"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

FALTA ÁGUA? GOVERNO? INTELIGÊNCIA? CONSCIÊNCIA?


 
Já seria tempo das pessoas comuns, que pensam, participarem das discussões sobre a mais recente crise de água em parte do Brasil, especialmente no Sudeste, ao lado dos políticos, governantes e todos os especialistas na área.                                                                                    
Sabe-se que a natureza não dotou as diferentes regiões do mundo com a mesma disponibilidade de água doce. Foi generosa com umas. Cruel com outras. Zonas desérticas coexistem com outras onde há água em abundância.
 
Um dos lugares onde ela está com fartura é no Brasil. Mas nessa disponibilidade nada é estanque. Grandes são as modificações que aconteceram e acontecerão no futuro da crosta terrestre. A superfície total do Planeta (águas, terra e gelo) oscila muito, em todos as direções. Terras e águas se alternam em torno das mesmas coordenadas geográficas através dos diferentes tempos.
 
É tanta a modificação, que onde tem terra hoje pode ter havido água ontem, e vice-versa, o mesmo se aplicando no amanhã dos milênios. Mas não é exatamente essa a discussão a enfrentar. O foco em mente é mais limitado. Resume-se nos recursos hídricos naturais e os seus diversos tipos  de consumo, não no mundo, porém no Brasil, agora, na segunda década do Séc.XXI.
 
Com certeza não há no “mapa mundi” território mais privilegiado que o brasileiro no que pertine à disponibilidade natural de água doce, tanto superficial, quanto subterrânea. Especialmente a reserva do “Aquífero Guarani”, na metade Sul do país, tem “olho grande” do mundo inteiro.
 
Considerando o fato do espantoso crescimento da população mundial, que deu-se em ordem geométrica, muito acelerada, especialmente a partir da segunda metade do Séc.XX , e, por outro lado, o relativo “estacionamento” da quantidade dos recursos hídricos naturais fornecidos pela natureza através dos séculos, é evidente que a relação da “procura e oferta” desse produto precioso ficou alterada.
Enquanto a “procura”aumenta, a “oferta” fica no mesmo nível. Nem com toda a tecnologia do mundo o homem conseguiria alterar substancialmente essa relação. Das máquinas das suas fábricas poderá sair qualquer produto, exceto  vida e água. E sem água não poderá haver vida em qualquer ponto do universo. Mas parece que no mundo “humano”essa verdade não causa muita apreensão.
 
Para melhor avaliação do problema, deve-se ter em mente, num primeiro momento, o fato de que a população mundial DOBROU, passando  de um bilhão de pessoas, em  1800, para dois bilhões em 1927. Ou seja, passados  127 anos, cresceu  somente 100%. Daí em diante foi um crescimento muito maior, espantoso. Em 2014 estava em 7 bilhões. Calcula-se que no fim do Século XXI, a população mundial passe a ser de 12 bilhões.
Isso significa que em menos de um século, ou seja, passados tão só  87  anos, o mundo recebeu mais 5 bilhões de “filhos”, passando de 2 bilhões, em 1927, para 7 bilhões, em 2014. Demorou, por conseguinte, 127 anos (de 1800 a 1927) para DOBRAR, e 87 anos (de 1927 a 2014) para QUADRIPLICAR.  Mas o “azar”é que toda essa gente também passou a precisar de água. Para beber, lavar, irrigar suas plantações e mil outras necessidades e utilidades.
 
Esse cálculo, com certeza, pode ser estendido às  necessidades de consumo de água, para todos os fins. O crescimento populacional é enorme e a oferta  de água natural estacionária.
 
Mas a água tem mil e uma utilidades. A potável, para beber, ainda é o menor dos problemas. Se todas as pessoas do mundo bebessem os dois litros diários recomendados pelos médicos e nutricionistas, seriam necessários 14 bilhões de litros/dia. Ora, isso é “mixaria” se relacionado ao volume ofertado pela natureza. O grande problema está mais nos “outros” consumos, ou seja, na água  não-potável utilizada para fins diversos. Ocorre que muita água potável é desperdiçada. E a potabilização, ou purificação, desse líquido custa muito dinheiro. As redes de distribuição se encarregam de jogar fora muita água potável, principalmente  por falta de manutenção. Esse desperdício é dinheiro público jogado no lixo, pois a água vai embora, apesar de  “enriquecida” com  produtos químicos caros nas estações de tratamento.
 
Mas a carência de consciência da maioria dos consumidores acaba emparelhando com a incapacidade governamental  frente ao problema. Não se sabe quem tem mais ou menos culpa. Mais parece uma “guerra” .  Uma guerra “equilibrada”. O desperdício domiciliar mais se deve à falta de consciência do consumidor em economizar água e evitar o excesso de consumo e desperdício  sem o devido aproveitamento.
 
Nessa estupidez, o consumidor tem a fiel parceria dos políticos, governantes e  autoridades responsáveis pelo abastecimento público de água. Essa “parceria” está em dois aspectos. O primeiro é o baixo custo da água para consumo humano, que estimula os excessos  desnecessários e desperdícios domiciliares. O segundo está na dispensado PODER DE POLÍCIA que tem a Administração Pública. Na verdade ela está se “lixando”para o que acontece com a água.
 
O Governo tem o papel e  a caneta na mão para  disciplinar a área e impor medidas junto aos fabricantes de produtos hidráulicos. A maioria não é nada “inteligente”, sem nenhuma visão e consciência sobre o enorme problema. Os mais “baratos” são os piores, os que mais jogam água fora. Se o Governo se preocupasse em ver esse problema de perto, iria se espantar. Concluiria que o problema está mais no desperdício do que na oferta. Tudo por ausência de consciência e inteligência. Do Governo e do consumidor.
A produção e o consumo de água purificada deveria tomar algumas lições lá na “Coca-Cola”. Começa pelo fato de que ninguém desperdiça o refrigerante, tanto na produção, quanto na  distribuição e hora do consumo. É que “ele” custa caro. Se a água fosse mais cara, não haveria  tantos problemas como existem hoje. A água é barata e, por isso, desperdiçada. Claro que não quero dizer com isso que a água para beber deva custar o mesmo que a “Coca-Cola”. A referência foi tão somente para fins de ajudar no raciocínio.
 
Mas o maior volume de água da natureza utilizado para “fins humanos” não passa pelas estações de limpeza e purificação das águas para ser distribuída. Esse maior volume é colhido diretamente nas fontes naturais  (rios, barragens, lagos, lagoas, açudes, etc) para irrigar as plantações, e  abastecer a pecuária e indústria. Essa água é “grátis”, o que também favorece o desperdício. E como o crescimento das suas necessidades se iguala, ou até supera, à da  água potável, e estas duas, em conjunto, se equivalem ao aumento em ordem geométrica da população mundial, é evidente a disparada vantagem que leva a PROCURA sobre a OFERTA de água potável e não-potável.
Importante é sublinhar  que na medida em  que crescem os pontos de captação de água na natureza,o volume da dita fonte decresce  em equivalente medida . Cada ponto de captação significa menos água na fonte de origem. Diversos rios chegam a  “secar”, ou quase, em razão das captações consentidas e clandestinas verificadas no seu curso, especialmente para uso da agricultura e indústria. É tão trágica a situação que às vezes chega a faltar água para as estações de tratamento e nas torneiras das residências. Trocando em miúdos:falta água para beber na rede de distribuição pública.
 
Aos olhos do mundo,certamente essa  crise de abastecimento de água no Brasil - considerado o paraíso das águas no Planeta Terra ,privilégio até invejado por outras nações - daria quase no mesmo que receber a informação que estaria faltando  “gelo” no Polo Norte, ou na Antártida,para os fins em que ele é  costumeiramente utilizado.
“Fechando” com o titulo escolhido para esse texto, certamente a crise hídrica no Brasil de hoje, notadamente no Sudeste, não decorre da FALTA DE ÁGUA, porém da combinação da incapacidade governamental, pouca inteligência e quase nenhuma consciência do consumidor para enfrentar  esse grave problema.
 
E não é muito diferente a situação referente às tradicionais zona de “seca”, situadas  no Nordeste. Aí o quadro é muito mais grave, pois os responsáveis tiveram “um século” para resolver e quase nada foi feito, apesar dos vultosos  e inúteis recursos públicos carreados para a região, conhecidos pelo povo da região como “indústria da seca”.
 
27 de fevereiro de 2015
Sérgio Alves de Oliveira é Sociólogo e Advogado.

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