mãe, na Itália. Desculpe-me a franqueza, mas desejo que você volte logo para a Holanda. Neste país só tem ladrão!”. Preocupado, interferi na conversa para dizer que não se podia generalizar, malfeitos e crimes ocorrem no mundo todo. Não satisfeito, o sorridente motorista, voltando-se para ela, foi mais enfático: “É verdade, aqui todos roubam”.

Dois dias depois do embarque dos meus sobrinhos-netos, pesquisa do Instituto Data Popular, realizada entre os dias 1º e 4 deste mês, com 3.000 eleitores, em 152 municípios, obtida e divulgada por “O Globo”, concluiu que 92% dos eleitores brasileiros consideram “todo político ladrão” e 71% dos partidos de oposição à presidente Dilma, segundo esses mesmos eleitores, “agem em seu próprio interesse e não pensando no bem do país”. O mais interessante é que, em pesquisa recente, de instituto igualmente confiável, quando se indagou desses mesmos eleitores se eles fariam o mesmo que os políticos, mais de 90% responderam afirmativamente, ou seja, fariam exatamente o mesmo.

Lembro-me, antes de encerrar, do que disse um motorista de táxi, depois de afirmar que, no Brasil, “só o idiota não tira vantagem da situação”. E concluiu: “Um jovem roubar é coisa normal. Ele tem que pensar no futuro. Mas um velho roubar é pouca-vergonha”. Referia-se a alguns dos acusados da Lava Jato.

Depois que os três jovens holandeses, filhos de mãe brasileira, deixaram Belo Horizonte, rumo à Holanda, quedei-me pensativo: que dizer a eles? Como explicar o que se passa na política do nosso país? As nossas duas Casas legislativas – Câmara Federal e Senado –, outrora reservas morais e políticas do país, são presididas por políticos prestes a serem denunciados pela Procuradoria da República por crime de corrupção. O presidente do Senado, de ferrenho opositor da presidente até ontem, volta a apoiar Dilma hoje com o objetivo claro de ser ajudado na avalanche judicial que ameaça voltar-se contra ele.

Que as manifestações do dia 16 (escrevo antes delas) desmintam as histórias (reais) que contei e, depois, me renovem a chance de ainda viver num país melhor. Ou estou querendo demais?

21 de agosto de 2015
Acílio Lara Resende

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