"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 16 de maio de 2015

COMO NAVEGAR NOS DIAS DE HOJE

Para analisar a economia sem se perder, é preciso procurar identificar as tendências de longo prazo

Volto a um tema que tem sido recorrente nas minhas colunas na Folha: como olhar para o futuro em dias de grande turbulência e incertezas como os de hoje?

Uma das alternativas é centrar a atenção nos chamados dados de alta frequência. São informações que aparecem na mídia, quase que diariamente, sobre inflação, resultados fiscais e uma série de outros indicadores econômicos.

Quem escolhe essa forma de acompanhar a economia equipa- ra-se a alguém perdido em uma floresta de eucaliptos, tentando encontrar o caminho de volta, olhando apenas para as árvores. Corre o risco de andar em círculo e, depois de muito esforço, voltar ao início de sua procura.

Outra alternativa é fugir do dia a dia dos canais de informação e procurar identificar as tendências de mais longo prazo que se escondem nos dados de alta frequência. Para tal, o analista precisa desenvolver talentos de outra ordem, que incorporam o conhecimen- to cientifico e a experiência de momentos passados. Essa é a for- ma que tenho procurado exercitar neste confuso período do início do segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff.

Desde o começo do trabalho do ministro Joaquim Levy, sabíamos que a brusca freada dos gastos do governo --e do crédito dos bancos públicos-- nos levaria a uma recessão econômica. Também estava claro, para os que compreenderam seus objetivos, que haveria uma inflação corretiva no segmento dos preços do setor público e que a desvalorização do real impactaria os preços de uma grande cesta de preços do setor privado.

Respondendo a esse choque inflacionário, o Banco Central tornaria sua política de juros mais altos ainda mais agressiva. Afinal a redução da inflação é uma busca evidente no planejamento do governo para recuperar seus índices de apoio popular.

Como resposta a esse conjunto de medidas, o mercado de trabalho passaria a funcionar com taxas de desemprego bem mais elevadas e com os salários sofrendo perdas reais importantes. Taxas de desemprego muito baixas estavam no centro da aceleração inflacionária dos últimos anos, aliás como ensina a teoria econômica.

Ou seja, um cenário difícil, com as empresas e as instituições financeiras pisando nos breques e reforçando a queda da atividade econômica e dos investimentos. Dois fatores adicionais tornaram o quadro ainda mais perverso: a falta de confiança na perenidade da nova política econômica e o escândalo da Operação Lava Jato.

Vivemos hoje um período em que a credibilidade no novo caminho trilhado pelo governo cresceu bastante. Esse fator faz com que a eficiência das medidas adotadas aumente e a possibilidade do sucesso do ajuste mude de patamar. O observador mais atento já pode sentir essas mudanças ao acompanhar as cotações das ações na Bovespa e a interrupção na histeria em relação à taxa de câmbio.

Mantida a disciplina do governo na implementação do receituário prescrito pelo ministro Levy, acredito que essa melhora nas expectativas deva se manter nos próximos meses e que as previsões para o ano novo, que serão feitas no fim de 2015, serão bem mais positivas ao nível macro.


16 de maio de 2015
Luiz Carlos Mendonça de Barros, Folha de SP

Nenhum comentário:

Postar um comentário