Num momento em que a audiência da TV Globo segue caindo, com uma nova subida incômoda da Record, não teve a devida repercussão a notícia da venda do Ibope Media, a empresa do grupo Ibope que mede em caráter monopolista a audiência de TV no Brasil.
O Ibope sempre teve seus índices contestados pelas redes que enfrentam a Globo, mas estranhamente conseguiu manter por décadas a exclusividade na medição que incide sobre o faturamento bilionário da TV brasileira, fazendo com que a Globo detenha a metade dessa extraordinária receita.
Há muitos anos, Silvio Santos passou meses ridicularizando o Ibope. Todo domingo, colocava um carro zero quilômetro no palco de seu programa, que seria doado a qualquer pessoa que se apresentasse lá, dizendo ter em casa o aparelho medidor do Ibope. Se aparecessem dez, vinte, cinqüenta pessoas, cada uma levaria o seu carro. A promoção foi exibida semana após semana e não apareceu ninguém, embora pelas regras do Ibope a maioria dos aparelhos devesse estar em residências pobres e de classe média baixa.
GRUPO BRITÂNICO
Agora, surge a notícia de que o grupo britânico Kantar Media Audiences comprou o Ibope Media e quer manter o monopólio, ameaçado pela chegada ao Brasil da empresa alemão GFK, que mede audiência em Portugal e outros países da Europa e começa a funcionar por aqui agora no terceiro semestre, com quatro grandes clientes – Record, Bandeirantes, SBT e RedeTV!.
A Globo, compreensivelmente, quer continuar monitorada apenas pelos antigo Ibope e não pretende se filiar à concorrente GFK. Para o diretor-geral Carlos Henrique Schroder, pode até surgir alguma diferença nos índices, mas, como nas intenções de voto pesquisadas por institutos diferentes em uma campanha política, a “tendência” costuma ser igual. “Raramente tem direção oposta. Você não tem dúvida de quem está liderando”, disse à repórter Cristina Padiglione.
SEM ESPAÇO PARA DUAS PESQUISAS?
O principal dirigente da Kantar, Richard Asquith, não vê espaço para dois institutos do gênero no País, segundo reportagem de Cristina Padiglione no Estadão. “É improvável que dois serviços sobrevivam por longo período de tempo num mesmo país”, disse Richard. “Os clientes vão acabar decidindo, mas minha expectativa é que não é eficiente manter os dois sistemas, é confuso”.
Segundo ele, sempre há alguma diferença de números e isso pode confundir TVs e anunciantes. A Kantar divide o mercado com a GFK numa situação muito particular na Holanda e na Bélgica, onde os aparelhos são seus, mas a operação de TV linear cabe à GFK. Recentemente, a Kantar ampliou sua atuação nos dois países, ao mensurar também TV sob demanda lá.
Traduzindo: como a GFK e a Kantar já são sócias nos países baixos, com toda certeza vão se acertar também por aqui, para honra e glória da Rede Globo, aquela que não perde nunca, não importa a quem esteja servindo no poder.
15 de julho de 2015
Carlos Newton
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