“Como fundador e alguém que militou durante 35 anos nesse partido, quero dizer o seguinte: nunca vi uma reunião do PT tão esvaziada quanto ontem, quando se anunciava que o Lula viria. E tão esvaziada quanto hoje, quando no passado as pessoas disputavam o crachá para estar aqui presente.” Foi assim que Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República e um dos principais formuladores petistas abriu sua participação no segundo dia do Congresso Estadual do PT de São Paulo.
Cercado por cadeiras vazias e uma militância que misturava lamúria, raiva e críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff em suas manifestações, Garcia teceu uma análise fria sobre o que cenário político. Para ele, há a “absoluta convicção de que encerramos um ciclo importante da nossa história”. “Nós vivíamos um momento de ganha-ganha. Todos podiam ganhar, os trabalhadores, os pobres, as classes médias, até os industriais e banqueiros. Havia um reordenamento da economia brasileira que permitia que todos ganhassem. Acabou. Não há mais essa possibilidade”, disse.
DECIFRAR A SOCIEDADE
Para Garcia, o PT precisa se esforçar para decifrar a sociedade que emergiu após 12 anos do país sob o comando do partido. “É ilusório pensar que quem saiu da situação de miséria, de pobreza, vai se ajoelhar diante do PT e agradecer. Eles passam a ter novas demandas, novas reivindicações”, avaliou.
Integrante do governo, Garcia foi sutil nas críticas, mas não deixou de pontuar a insatisfação da militância com o ajuste fiscal imposto pelo governo. Para ele, a dificuldade que Dilma já era um sintoma claro do desgaste do partido com a sociedade brasileira.
“As classes dominantes estão em clara ruptura conosco e, se não tomarmos cuidado, parte da nossa base social histórica também estará”. Ele afirmou que a militância precisa “empurrar” o governo de volta a seus compromissos históricos.
“Temos que propor, no imediato, que essas correções que estão sendo feitas do ponto de vista fiscal possam efetivamente permitir que daqui uns poucos meses meses nós estejamos com este problema resolvido e que possamos então aplicar políticas que são aquelas que vão garantir ao segundo governo Dilma, uma qualidade, uma força, uma transformação importante”, afirmou.
PLANO LEVY
Após a fala de Garcia, militantes de diversos segmentos, tomaram o microfone. Chamado por eles de “plano Levy”, numa referência ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o ajuste fiscal foi duramente criticado. Representantes da CUT convocaram a militância à aderirem à proposta de greve geral, no próximo dia 29.
“Esse PT que está aí, parte dele não é nosso”, disse o presidente da CUT em São Paulo, Adi dos Santos Lima. “A bancada do PT está perdida, porque a agenda [do governo] é uma agenda que confronta o direito do trabalhador. Nós precisamos reagir. Quando mexe com direito, nós precisamos reagir”, concluiu.
A demissão do ministro e pedidos de suspensão do ajuste fiscal foram demandas recorrentes. “Cada uma das medidas anunciadas é inaceitável. 500 mil trabalhadores perderam o emprego, esse é o plano Levy”, disse um filiado à CUT. “O plano Levy é um ataque a todos os trabalhadores, é um ataque à nação”, disse outro.
Vinculado ao diretório de Guarulhos, um petista foi além: “A Dilma precisa de muito beliscão. Se não der certo, tiramos ela e botamos o Lula de volta”.
24 de maio de 2015
Deu na Folha
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