Segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, é preciso investigar o “lobby para o PT” porque isso ainda não está claro para a Polícia Federal e integrantes da força-tarefa do Ministério Público.
O lobista Milton Pascowith, que atuava para várias empresas, entre elas a Engevix, repassou R$ 1,4 milhão para a JD Consultoria, empresa do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, de acordo com dados da Receita Federal. O vice-presidente da Engevix, Gérson Almada, afirmou que fez doações oficiais ao PT indicadas pelo lobista, inclusive para ter bom relacionamento com a Petrobras e o partido. “Por que esse filtro? Precisamos saber qual o objetivo dessas doações”, disse Carlos Fernando, em entrevista coletiva na manhã de hoje, na Superintendência da PF em Curitiba. “Se são lavagem de dinheiro ou só doações, ainda vamos ver.”
Em nota, a assessoria de Dirceu disse que o dinheiro para Pascowith se referia a serviços para a Engevix, mas a empreiteira nega contratado os serviços especificamente nesse caso. Almada disse que todos os pagamentos aos lobista eram atividades de representação, e não se tratava de propina. “O que ele chama de lobby, nos chamamos de corrupção”, diz Carlos Fernando.
Em denúncia apresentada à Justiça, o Ministério Público disse que o então tesoureiro do PT João Vaccari Neto sabia que recebia doações eleitorais originadas em desvios da Petrobras. O petista virou réu por lavagem de dinheiro.
OPERADOR DA OPOSIÇÃO
As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público colidem com o argumento de parte dos deputados federais do PP de que não receberam dinheiro de corrupção do esquema da Petrobras. O grupo que fazia oposição aos ex-líderes da legenda na Câmara Mário Negromonte (BA) e João Pizzolati (SC) e assumiu a sigla afirma que não poderia receber propinas porque a operação era feita pelo doleiro Alberto Youssef, que não tinha contato com eles. Mas, segundo o próprio doleiro e o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, o grupo dissidente tinha seu próprio operador: Henry Hoyer.
O procurador Carlos Fernando, ele atuava para a “ala do partido que havia se rebelado”. Essa ala tinha entre seus líderes o deputado Aguinaldo Ribeiro (PB) e figuras como Jerônimo Georgen (RS). Segundo o Ministério Público, o objetivo era minar inclusive a tentativa de Youssef tornar-se o sucessor do ex-deputado José Janene (PR) na distribuição do dinheiro.
Ontem, Hoyer foi alvo de um mandado de buscas em seus endereços em Itanhandu (MG), onde nada de importante foi encontrado, e no Rio de Janeiro. No Rio, os policiais apreenderam documentos e localizaram munição de calibre 45, de uso restrito, um revólver 38, uma winchester e uma garrucha, segundo delegado regional de Combate ao Crime Organizado da PF, Igor Romário de Paula. Como não tinha registro das armas, Hoyer foi preso por porte ilegal de arma de fogo.
OBRAS DE ARTE
A Polícia Federal identificou ainda que Pascowith repassava valores para o ex-diretor de Engenharia da Petrobras Renato Duque por meio de obras de arte. Hoje, foram apreendidas 60 obras pela PF. Na casa do operador, foram 20 quadros e duas esculturas. Na casa de seu irmão, Adolfo Pascowith, alvo de mandado de condução coercitiva e busca, foram 40 quadros. Adolfo acabou sendo ouvido em sua casa, em São Paulo, e foi liberado pela PF.
Segundo Igor, o ex-diretor indicava a obra de arte para o operador, que a compra em espécie e repassava o quadro já registrado para o nome do ex-diretor da Petrobras. O delegado afirma que também havia repasses de dinheiro vivo para Duque. Pascowith não atuava apenas para a Engevix. Segundo Carlos Fernando, havia outras empresas, como a UTC Engenharia.
NAVIOS E SONDAS
A prisão de Pascowith é mais um reforço na intenção da PF, revelada pelo Correio em janeiro, de investigar a fundo o mercado de navios e sondas para exploração de petróleo. Isso porque Pascowith atuava para estaleiros, como o ligado à Engevix, o ERG, no Rio Grande do Sul. Além disso, Paulo Roberto Costa disse que todas as diretorias – inclusive a de Exploração e Produção – negociavam propina de 3% com as empreiteiras. Entretanto, não surgiram, ao menos até o momento, provas ou simples acusações de que ex-diretores da área e exploração tivessem recebido propinas.
23 de maio de 2015
Eduardo Militão
Correio Braziliense
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