Foi um estrondoso sucesso a visita frustrada a presos políticos venezuelanos da comitiva de oito senadores brasileiros liderada por Aécio Neves (PSDB-MG).
Para a oposição daqui e de lá, nem por encomenda poderia ter sido melhor. Desembarque retardado. Van cercada de manifestantes agressivos. Estradas interditadas. Terminal aéreo sem luz.
A oposição daqui deixou o governo de Dilma numa saia justa. O que fazer? Calar-se? Ou protestar contra o tratamento conferido aos senadores?
No fim da noite, depois de muitas horas de meditação, o Itamaraty emitiu nota onde diz que “são inaceitáveis atos hostis de manifestantes contra parlamentares brasileiros”.
- À luz das tradicionais relações de amizade entre os dois países, o Governo solicitará ao Governo venezuelano, pelos canais diplomáticos, os devidos esclarecimentos sobre o ocorrido – acrescentou a nota.
Se Maduro, o presidente que sucedeu a Hugo Chávez, não se comportasse como o déspota que é, a visita teria merecido uma notícia de pé de página em nossos jornais. E não teria repercutido na imprensa internacional.
Há 15 dias, Felipe Gonzalez, ex-primeiro ministro socialista da Espanha, visitou Caracas e não foi hostilizado. Ficou por lá dois dias, advogando em favor dos presos. Voltará a Caracas em breve.
Na próxima semana, será a vez de uma comitiva do Parlamento Europeu. Duvido que seja maltratada como foi a brasileira.
A verdade é que o mundo está de olho na democracia em ruínas na Venezuela. E não só na democracia.
O modelo econômico venezuelano está falido. A inflação disparou. Produtos básicos escasseiam nos supermercados. E as filas se multiplicam. A imprensa é censurada.
Maduro foi um capacho sem talento de Chávez. Que à beira da morte, o ungiu como sucessor. Vive à sombra do mito Chávez. E visita o túmulo de Chávez com frequência. Diz que conversa com o espírito dele. Sério.
A Venezuela padece de dois males. Primeiro: o que costuma atingir grandes produtores de petróleo. Segundo: o que corrói por dentro todo o regime que se fantasia de democrata.
País produtor de petróleo é tentado a acreditar que a riqueza decorrente do petróleo é inesgotável. E que, portanto, é permitido gastar sem limites. Chávez gastou. Maduro gasta. Por aqui, Dilma também gastou.
Democracia de mentira não resiste à pressão natural dos que pensam viver em uma democracia. E dos que cobram uma democracia de verdade. Mais dia, menos dia, cai sua máscara.
No caso da Venezuela, a máscara caiu. E só governos ideologicamente afinados com o governo Maduro, como o brasileiro, fingem não enxergar isso.
Ou pior: de fato não enxergam.
19 de junho de 2015
Ricardo Noblat
Para a oposição daqui e de lá, nem por encomenda poderia ter sido melhor. Desembarque retardado. Van cercada de manifestantes agressivos. Estradas interditadas. Terminal aéreo sem luz.
A oposição daqui deixou o governo de Dilma numa saia justa. O que fazer? Calar-se? Ou protestar contra o tratamento conferido aos senadores?
No fim da noite, depois de muitas horas de meditação, o Itamaraty emitiu nota onde diz que “são inaceitáveis atos hostis de manifestantes contra parlamentares brasileiros”.
- À luz das tradicionais relações de amizade entre os dois países, o Governo solicitará ao Governo venezuelano, pelos canais diplomáticos, os devidos esclarecimentos sobre o ocorrido – acrescentou a nota.
Se Maduro, o presidente que sucedeu a Hugo Chávez, não se comportasse como o déspota que é, a visita teria merecido uma notícia de pé de página em nossos jornais. E não teria repercutido na imprensa internacional.
Há 15 dias, Felipe Gonzalez, ex-primeiro ministro socialista da Espanha, visitou Caracas e não foi hostilizado. Ficou por lá dois dias, advogando em favor dos presos. Voltará a Caracas em breve.
Na próxima semana, será a vez de uma comitiva do Parlamento Europeu. Duvido que seja maltratada como foi a brasileira.
A verdade é que o mundo está de olho na democracia em ruínas na Venezuela. E não só na democracia.
O modelo econômico venezuelano está falido. A inflação disparou. Produtos básicos escasseiam nos supermercados. E as filas se multiplicam. A imprensa é censurada.
Maduro foi um capacho sem talento de Chávez. Que à beira da morte, o ungiu como sucessor. Vive à sombra do mito Chávez. E visita o túmulo de Chávez com frequência. Diz que conversa com o espírito dele. Sério.
A Venezuela padece de dois males. Primeiro: o que costuma atingir grandes produtores de petróleo. Segundo: o que corrói por dentro todo o regime que se fantasia de democrata.
País produtor de petróleo é tentado a acreditar que a riqueza decorrente do petróleo é inesgotável. E que, portanto, é permitido gastar sem limites. Chávez gastou. Maduro gasta. Por aqui, Dilma também gastou.
Democracia de mentira não resiste à pressão natural dos que pensam viver em uma democracia. E dos que cobram uma democracia de verdade. Mais dia, menos dia, cai sua máscara.
No caso da Venezuela, a máscara caiu. E só governos ideologicamente afinados com o governo Maduro, como o brasileiro, fingem não enxergar isso.
Ou pior: de fato não enxergam.
19 de junho de 2015
Ricardo Noblat
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