"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

PT SEM PETISMO






A história do PT guardará o nome de João Vaccari, ex- tesoureiro do partido, preso por envolvimento com corrupção na Petrobras. Ele foi citado na abertura e no fechamento do 5 º Congresso do PT, em Salvador. Na quinta- feira à noite, lembrado por um militante, Vaccari ganhou três minutos de aplausos. No sábado à tarde, elogiado por Rui Falcão, presidente do partido, foi de novo demoradamente aplaudido.

NENHUM DOS 720 congressistas mencionou os nomes de José Dirceu, ex- ministro de Lula, e Delúbio Soares, ex- tesoureiro do PT, ambos condenados como mensaleiros. Foi como se jamais tivessem existido. Quanto à corrupção, assunto incômodo para petistas de todos os matizes, nada se discutiu no congresso. Por isso ficou de fora da "Carta de Salvador", documento com 3.834 palavras.

UM ANEXO À "Carta" reuniu as 13 resoluções aprovadas pelo congresso. Com 4.730 palavras, dedica à corrupção menos de 600. Dessas, 415 se ocupam do que os governos do PT fizeram para combatê-la. As demais informam que o partido promoverá uma campanha de comunicação a respeito. E criará um grupo de juristas progressistas para refletir sobre "a criminalização da política".

O CONGRESSO ensinou ou reforçou duas coisas: o PT está longe de morrer como querem seus adversários. E longe de voltar a se parecer com o que foi. Congresso de partido por aqui se resume a aclamar seus líderes e a deliberar sobre o que eles propõem. Em congresso do PT, a discussão corre solta. Quem tem mais votos leva. E, salvo Lula, os demais líderes não escapam a duras críticas.

ENTENDA- SE POR petismo um conjunto generoso de valores, princípios e boas ideias que foram desprezadas tão logo o partido chegou ao poder. Ou antes, quando Lula concluiu que, para o PT chegar lá, precisava jogar conforme as regras do jogo. Para tal orientou Dirceu. O partido fez concessões reprováveis. Mergulhou na lama. E está ameaçado de perder sua base social.

O PT NÃO ESTÁ apenas "machucado" como admite Lula. Atravessa a pior crise dos seus 35 anos. Reelegeu Dilma pelo pau do canto. E à custa de um formidável estelionato eleitoral. Nem Fernando Collor, deposto por corrupção, foi tão impopular quanto Dilma é. Os 30% dos brasileiros que preferiam o PT se reduziram a5%. O partido perdeu o monopólio das ruas desde 2013.

PARTE DOS PETISTAS que não se reconhece no atual PT alimentou o sonho de que o 5 º Congresso pudesse marcar o início da reconciliação entre o partido e o petismo. Pois sim... Obediente a Lula, a tendência majoritária impôs sua vontade sem ceder em absolutamente nada. De resto, algemou o partido ao governo. Optou assim pela paralisia. Foi o triunfo da insolência burra.

ENVELHECIDO, o PT avisou aos eventuais interessados: "Quem quiser venha conosco pelo que fizemos até aqui, e que já foi muito". Não acenou para eles: "Quem quiser venha conosco pelo que já fizemos e pelo que ainda pretendemos fazer". A saber: isso, aquilo e aquilo outro. Tópicos de uma nova agenda capaz de atrair uma nova esquerda e de agradar aqueles à procura de uma ideologia.




NA VÉSPERA DA instalação do congresso, a propósito de meios para financiar campanhas, Jaques Wagner, ministro da Defesa, disse que o PT não é melhor do que os outros. Portanto, não deve recusar dinheiro de empresas privadas. Ora vejam! O PT, que há 12 anos se apresentava como um partido diferente dos outros, suplica, agora, para ser tratado, pelo menos, como igual aos outros.




18 de junho de 2015

Ricardo Noblat. O Globo

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