"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

CRISE ECONÔMICA É IGUAL A UMA TRAVESSIA DE DESERTO


A fragilidade da economia, agravada pela crise política, tornou-se um tormento para o sistema financeiro. Em conversas nos últimos dias, o presidente de uma das maiores instituições do país definiu sua visão sobre o momento atual do país: “Estamos vivendo no deserto”.
As operações estão quase paradas. O crédito, a principal fonte de renda dos bancos, minguou. Do lado das famílias, são poucas as que se aventuram a pagar juros tão elevados num quadro de recessão e desemprego. Do lado das empresas, não há apetite algum por correr riscos de se assumir débitos para ampliar os negócios.
“O quadro é assustador”, define o mesmo banqueiro. Ele conta que, nesse ambiente totalmente adverso, também as instituições financeiras ficaram mais arredias. Empréstimos, quando concedidos, são feitos com muito critério. A seletividade foi amplificada. Os bancos temem uma onda de calote.
O rigor na seleção de clientes é geral, tem valido tanto para os bancos públicos quanto para os privados. Ainda que a inadimplência não tenha estourado, mesmo com o número de desempregados saltando, em todo o país, de 6,4 milhões para 8,1 milhões somente nos primeiros cinco meses do ano, a ordem é ser conservador.
INADIMPLÊNCIA
Os bancos acreditam que o índice de calote vai crescer mais rapidamente neste segundo semestre do ano. “Não há escapatória”, ressalta o banqueiro. “Com a inflação rodando acima de 8% nos últimos meses e as demissões se acentuando, o resultado sempre é mais inadimplência, mesmo que o controle de riscos esteja atuando a todo valor”, emenda.
A tensão no sistema financeiro só não é maior graças à boa saúde dos bancos. Até maio, as dívidas vencidas há mais de 90 dias e não pagas somavam R$ 92,1 bilhões. Mas as instituições provisionaram R$ 154,2 bilhões para cobrir esse buraco. Esse colchão de proteção é 67,4% maior do que as dívidas de difícil recebimento.
2015 FOI PARA O BURACO
Entre os banqueiros, a percepção é de que 2015 foi para o buraco, 2016 está praticamente perdido e, na melhor das hipóteses, haverá crescimento em 2017. O consumo, acreditam, continuará desabando. O estrago feito no orçamento das famílias nos últimos anos, com a inflação alta, e mais recentemente, com o choque de tarifas públicas, inibe a recomposição do orçamento doméstico a curto prazo.
Sem consumo, não há a menor disposição das empresas em investir. Para os empresariado, é melhor manter-se capitalizado neste momento difícil da travessia do que correr riscos de produzir e não ter para quem vender. Na maior parte dos setores, os estoques estão elevadíssimos. Não por acaso, centenas de empresas estão demitindo, dando férias coletivas ou reduzindo os turnos de trabalho.
ATÉ O BNDES…
Nas conversas, os banqueiros ressaltam que até o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi obrigado a pisar no freio. Os repasses estão de 40% a 50% menores do que os observados em 2014. Além da procura menor por financiamentos, a instituição pública sofre com a falta de recursos. O Tesouro Nacional está seguindo à risca a determinação do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de não repassar dinheiro ao banco.

15 de julho de 2015
Vicente Nunes
Correio Braziliense

Nenhum comentário:

Postar um comentário