Recusado no congresso nacional do PT o rompimento com o PMDB, porque os petistas não têm condições políticas neste momento para bancá-lo, continuaremos a sentir na pele o desgaste do relacionamento entre os dois maiores partidos do país, ambos tentando encontrar caminhos próprios para o grande embate em 2018.
As eleições municipais do próximo ano serão presumivelmente o marco da separação nada amigável dos dois partidos que sustentam o governo Dilma, com o PMDB se fortalecendo nas bases e o PT vendo desmoronar sua estrutura municipal.
O PMDB foi o partido que mais elegeu prefeitos em 2012, conquistou 1.024 das 5.568 prefeituras em disputa (18,4% do total). Em seguida aparecem PSDB (12,6% do total), PT (11,4%), PSD (8,9%), PP (8,42%) e PSB (7,9%). O PT foi o que mais recebeu votos para prefeito, devido especialmente à boa votação que o candidato eleito Fernando Haddad obteve em São Paulo.
Hoje, já não é provável a reeleição de Haddad, e a decadência do PT pode ser constatada a olhos vistos. A união com o PMDB vai sendo levada aos trancos e barrancos para não antecipar a debacle completa, mas a maneira de manter essa política de coalizão está cada vez mais decadente.
Disse Paulo Okamotto, o primeiro amigo do ex-presidente Lula, que sua convocação para depor na CPI da Petrobras faz parte da "luta política" para debilitar o ex-presidente. Até é isso mesmo, embora existam fatos concretos a serem apurados em relação às doações extemporâneas da empreiteira Camargo Correa ao Instituto Lula.
Mas a explicação para terem desandado as medidas de proteção ao líder máximo do PT são mais prosaicas: Hugo Motta, o jovem velho presidente da CPI, disputa com um companheiro de partido a indicação do chefe da delegacia do Ministério da Pesca na Paraíba, estado onde os dois fazem política. E que política! O que será que eles veem de tão importante nessa delegacia regional da Pesca?
E tem mais: Motta, fiel seguidor de Eduardo Cunha (ora, por quem sois!!) estaria apenas pegando uma rebarba na vingança de seu líder contra o governo, que ameaça vetar emendas a uma medida provisória do PIS/Confins que beneficiam empresas.
Há fantasmas do PMDB por todo lado. Às vésperas de uma votação no Tribunal de Contas da União (TCU) que pode definir a sorte das pedaladas do governo Dilma, abrindo as portas para que a oposição volte a insistir no pedido de impeachment, agora baseado em decisão concreta de crime contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, o governo tenta reunir forças, e o ex-senador do PMDB Vital do Rego é um dos votos a serem conquistados.
Ele tem diversos apadrinhados pelos escalões governamentais, que estavam excitando a cobiça de seus colegas ainda na ativa. Com a súbita importância estratégica do TCU no momento, Vital do Rego resolveu não abrir mão de suas indicações.
Por fim, há um movimento forte dentro do governo para fingir que não aconteceu a tentativa mal sucedida do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, de tirar poderes do vice Michel Temer na coordenação política.
Esse avanço de Mercadante na área que agora é do PMDB causou sérios conflitos internos, e acelerou o previsível distanciamento entre as duas legendas, rumo a caminhos distintos nas eleições de 2016 e 2018.
Não é à toa, portanto, que o ex-presidente Lula está lançando a ideia de um amplo arco de esquerda para apoiá-lo para presidente em 2018, caso vislumbre condições de vencer. O tal arco esconderia a sigla PT, que de resto já foi escondida na campanha de 2014, e serviria para dar pelo menos uma aparência de consistência à coalizão eleitoral que não deverá contar com o PMDB e outras siglas que hoje estão na base aliada.
Parece outro tiro no pé, pois o eleitorado brasileiro, mostram pesquisas e estudos acadêmicos, não é de esquerda. Lula só chegou ao Palácio do Planalto quando deu uma guinada para o centro, aceitando com muita satisfação qualquer apoio da direita que aparecesse.
18 de junho de 2015
Merval Pereira, O Globo
As eleições municipais do próximo ano serão presumivelmente o marco da separação nada amigável dos dois partidos que sustentam o governo Dilma, com o PMDB se fortalecendo nas bases e o PT vendo desmoronar sua estrutura municipal.
O PMDB foi o partido que mais elegeu prefeitos em 2012, conquistou 1.024 das 5.568 prefeituras em disputa (18,4% do total). Em seguida aparecem PSDB (12,6% do total), PT (11,4%), PSD (8,9%), PP (8,42%) e PSB (7,9%). O PT foi o que mais recebeu votos para prefeito, devido especialmente à boa votação que o candidato eleito Fernando Haddad obteve em São Paulo.
Hoje, já não é provável a reeleição de Haddad, e a decadência do PT pode ser constatada a olhos vistos. A união com o PMDB vai sendo levada aos trancos e barrancos para não antecipar a debacle completa, mas a maneira de manter essa política de coalizão está cada vez mais decadente.
Disse Paulo Okamotto, o primeiro amigo do ex-presidente Lula, que sua convocação para depor na CPI da Petrobras faz parte da "luta política" para debilitar o ex-presidente. Até é isso mesmo, embora existam fatos concretos a serem apurados em relação às doações extemporâneas da empreiteira Camargo Correa ao Instituto Lula.
Mas a explicação para terem desandado as medidas de proteção ao líder máximo do PT são mais prosaicas: Hugo Motta, o jovem velho presidente da CPI, disputa com um companheiro de partido a indicação do chefe da delegacia do Ministério da Pesca na Paraíba, estado onde os dois fazem política. E que política! O que será que eles veem de tão importante nessa delegacia regional da Pesca?
E tem mais: Motta, fiel seguidor de Eduardo Cunha (ora, por quem sois!!) estaria apenas pegando uma rebarba na vingança de seu líder contra o governo, que ameaça vetar emendas a uma medida provisória do PIS/Confins que beneficiam empresas.
Há fantasmas do PMDB por todo lado. Às vésperas de uma votação no Tribunal de Contas da União (TCU) que pode definir a sorte das pedaladas do governo Dilma, abrindo as portas para que a oposição volte a insistir no pedido de impeachment, agora baseado em decisão concreta de crime contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, o governo tenta reunir forças, e o ex-senador do PMDB Vital do Rego é um dos votos a serem conquistados.
Ele tem diversos apadrinhados pelos escalões governamentais, que estavam excitando a cobiça de seus colegas ainda na ativa. Com a súbita importância estratégica do TCU no momento, Vital do Rego resolveu não abrir mão de suas indicações.
Por fim, há um movimento forte dentro do governo para fingir que não aconteceu a tentativa mal sucedida do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, de tirar poderes do vice Michel Temer na coordenação política.
Esse avanço de Mercadante na área que agora é do PMDB causou sérios conflitos internos, e acelerou o previsível distanciamento entre as duas legendas, rumo a caminhos distintos nas eleições de 2016 e 2018.
Não é à toa, portanto, que o ex-presidente Lula está lançando a ideia de um amplo arco de esquerda para apoiá-lo para presidente em 2018, caso vislumbre condições de vencer. O tal arco esconderia a sigla PT, que de resto já foi escondida na campanha de 2014, e serviria para dar pelo menos uma aparência de consistência à coalizão eleitoral que não deverá contar com o PMDB e outras siglas que hoje estão na base aliada.
Parece outro tiro no pé, pois o eleitorado brasileiro, mostram pesquisas e estudos acadêmicos, não é de esquerda. Lula só chegou ao Palácio do Planalto quando deu uma guinada para o centro, aceitando com muita satisfação qualquer apoio da direita que aparecesse.
18 de junho de 2015
Merval Pereira, O Globo
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