O barco chamado Brasil já vinha navegando à deriva e em plena tempestade, cada vez mais perto das pedras, nos últimos tempos. Agora, com a timoneira completamente desacreditada – ou melhor, sem qualquer timoneiro -, ele se chocou contra as rochas. O esfacelamento da base do governo no Congresso Nacional e o patamar recorde de 71% de reprovação da presidente Dilma deixaram clara, de vez, a gravidade da crise política, contaminando ainda mais o cenário econômico, já tão turbulento. A substituição do atual governo – seja pela renúncia da presidente, seja pelo caminho do impeachment ou, melhor ainda, pela antecipação de novas eleições – é a única saída que resta para tentar colocar o barco nacional novamente no rumo da estabilidade e do desenvolvimento.
Ou vamos esperar que a inflação bata, oficialmente, a casa dos dois dígitos, roendo o que restou do poder aquisitivo do trabalhador, iludido, nos últimos anos, com a política irresponsável de crédito fácil e estímulo ao consumo? Ou vamos assistir calados à disparada das taxas de juros e da dívida pública, à queda perigosa da poupança doméstica, à deterioração da capacidade produtiva de nossas empresas e à demissão em massa de outras centenas de milhares de brasileiros?
Meses atrás, ainda havia a chance de navegarmos por águas um pouco mais tranquilas se o governo Dilma finalmente reconhecesse os erros grosseiros cometidos no primeiro mandato e se dispusesse a um diálogo franco e positivo com um amplo leque de lideranças políticas, empresariais, representantes da sociedade civil. Juntos, poderíamos encontrar alternativas para tentar retomar o controle da embarcação. Mas a presidente nunca teve humildade para esse diálogo. Neste momento, não lhe restou qualquer credibilidade para negociar com quem quer que seja – nem ao menos com a antiga base aliada.
Não há dúvida de que estamos presenciando um dos períodos mais conturbados da nossa história republicana, numa crise em que recessão, corrupção e fragilidade política se somam de forma explosiva. Os brasileiros estão indignados não apenas com os escândalos de corrupção que desviaram bilhões de reais dos cofres públicos. Também estão revoltados com a degradação dos indicadores econômicos, numa escalada rápida e perigosa.
Os preços de alimentos, energia, transportes, gasolina, remédios e escolas estão subindo sem trégua, há vários meses, reduzindo o poder de compra das famílias, cada vez mais enroladas em dívidas no cartão de crédito, cheque especial, contas pessoais. A taxa de juros, já em estratosféricos 14,25%, turbina a dívida pública, sufoca as empresas e alimenta ainda mais a recessão – as estimativas do mercado financeiro apontam para uma queda de quase 2% do PIB este ano. Mesmo com critérios distorcidos para subestimar o número de desocupados no país, a taxa oficial de desemprego bateu em 6,9% em junho. No primeiro semestre, 345 mil trabalhadores com carteira assinada perderam o emprego.
O déficit primário no primeiro semestre também foi assustador: R$ 1,6 bilhão. Só em junho, houve um rombo de R$ 9,323 bilhões nas contas do setor público. A dívida pública bruta chegou a R$ 3,58 trilhões, o que representa 63% do PIB, o pior resultado da história. E as retiradas da poupança pularam para outra cifra recorde: R$ 38,5 bilhões no primeiro semestre.
Some-se a tudo isso o corte de benefícios trabalhistas e previdenciários, a paralisação de obras públicas, as restrições ao Pronatec e ao Fies, o atraso do repasse de verbas federais a programas sociais, a redução de investimentos produtivos e o corte do orçamento em áreas fundamentais como saúde e educação. O resultado é uma população exausta de tantas promessas vazias e de tantas perdas sociais e financeiras.
A renúncia, presidente Dilma, é o último gesto que lhe restou para tentar desviar o país do desastre e impedir que tripulação e mais de 202 milhões de passageiros se salvem desse naufrágio tantas vezes anunciado.
Ataídes Oliveira é senador pelo PSDB-TO
10 de agosto de 2015
diário do poder
Ou vamos esperar que a inflação bata, oficialmente, a casa dos dois dígitos, roendo o que restou do poder aquisitivo do trabalhador, iludido, nos últimos anos, com a política irresponsável de crédito fácil e estímulo ao consumo? Ou vamos assistir calados à disparada das taxas de juros e da dívida pública, à queda perigosa da poupança doméstica, à deterioração da capacidade produtiva de nossas empresas e à demissão em massa de outras centenas de milhares de brasileiros?
Meses atrás, ainda havia a chance de navegarmos por águas um pouco mais tranquilas se o governo Dilma finalmente reconhecesse os erros grosseiros cometidos no primeiro mandato e se dispusesse a um diálogo franco e positivo com um amplo leque de lideranças políticas, empresariais, representantes da sociedade civil. Juntos, poderíamos encontrar alternativas para tentar retomar o controle da embarcação. Mas a presidente nunca teve humildade para esse diálogo. Neste momento, não lhe restou qualquer credibilidade para negociar com quem quer que seja – nem ao menos com a antiga base aliada.
Não há dúvida de que estamos presenciando um dos períodos mais conturbados da nossa história republicana, numa crise em que recessão, corrupção e fragilidade política se somam de forma explosiva. Os brasileiros estão indignados não apenas com os escândalos de corrupção que desviaram bilhões de reais dos cofres públicos. Também estão revoltados com a degradação dos indicadores econômicos, numa escalada rápida e perigosa.
Os preços de alimentos, energia, transportes, gasolina, remédios e escolas estão subindo sem trégua, há vários meses, reduzindo o poder de compra das famílias, cada vez mais enroladas em dívidas no cartão de crédito, cheque especial, contas pessoais. A taxa de juros, já em estratosféricos 14,25%, turbina a dívida pública, sufoca as empresas e alimenta ainda mais a recessão – as estimativas do mercado financeiro apontam para uma queda de quase 2% do PIB este ano. Mesmo com critérios distorcidos para subestimar o número de desocupados no país, a taxa oficial de desemprego bateu em 6,9% em junho. No primeiro semestre, 345 mil trabalhadores com carteira assinada perderam o emprego.
O déficit primário no primeiro semestre também foi assustador: R$ 1,6 bilhão. Só em junho, houve um rombo de R$ 9,323 bilhões nas contas do setor público. A dívida pública bruta chegou a R$ 3,58 trilhões, o que representa 63% do PIB, o pior resultado da história. E as retiradas da poupança pularam para outra cifra recorde: R$ 38,5 bilhões no primeiro semestre.
Some-se a tudo isso o corte de benefícios trabalhistas e previdenciários, a paralisação de obras públicas, as restrições ao Pronatec e ao Fies, o atraso do repasse de verbas federais a programas sociais, a redução de investimentos produtivos e o corte do orçamento em áreas fundamentais como saúde e educação. O resultado é uma população exausta de tantas promessas vazias e de tantas perdas sociais e financeiras.
A renúncia, presidente Dilma, é o último gesto que lhe restou para tentar desviar o país do desastre e impedir que tripulação e mais de 202 milhões de passageiros se salvem desse naufrágio tantas vezes anunciado.
Ataídes Oliveira é senador pelo PSDB-TO
10 de agosto de 2015
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