Dilma Rousseff, sem equipe, está simplesmente paralisada |
Por estratégia de sobrevivência, Getúlio Vargas, quando de sua segunda passagem pelo governo, a partir de janeiro de 1951, havia nomeado um ministério conservador, até reacionário. Para compor-se com as forças que não aceitaram sua volta ao poder, nomeou Horácio Lafer para a Fazenda e Ricardo Jafet para o Banco do Brasil. O primeiro dominava a economia paulista e nacional em nome dos ricos. O outro comandava os bancos privados em seu próprio nome e dos banqueiros. Por coincidência, um confronto entre a sinagoga e a mesquita, mas até que não se estranhavam tanto. Na Agricultura estava João Cleofas, usineiro de Pernambuco, inimigo da reforma agrária. Nas Relações Exteriores, João Neves da Fontoura, mais americanista do que qualquer inquilino da Casa Branca.
Segundo o magnífico livro recém-lançado sobre a vida de Tancredo Neves, do jornalista José Augusto Ribeiro, o então deputado por Minas era com frequência convocado para análises da conjuntura. Não teve receio de escandalizar o presidente dizendo que sua eleição o tinha caracterizado como líder de massas, mas seu ministério privilegiava os tubarões. Surpreso, Vargas reclamou que jamais alguém havia falado assim com ele, mas no fundo, concordou e mais tarde nomeou Tancredo ministro da Justiça.
Por conta das pressões de dentro e de fora, o velho caudilho praticava dois regimes de trabalho. Às tardes recebia os ministros, em escalas semanais que rotineiramente levava todos ao seu gabinete, para despachos. Só que pelas manhãs, em segredo, reunia no palácio do Catete, com gabinete ao lado do seu, uma equipe encarregada de formular grandes projetos nacionalistas e sociais que caracterizariam sua passagem pelo poder.
Romulo de Almeida, Jesus Soares Pereira, Cleantho de Paiva Leite e outros criaram a Petrobras, o Plano Nacional do Carvão, a extensão das leis trabalhistas ao homem do campo, a Reforma Agrária, a Eletrobras e tantas mais propostas imprescindíveis à nossa afirmação . Algumas não saíram do papel, dada a reação nacional e internacional contra nossa independência. Com os setores empenhados em destituí-lo do poder, Getúlio acabou optando por passar da vida para entrar na História como forma de protesto inusitado, sublime e eficaz. Graças a ele fincaram-se as estacas do progresso, muitas já erigidas em seu primeiro governo.
LIÇÃO A TIRAR
Por que se recordam aqueles idos dramáticos, parte da crônica ainda inconclusa do Brasil? Porque a lição a tirar é de que junto com a acomodação às forças dominadoras das elites, sempre será possível avançar no sentido contrário, em se tratando de governos representativos dos anseios da soberania nacional e da população.
Falta à presidente Dilma, como faltou ao Lula, essa equipe instalada na sombra, capaz de contrabalançar o jogo dos poderosos e conquistar os espaços necessários à plenitude do nosso desenvolvimento econômico e social. Se determinadas medidas favoráveis às elites são inevitáveis à sobrevivência até física dos governos populares, é preciso trabalhar no reverso da medalha, elaborando a verdadeira face do futuro.
Coisa esquecida especialmente por Madame. Sem alternativa que não seja o assistencialismo necessário mas inócuo, estamos condenados à recessão e à paralisia como nação, trazendo como resultado a impopularidade, a indignação, a rejeição e a revolta. Porque faltam aos governos do PT iniciativas para contrapor-se ao aumento de impostos, à elevação de taxas e tarifas, ao sacrifício do trabalhador e dos assalariados, à redução de investimentos sociais, ao desemprego e demais maldades urdidas pelos mesmos de sempre.
05 de maio de 2015
Carlos Chagas
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